A Casa Santos Lima é um exemplo notável de empresa familiar que conseguiu prosperar e inovar ao longo de gerações. Fundada no final do século XIX por Joaquim Santos Lima, a empresa está agora sob a liderança do seu bisneto, José Luís Oliveira da Silva. Foi na Quinta da Boavista, na região Demarcada dos Vinhos de Lisboa, que o atual proprietário e CEO contou a história deste legado que já vai na quinta geração.

José Luís Oliveira da Silva deixou a sua carreira no setor bancário para se dedicar à atividade familiar. “Sempre tive um grande interesse pela atividade vitivinícola da família”, conta. Ao assumir a liderança, fundou a Casa Santos Lima, Sociedade Anónima, com a intenção de trazer uma visão mais empresarial e estruturada. “Começámos por reestruturar a vinha na Quinta da Boavista, em Alenquer. Inicialmente, tínhamos 55 hectares e hoje temos várias centenas de hectares”, descreve.

Em 1996, a Casa Santos Lima começou a engarrafar os seus vinhos, que até então eram vendidos a granel para outros produtores e comerciantes. “Lançámos marcas como o Quinta das Setencostas e o Palha Canas, que foram bem aceites tanto em Portugal como em Inglaterra. Aliás, o primeiro mercado foi a Inglaterra”, recorda José Luís Oliveira da Silva.

Ao longo dos anos, a empresa aumentou as plantações de vinhas e diversificou as castas, introduzindo encepamentos não comuns na região de Lisboa. Este esforço foi acompanhado pela modernização das instalações, com novos equipamentos de vinificação e várias linhas de engarrafamento. “Na altura, introduzimos o embalamento em bag-in-box, atendendo à procura de clientes nórdicos, o que nos deu uma vantagem competitiva significativa nesses mercados”, comenta.

A Casa Santos Lima expandiu-se para outras regiões de Portugal além da região de Lisboa. Atualmente, estão presentes no Douro, Algarve, Alentejo, Vinhos Verdes, Dão e nos Açores, na ilha do Pico.

“Das 14 regiões produtoras de vinho em Portugal, estamos presentes em sete. Para nós, as mais representativas e importantes para o perfil de vinhos que queremos produzir”, destaca o CEO. Apesar dos desafios económicos mundiais, como inflação e a redução do poder de compra, a Casa Santos Lima continua a crescer e a abrir novos mercados. “Exportamos para cerca de 60 países. Mantemos o foco em produzir vinhos de qualidade a um bom preço e participamos em vários concursos nacionais e internacionais, onde somos frequentemente premiados”, explica ainda José Luís Oliveira da Silva.

Vinhos tintos, brancos ou rosés. Questionámos. Ao que José Luís Oliveira da Silva, respondeu que a empresa produz mais tintos, embora haja uma tendência crescente para a procura por brancos e rosés. Sobre as castas eleitas, a Casa Santos Lima trabalha com mais de 60. “Trabalhamos com mais de 60 castas diferentes, com destaque para a Touriga Nacional nos tintos e o Arinto nos brancos. Comercializamos vinhos varietais e blends, aproveitando as características específicas de cada casta e região”, elucida. Com mais de 200 marcas no seu portefólio, a empresa tem uma logística complexa que permite estar em mercados de diferentes dimensões. “O futuro passa por continuar atentos e criativos às tendências do mercado para que os nossos produtos correspondam à evolução dos padrões de consumo”, remata José Luís Oliveira da Silva.

Medidas de sustentabilidade ao longo do tempo

A Casa Santos Lima, tem-se destacado no cenário vinícola não apenas pela qualidade dos seus vinhos, mas também pelo forte compromisso com a sustentabilidade. Sobre o tema, Luís Almada, também CEO da CSL, detalha as práticas sustentáveis da empresa, destacando a importância da vinha, as medidas implementadas ao longo dos anos e a recente certificação em sustentabilidade.

“A vinha é de facto o bem mais precioso que temos. Sem boas uvas não se faz um bom vinho”, afirma Luís Almada, reforçando que a “qualidade dos vinhos começa com o cuidado meticuloso nas vinhas. Esse cuidado não é apenas uma preocupação atual, mas um compromisso intergeracional”. A Casa Santos Lima dedica tempo e recursos significativos para garantir que as suas vinhas permaneçam produtivas e sustentáveis para as gerações futuras.

Desde os primeiros anos, a empresa adotou práticas sustentáveis, mas em 2020, um marco importante foi alcançado com a contratação de uma empresa especializada para medir a pegada de carbono da Casa Santos Lima.

”A partir desse momento, ficámos com uma consciência clara das nossas reais emissões e do que precisávamos fazer para as tentar neutralizar”, explica Luís Almada. Com base nesses dados, a empresa montou uma equipa interna dedicada exclusivamente à sustentabilidade, abrangendo não só as vinhas, mas também a enologia, o engarrafamento e logística.

