Aumentar o conhecimento sobre o azeite, sobre a riqueza e diversidade da sua cultura e do património nacional olivícola, criar rotas e um Marketplace, e trabalhar em rede são essenciais para garantir desenvolvimento do Olivoturismo em Portugal.

. Futuro depende de melhores políticas dirigidas ao setor e que impulsionem a promoção da economia circular

. Portugal ocupa lugar de destaque na lista dos países com maior produção de azeite em todo o mundo e prima pela qualidade

. Flexibilizar as regras e avançar com a organização interprofissional do setor é vital para o desenvolvimento da internacionalização do negócio

. Olival é determinante para acelerar e garantir neutralidade carbónica e o seu contributo para alcançar as zero emissões deve ser valorizado como forma de rentabilizar o setor

. Ação climática é uma questão de negócio que envolve também uma componente social e que requer mais e melhor comunicação

O Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL) levou a cabo a 7ª edição do Congresso Nacional do Azeite organizado em parceria com a Câmara Municipal de Valpaços, no âmbito da Feira Nacional de Olivicultura – Olivalpaços. O  mais importante fórum nacional de debate e esclarecimento, grande ponto de encontro para os profissionais da área, fonte de partilha de conhecimento e  divulgação de informação sobretudo técnica, que este ano contou com a presença do Ministro da Agricultura e Pescas, reuniu mais de 200 profissionais do setor e mais de 20 reputados oradores e especialistas nacionais e internacionais em torno do debate de 3 grandes temas: Olivoturismo/Oliturismo, uma realidade; o Preço do Azeite: Mitos e Tabus; e as Alterações climáticas, o futuro hoje.

O programa do Congresso incluiu uma sessão de abertura a cargo do Presidente do CEPAAL, do Presidente da Cooperativa de Olivicultores de Valpaços e do Presidente da Câmara de Valpaços, várias mesas redondas, apresentações e uma keynote estruturadas em torno de 3 grandes painéis dedicados aos temas: Olivoturismo/Oleoturismo, uma realidade; o Preço do Azeite: Mitos e Tabus; e as Alterações Climáticas, o futuro hoje. A sessão de encerramento foi presidida pelo Ministro da Agricultura e Pescas e contou com a presença do Presidente da Câmara de Valpaços e do Presidente da CAP.

Olivoturismo é nova oportunidade de valorização da marca Portugal

Javier Olmedo Hernandez da Fundácion del Olivar – Museu Terra Oleum, deu início ao primeiro painel, dedicado ao tema do Olivoturismo/Oleoturismo, uma realidade, com uma apresentação que deu a conhecer o seu emblemático projeto construído em torno da promoção do universo do azeite e as suas várias iniciativas, entre as quais se incluem a ExpoOliva da Andaluzia que irá ter mais uma edição em 2025; um espaço de Museu que se integra na rede de museus da Andaluzia e que é fundamental para promover o azeite e impulsionar o olivoturismo. ao mesmo tempo que propicia conhecimento e experiências sensoriais: o Prémio Oleoturismo EXPOLIVA; o POOLred (uma plataforma/sistema de informação dedicado aos preços do azeite e com alcance mundial); o Intra Panel; vários Congressos; estudos; ações de formação e de sensibilização; etc.

