Entre as pragas e doenças da oliveira, as mais preocupantes em Portugal são a mosca-da-azeitona, a traça-da-oliveira, a cochonilha-preta da oliveira, a euzofera (pragas) e a gafa (doença).

As pragas e doenças da oliveira têm diferentes incidências consoante as variedades plantadas. Nos olivais sem a variedade ‘Galega’, olivais regados intensivos ou em sebe, além da gafa, as doenças mais relevantes são olho-de-pavão, tuberculose e cercosporiose. Recentemente, o agente patogénico americano Xylella fastidiosa tem também causado preocupação.

Conheça a lista dos principais inimigos da cultura da oliveira e também as suas características e impactes, com base no manual “Proteção Integrada da Cultura da Oliveira” da DGAV – Direção-Geral da Alimentação e Veterinária.

As principais pragas da oliveira e como a afetam

– A mosca-da-azeitona hiberna no solo, sob a copa das árvores e os adultos aparecem no final da primavera. As fêmeas depositam os ovos nos frutos em desenvolvimento (um em cada azeitona), que vão depois ser consumidos pelas larvas. Além de comerem a azeitona, os orifícios podem servir de entrada a outros agentes patogénicos.

– A traça-da-oliveira tem três gerações por ano que atacam órgãos diferentes. Os adultos surgem na primavera e fazem as posturas nos botões florais, que vão ser consumidos pelas larvas. Os adultos resultantes desta geração colocam os ovos nos frutos, onde as larvas se vão desenvolver e consumir o caroço da azeitona. Os adultos desta geração aparecem em meados de setembro e colocam os ovos nas folhas. As lagartas comportam-se como mineiras e vão consumir a página inferior da folha e, por vezes, os gomos terminais, afetando o crescimento de novas folhas.

– Os ataques de cochonilha-negra (ou cochonilha-H) não têm normalmente grandes consequências. As ninfas das cochonilhas fixam-se maioritariamente junto às nervuras centrais das folhas, onde se vão alimentar da seiva. Desta alimentação resulta uma “melada” que serve de substrato a fungos saprófitas, nomeadamente à fumagina (Pezizomycotina). Quando os ataques de cochonilha são mais intensos e há maior quantidade de melada, a fumagina, de cor enegrecida, pode interferir com a atividade fotossintética, respiratória e transpiratória da oliveira.

– A euzofera é uma borboleta de tons escuros que surge a partir de abril – maio. Põe os ovos em fendas da madeira, na zona de inserção dos ramos ou em feridas de poda e são as lagartas emergentes que vão causar os prejuízos. Quando eclodem, entram na árvore e desenvolvem-se na zona subcortical do tronco e dos ramos no interior da casca, bloqueiam a passagem de seiva que alimenta a árvore e podem, assim, levar à sua morte.

– A tripe-da-oliveira é um pequeno inseto preto, que se alimenta de folhas e rebentos, causando a sua deformação. As zonas das picadas, onde o inseto se alimenta, ficam deprimidas e com manchas claras. Em caso de ataque intenso, as folhas e os frutos podem cair, levando à desfolha dos ramos e a quebras na produção de azeitona e na qualidade do azeite.

– O algodão-da-oliveira é uma praga comum em olivais de zonas com temperaturas amenas e humidade relativa elevada. O nome vem do aspeto das colónias: as larvas alimentam-se da seiva e segregam filamentos cerosos que vão cobrir a colónia e formar uma camada semelhante a algodão nas folhas jovens e gomos. Embora também possa potenciar ataques de fumagina como a cochonilha, neste caso é a alimentação das ninfas e dos adultos, principalmente nos botões florais, que dá origem aos prejuízos.

– A traça-verde é um lepidóptero e os estragos que provoca são feitos pelas larvas. Os adultos são brancos e com asas semitransparentes, surgem em março – abril e colocam os ovos nas folhas. As larvas vão alimentar-se das folhas, dos rebentos e dos frutos. Adicionalmente, formam um casulo que vai unindo várias folhas com fios sedosos. Os prejuízos resultantes da diminuição do número de folhas (redução da área foliar) são mais significativos em viveiros e povoamentos jovens.