A Casa Santos Lima usa dois métodos principais de produção. Por um lado, tem vinhas certificadas em Modo de Produção Integrada e em conversão para o Modo de Produção Biológico, embora tente, transversalmente, utilizar práticas que respeitem os princípios da chamada agricultura regenerativa. Uma das práticas mais recentes e significativas é o enrelvamento nas entrelinhas das vinhas. “O enrelvamento retém a água da chuva de forma muito mais eficiente, o que significa uma melhor absorção de água pelo solo”, diz o CEO, argumentando ao mesmo tempo, que “esta prática não só melhora a qualidade do solo, mas também contribui para uma gestão hídrica mais eficaz, crucial em tempos de mudanças climáticas”. Além disso, a empresa utiliza drones para monitorização das necessidades das vinhas e investe em análises foliares, promovendo uma agricultura de precisão que maximiza a eficiência e minimiza o impacto ambiental.

Certificação em Sustentabilidade pelas mãos da NATURALFA

A ViniPortugal lançou o Referencial Nacional de Certificação da Sustentabilidade do Setor Vitivinícola, que a Casa Santos Lima adotou imediatamente. “Decidimos submeter à certificação porque já tínhamos muitas das medidas implementadas”, considera Luís Almada. Para garantir a rigorosidade e a credibilidade do processo, a empresa escolheu a NATURALFA como parceira. Atualmente, quatro das sete regiões onde a Casa Santos Lima opera já estão certificadas.

Luís Almada destaca duas principais vantagens do Referencial de Sustentabilidade. “Por um lado, há uma vantagem clara para a vinha e para a empresa, com práticas que garantem a longevidade e a saúde das vinhas. Por outro lado, há uma vantagem comercial significativa”, revela. E termina: “Muitos mercados internacionais exigem certificações de sustentabilidade, e estar certificado permite à Casa Santos Lima estar e competir nesses mercados”.

Liliana Perestrelo, CEO da NATURALFA, expressou à nossa reportagem a sua satisfação e entusiasmo com a colaboração da empresa com a Casa Santos Lima no âmbito do Referencial de Sustentabilidade. Para a NATURALFA, esta parceria representou o pontapé de saída desta certificação que visa promover práticas sustentáveis no setor vinícola.

“O Referencial de Sustentabilidade é uma iniciativa recente, e a Casa Santos Lima teve a honra de ser a primeira a receber este certificado emitido pela NATURALFA. Este marco foi significativo não apenas por ser o primeiro certificado emitido, mas também pela honra e reconhecimento de trabalharmos com uma empresa como a Casa Santos Lima”, reconhece.

Liliana Perestrelo destacou também, durante as auditorias, um trabalho já bastante avançado em termos de práticas sustentáveis na Casa Santos Lima. Segundo a CEO, a Casa Santos Lima já há muito que se vinha preparando para obter este certificado, mesmo antes de sua formalização. Sobre as múltiplas vantagens que o Referencial de Sustentabilidade traz para a empresa, Liliana Perestrelo, enumera: “Do ponto de vista de mercado, o certificado abre portas para novas oportunidades, permitindo que a Casa Santos Lima chegue a mercados mais exigentes que valorizam e reconhecem práticas sustentáveis (…) e depois as mais valias indiretas que ajudam internamente a crescer a empresa”.

Para Ana Coimbra, gestora de clientes da NATURALFA e responsável pela promoção e divulgação do Referencial, o desenvolvimento e implementação do Referencial de Sustentabilidade tem sido um desafio gratificante. “Foi uma grande alegria e prazer ver a Casa Santos Lima como o primeiro cliente da NATURALFA a adotar este Referencial. Eles são uma referência não só a nível nacional, mas também mundial. É uma honra tê-los como pioneiros”, avança Ana Coimbra. “Quando decidimos trabalhar em parceria, a Casa Santos Lima já tinha muitas práticas de sustentabilidade aplicadas no dia a dia. Isso facilitou o processo e demonstrou o compromisso deles com a sustentabilidade”, explica Ana Coimbra.

A adesão ao Referencial tem gerado curiosidade entre outros produtores, embora haja alguma resistência inicial, que rapidamente se dissolve quando conhecem melhor o Referencial. “Há muita curiosidade em relação ao Referencial, mas também encontramos uma certa resistência. No entanto, a expetativa é alta, especialmente entre aqueles que querem entrar no mercado internacional. Quem quer entrar no mercado internacional, especialmente em mercados nórdicos, Canadá, Estados Unidos, precisa seguir este caminho, pois a sustentabilidade é a palavra do dia”, realça.

→ Leia esta e outras reportagens na Revista Voz do Campo: edição de julho 2024

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