Seguiu-se uma mesa redonda, moderada por Gonçalo Morais Tristão, Presidente do CEPAAL e onde participaram Agostinho Peixoto, da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal (ERT); Ana Carrilho, do Esporão; Francisco Dias, do Instituto Politécnico de Leiria; Hugo Fonseca, da Quinta da Pacheca; Javier Olmedo Hernandez, da Fundácion del Olivar – Museu Terra Oleum; João Paulo Magalhães  da Quinta do Ventozelo; e José Santos, Presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e do Ribatejo. Os vários intervenientes enalteceram o papel do azeite na dieta portuguesa, que conjuga uma vertente mediterrânica e outra atlântica e sublinharam a necessidade de se criar uma estrutura, na construção da qual devem estar envolvidos os vários intervenientes públicos e privados, de modo a afirmar o olival nacional no contexto do turismo (o maior setor económico do mundo). Este esforço deverá incluir igualmente a modernização, a preparação e adequação do setor para esta nova oportunidade de valorização e de internacionalização da marca Portugal neste contexto. Alavancar e aumentar o conhecimento sobre o azeite, bem como sobre a riqueza e diversidade da sua cultura e do património nacional olivícola; criar rotas e um Marketplace para o olivoturismo como forma de tornar o setor mais rentável; apostar num turismo de qualidade em territórios marcadamente rurais, investindo de forma eficiente numa matriz que interligue serviços e regiões e trabalhar em rede, foram apontados como sendo os principais aspetos a ter em conta neste contexto.

Preços do azeite: é preciso encontrar equilíbrio, informar e comunicar

José Maria Penco, da Associación Española de Municipios del Olivo, abriu o segundo painel dedicado ao tema Preço do Azeite: Mitos e Tabus. Na sua apresentação, além de explicar quem é e o que faz a sua associação, debruçou-se aprofundadamente sobre os vários aspetos a ter em conta no processo de criação dos preços. Aquele responsável, que revelou que em 2023 em Espanha 61% do olival era de sequeiro e 39% de regadio, destacou a importância que pode ter um estudo sobre os custos do cultivo que contribua para determinar quais são mais adequados para cada cenário e que, simultaneamente, permita aferir a necessidade de alterar o sistema de cultivo existente e apurar os seus respetivos níveis de rentabilidade. Detalhando as várias componentes a ter em atenção na contabilização dos custos totais do azeite, José Maria Penco que sublinhou a importância do vasto espectro de valor do olival de montanha, defendeu que, a curto prazo, o azeite poderá ter uma valorização muito significativa e mais rápida nas áreas de negócio relacionadas com a saúde e a gastronomia. O responsável da Associación Española de Municipios del Olivo disse ainda que é vital apostar numa comunicação que privilegie a explicitação dos preços e das diferenças entre azeite, azeite virgem e virgem extra.

Seguiu-se uma mesa-redonda moderada por João Luís Peixoto de Sousa, Diretor do Jornal Vida Económica e na qual participaram Fernando Mourão Vieira, da Cooperativa de Olivicultores de Valpaços; Francisco Ataíde Pavão, da CAP; Javier Olmedo Hernandez, da Fundácion del Olivar – Museu Terra Oleum; José Duarte, da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos; e Ondina Afonso, do Clube de Produtores do Continente. Os participantes referiram que o aumento do preço do azeite que se tem vindo a registar está relacionado com o incremento significativo dos custos de produção e com o desequilíbrio entre a procura e a oferta, e adiantaram que possivelmente o preço do azeite, ainda que venha a diminuir, não será para valores semelhantes aos de há 3 ou 4 anos, sendo que o preço justo deverá situar-se entre os 6€/7€ por Kg de produção. Alertando para as diferenças entre as várias regiões produtoras de azeite, com o Alentejo onde prevalece o olival intensivo de regadio e a de Trás-os-Montes e Beira onde predomina o olival tradicional de montanha e de sequeiro que é não irrigado e não passível de mecanização, os painelistas debateram as fragilidades do olival de montanha agudizadas pela seca dos últimos anos, e que intensificaram ainda mais a sua fraca ou nula rentabilidade, urgindo decidir o que se vai fazer com este património e de que forma pode ser valorizado para não se extinguir. Neste contexto, concluiu-se igualmente que o grande desafio passa pela construção de uma rede nacional que aproveite a água das chuvas que é perdida para o mar e a redistribua de forma justa e equitativa. A resposta passará igualmente pela formação/educação sobre os preços e custos envolvidos na produção, pelo olivoturismo, pela comunicação do papel do olival na sustentabilidade ambiental e do seu inestimável contributo para a redução da pegada de carbono, bem como da sua sustentabilidade social e económica, a par da criação de melhores políticas dirigidas ao setor e da promoção da economia circular.