– O caruncho-da-oliveira é um pequeno inseto, de cor escura. É uma praga secundária, ou seja, ataca árvores já debilitadas. Os adultos escavam galerias para se alimentarem, afetando o desenvolvimento das árvores, a sua produção e até a sua sobrevivência. Além disso, as galerias escavadas facilitam o desenvolvimento de outras pragas e doenças.

As doenças da oliveira, seus sintomas e danos

– A doença da oliveira conhecida por gafa é causada por um fungo que foi identificado, pela primeira vez em Portugal, em 1898. É uma doença agressiva que ataca os frutos, causando perdas tanto quantitativas quanto qualitativas na produção. Este fungo inicia a sua atividade no final da primavera ou princípio do verão, quando a humidade relativa é superior a 90% e as temperaturas estão entre os 20°C e os 25°C. As azeitonas atacadas ficam com manchas acastanhadas, deprimidas e de aspeto oleoso, engelham e acabam por definhar e cair. As folhas também apresentam manchas amarelo-acastanhadas.

– Outro fungo que tem causado prejuízos em olivais jovens intensivos é o olho-de-pavão. Este organismo tem dois períodos de maior incidência: outono – inverno, na altura das primeiras chuvas, e inverno – primavera, especialmente se o tempo for mais fresco e chuvoso. O fungo ataca as folhas, frutos e pedúnculos, podendo causar perdas de folhas (desfolhas) severas, assim como queda prematura dos frutos e enfraquecimento das árvores. Nas folhas, causa manchas circulares, de rebordo amarelo que lembram o olho de um pavão. Os frutos atacados apresentam manchas necróticas irregulares e deformações, enquanto os pedúnculos atacados engelham e causam a queda das azeitonas.

– A cercosporiose é uma doença fúngica pouco conhecida, com sintomas semelhantes aos causados pelo olho-de-pavão e que acaba por se confundir com esta. As folhas atacadas apresentam manchas pouco definidas que evoluem para necroses. Na página inferior das folhas aparecem manchas acinzentadas que podem escurecer e confundir-se com os efeitos da fumagina. Nos frutos, o fungo causa lesões redondas, deprimidas e de cor acastanhada, que crescem, tornando-se mais escuras e ganhando um alo amarelado. Os frutos atacados não amadurecem e acabam por mumificar.

– A tuberculose ou ronha-do-olival é uma doença causada por uma bactéria que se encontra presente em todas as regiões olivícolas portuguesas. Está presente em vários órgãos da oliveira, especialmente nas folhas e penetra através de feridas: cortes acidentais provocados por granizo ou resultantes da poda e varejamento ou feridas de queda de folhas ou ataques de insetos. A infeção dá origem a tumores, nódulos ou galhas nos gomos, ramos jovens, tronco ou noutras partes da oliveira. Os tumores começam por ser pequenos, esverdeados e lisos e vão evoluindo para superfícies irregulares, escuras e lenhificadas, provocando a seca e queda de ramos.

– A verticiliose, doença causada por um fungo, tem vindo a ter cada vez mais importância em Espanha – na Andaluzia, nas áreas de regadio do Guadalquivir -, especialmente nos olivais intensivos, mas que não tem registos em Portugal (até 2023). Pode atacar várias espécies lenhosas e herbáceas, provocando a morte de ramos ou das árvores. É um fungo que pode sobreviver durante bastante tempo no solo e infetar as plantas através das raízes. Os sintomas podem aparecer de forma rápida no outono – inverno ou com uma evolução mais lenta de abril até ao verão. De uma forma geral, os ramos e raminhos começam a secar, começando nas pontas, e os sintomas vão evoluindo ao longo da árvore, em direção à base.

Publicado em: Novembro de 2023

Autoria: Florestas.pt, desenvolvido em colaboração com António Cordeiro, doutorado em Agronomia e investigador na área da olivicultura, azeitona e azeite, no Pólo de Elvas do INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária. António Cordeiro é também coordenador do Programa de Olivicultura e da Coleção Portuguesa de Referência de Cultivares de Oliveira.