A importância do associativismo e da organização do setor produtivo foram aspetos focados em praticamente todas as comunicações apresentadas nas conferências integradas nas 15as Jornadas Internacionais do Hospital Veterinário Muralha de Évora, assim como, o papel da pecuária extensiva enquanto ferramenta fundamental no ordenamento do território, combate aos incêndios e coesão do mundo rural. O evento que decorreu nos dias 1 e 2 de março, reuniu mais de 800 agentes do setor para discutirem os novos desafios que Portugal enfrenta numa Europa a 27.

Em Portugal o associativismo começa a ganhar importância junto dos produtores pecuários, mas há, ainda, um longo caminho a percorrer. A indústria e a distribuição estão organizadas e, talvez por essa razão, fiquem com a grande fatia na equação de valor, dado que o agricultor trabalha, ainda, de forma independente. Humberto Rocha, da PROMERT, destacou durante a sua intervenção, por isso, a importância de “desenhar um animal” e organizar a produção, através do aumento da produção de proteína animal diferenciada pelas suas características sensoriais validadas e reconhecidas, destinada ao mercado interno e externo. Lideranças fortes e dedicadas nas associações onde os produtores ganham escala e aumentam o seu poder negocial foi outro tema amplamente discutido. Manuela Jorge, diretora geral da AGRO.GES, falou na importância do setor primário que vai muito para além da produção de alimentos para consumo. “Parece-me fundamental agrupar os produtores e quantificar o papel do agricultor em outros aspetos como a limpeza do território, o povoamento do interior, a manutenção da paisagem, em suma, todo o papel que o agricultor desempenha e para o qual não é remunerado”, acrescentou a responsável. Em Espanha, apesar de não existir uma cultura agrária turística como em Portugal, há uma aposta em campanhas de comunicação que promovem o orgulho e o propósito social em ser agricultor. Há que comunicar corretamente o mundo rural.

João Ferreira, produtor pecuário e vencedor do prémio “Inovar na Pecuária Extensiva 2023”, alertou para a importância de tornar o consumo da carne de bovino uma experiência.

“Temos de entregar uma carne que vá ao encontro de um consumidor exigente. Estamos a entregar uma raça, uma história de vida daquele animal que nasceu naquele local e que foi alimentado e tratado respeitando as boas práticas de maneio e o ambiente”, acrescentou João Ferreira

Ver exemplos de sucesso de modelos organizados na ótica da produção, como é o caso da Irlanda e da Polónia, e repensar a PAC no sentido de estipular os sistemas de produção mais adequados a cada território foram dois reptos deixados aos congressistas.

Ver exemplos de sucesso de modelos organizados na ótica da produção, como é o caso da Irlanda e da Polónia, e repensar a PAC no sentido de estipular os sistemas de produção mais adequados a cada território foram dois reptos deixados aos congressistas.

Cruzando a agricultura com a cultura, as XV Jornadas tiveram patente uma exposição de escultura intitulada “Bestiário Fraterno” assinada por Maria Leal da Costa e uma exposição de peças de design em Lã com o objetivo de valorizar esta matéria-prima natural com características únicas.

Nuno Prates, presidente da Comissão Organizadora das Jornadas, destacou a necessidade de união dos produtores pecuários para se fazerem ouvir a uma só voz e terem a força que merecem, sendo este um congresso impulsionador do associativismo em Portugal que contou este ano com mais de 800 participantes.

Estratégia para a valorização da Lã em debate na “Wool Conference 2024”

Ouvir quem produz e valorizar o potencial comercial e ambiental da lã foi o objetivo central desta conferência que juntou à mesa industriais do setor, designers, associações e produtores de ovinos. A conferência foi organizada pela Associação Nacional de Criadores de Ovinos Merino, a ANCORME. Integrada nas XV Jornadas Internacionais do Hospital Veterinário Muralha de Évora, esta foi uma oportunidade para a valorização desta fibra natural, que começa na ovelha e termina na camisola. Tiago Perloiro, secretário técnico da ANCORME, referiu a importância do encontro que juntou alguns dos maiores especialistas no setor da Lã a debaterem as últimas tendências e inovações tecnológicas utilizadas na produção e transformação desta fibra natural. A “Wool Conference” voltará a realizar-se em 2026.

→ Mais desenvolvimento na Revista Voz do Campo: edição de abril 2024