Fileira do azeite é um dos casos de maior sucesso empresarial de sempre de Portugal no mundo

Coube a Paulo Portas fazer a Keynote que encerrou os trabalhos da manhã, tendo salientado que o azeite é um dos casos de maior sucesso empresarial de sempre de Portugal no mundo. Aquele responsável, para quem a transformação do setor nos últimos anos na criação de valor é excecional, e em grande parte devido ao Alqueva – uma obra paradigmática que protegeu o país e a economia, revelou que Portugal ocupa lugar cimeiro na lista dos países com maior produção de azeite do mundo, destacando-se pela sua qualidade, e alertou para a importância de flexibilizar as regras e avançar com a organização interprofissional do setor. Apontando para a necessidade de tratar as alterações climáticas com realismo e considerando a economia, o keynote speaker chamou a atenção para a importância da Política Agrícola Comum – PAC (que corresponde à maior fatia do orçamento da EU) no contexto europeu, e defendeu que é vital desenvolver o mundo rural e o setor do azeite, mantendo a abertura no mercado europeu e evitando os protecionismos para garantirmos o futuro desta região e assegurarmos o seu papel no mundo.

Olival pode ter papel determinante para acelerar e garantir neutralidade carbónica

Filipe Duarte Santos, do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável abriu painel dedicado às Alterações Climáticas o Futuro Hoje, com uma apresentação que abordou a evolução do clima e o impacto dos mesmos no olival. Contextualizando nesta evolução a seca, a falta de água e os eventos climáticos extremos  – um problema global relacionado com as emissões de carbono que é preciso reduzir para alcançar a neutralidade carbónica e as zero emissões, aquele responsável defendeu que o futuro da olivicultura em Portugal passa pelo envolvimento do poder político, alinhado com os esforços dos agricultores e apoiado na capacidade científica de que a Europa em especial dispõe para mitigar a situação da emergência climática. Ainda segundo aquele responsável é preciso trabalhar na vertente da adaptação às alterações climáticas, porque os seus custos serão muito menores do que os da inação.

Seguiu-se uma mesa-redonda moderada por Teresa Silveira, do Público/Vida Económica, e na qual participaram Ignacio Lorite-Torres, da IFAPA- Junta de Andalucia; José Núncio da FENAREG: José Rato Nunes, da Escola Superior de Biociências de Elvas- Instituto Politécnico de Portalegre; Sandra Martinho, da Lasting Values; e Paula Batista do Instituto Politécnico de Bragança. Foi referida a importância que as direções regionais podem ter neste contexto ambiental e a dificuldade que é passar a mensagem da importância e papel da economia circular no olival, sendo essencial que academia, associações, empresas, agricultores e produtos se juntem e trabalhem em rede. Promoção da biodiversidade nos solos, incentivos ao pastoreio, agricultura de precisão, regra controlada, e caracterização da diversidade adaptada aos recursos hídricos foram apontados como alguns dos aspetos determinantes neste contexto. Sendo que o olival tem um importante papel a desempenhar na redução dos gases com efeito de estufa já que ajuda a diminuí-los, e como tal, este aspeto deve ser reconhecido e valorizado. Foi igualmente sublinhado que há um longo caminho a percorrer no que diz respeito à mitigação e que esta implica a adoção de instrumentos financeiros e da transformação do modelo económico, bem como de mais e melhor informação e de trabalho conjunto dos vários players, incluindo o setor financeiro e os seguros. Destacando a importância da valorização da biomassa residual e do impacto positivo da redução das emissões de carbono no aumento da eficiência da produção, o painel conclui também que a ação climática mais do uma questão de sustentabilidade é uma questão de negócio.

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