As Doenças do Lenho da Videira (DLVs) são consideradas altamente destrutivas nas vinhas, resultando na elevada mortalidade das plantas (Fontaine et al., 2016). A complexidade das DLVs envolve várias espécies de fungos, causadores das principais doenças: pé-negro, doença de Petri, esca, eutipiose e botriosferiose. A infeção do material de propagação vegetativa em viveiros é um dos fatores que muito contribui para a sua disseminação. Adicionalmente, a falta de medidas regulatórias destinadas ao controlo das DLVs, quer por falta de informação relacionada com a diversidade de fungos que são causadores da doença, quer pela ausência de tecnologias de deteção expeditas, levaram ao incremento significativo da incidência das DLVs a nível mundial. Os métodos e protocolos usados para identificação das DLVs são atualmente limitados/dispendiosos (Azevedo-Nogueira et al., 2022).

Com os avanços nas tecnologias de sequenciação de DNA, vários genomas de patógenos têm sido sequenciados, proporcionando uma base mais alargada para encontrar marcadores moleculares que sejam específicos de cada patógeno. Paralelamente, o desenvolvimento de diversas técnicas baseadas na Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) que permitem a identificação dos patógenos, tem possibilitado um “screening” mais fidedigno das doenças nas plantas. Contudo, a sua aplicação é pontual, por implicar uma amostragem destrutiva e as técnicas serem morosas e dispendiosas (Pouzoulet et al., 2013). O uso de abordagens baseadas em DNA, como o PCR em tempo real e análise de “High Resolution Melting” (HRM), destaca-se pela sensibilidade e especificidade dos métodos (Chen et al. 2013).

Apesar dos avanços já alcançados nesta área, a deteção de patógenos ainda é predominantemente laboratorial. A pesquisa de dispositivos portáteis, que sejam transversalmente aplicados, ainda é um desafio. O projeto TrunkBioCode propõe uma tecnologia inovadora baseada em nanopartículas, derivadas de resíduos biológicos (Gonçalves et al., 2019), que serão utilizados para desenvolver um sistema portátil, económico e eficiente para a deteção e quantificação de DNA dos patógenos, visando facilitar o uso por não especialistas.

Objetivos e plano de trabalho

As DLVs são atualmente consideradas das doenças mais destrutivas e economicamente relevantes na Europa e no mundo, o que se deve, principalmente, ao facto de não existir um tratamento curativo. O objetivo do TrunkBioCode é desenvolver uma abordagem inovadora e “bottom-up” visando o diagnóstico da presença de agentes patogénicos do complexo das DLVs em material vegetal, tendo por base o DNA. Para tal, duas estratégias serão seguidas, com dois níveis distintos de aplicação: o primeiro em contexto laboratorial e o segundo “in loco” (testes na vinha). O plano de trabalho contempla uma ação conjunta de 5 Parceiros (UTAD, REQUIMTE, ISA, CSIC-ICVV e FCUL), reunindo o conhecimento base de diferentes áreas de investigação que são fundamentais para o sucesso do projeto.

Os objetivos do projeto incluem:

Definir estratégias e protocolos de amostragem: estabelecer esquemas de amostragem para reconhecimento preciso dos fungos envolvidos, evitando os falsos positivos/negativos;

Identificar as DLVs predominantes em vinhas portuguesas;

Estabelecer um kit de referência dos patógenos associados com as DLVs;

Validar biomarcadores das DLVs;

Desenvolver e validar ensaios baseados na tecnologia de HRM (PCR) para identificar e quantificar os fungos presentes;

Construir um dispositivo portátil para deteção/identificação “in loco” de alguns patógenos associados às DLVs (Gonçalves et al., 2019) (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de abril 2024

Financiamento

Fundação da Ciência e Tecnologia através do projeto “Plataformas de Diagnóstico aplicadas às Doenças do Lenho em Videira” referência PTDC/BAA-DIG/1079/2020 (http://doi. org/10.54499/PTDC/BAA-DIG/1079/2020).

Autoria: Paula Martins-Lopesa,b *, Juliana Lopesa,b , Filipe Azevedo-Nogueiraa,b , Ana Gasparc , Filomena Adegaa,b , Raquel Chavesa,b , Marita Cardosoa,b , Helena Rodrigues Gonçalvesd , Rute Amarob, Ana Margarida Fortesb , David Gramajee, Cecília Regoc

a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Escola das Ciências da Vida e do Ambiente, Vila Real, Portugal

b BioISI – Instituto de Biosistemas e Ciências Integrativas, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, 1749-016, Lisboa, Portugal

c LEAF – Linking Landscape, Environment, Agriculture and FoodResearch Center, Associated Laboratory TERRA, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal

d REQUIMTE, Instituto Superior de Engenharia do Porto, 4200-072 Porto, Portugal

e Institute of Grapevine and Wine Sciences (ICVV), Spanish National Research Council (CSIC), University of La Rioja and Government of La Rioja, 26007 Logroño, Spain

*autor correspondente: plopes@utad.pt