Introdução: O Instituto Nacional de Estatística (INE) apresenta a edição de 2023 das “Estatísticas Agrícolas”, um retrato atual e abrangente da agricultura nacional, reportando-se a informação ao último período temporal disponível. A publicação está organizada em 11 capítulos, constando no final de cada um, sempre que disponível, os links para os respetivos indicadores do portal do INE.O INE agradece a todos os que contribuíram para a elaboração desta publicação, em especial aos agricultores, associações de produtores e às empresas que responderam aos inquéritos, bem como ao Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral do Ministério da Agricultura e Pescas (GPP), à Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), ao Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), à Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), às Direções Regionais de Agricultura e Pescas (DRAP), ao Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA), à Direção Regional de Estatística da Madeira (DREM) e a todas as outras entidades que facultaram informação em tempo oportuno.

Nesta edição a desagregação geográfica dos resultados ao nível da região foi efetuada de acordo com a nova configuração das NUTS 2024.

Acreditando que a crítica construtiva serve de estímulo para o aperfeiçoamento e a melhoria da qualidade, o INE agradece todas as sugestões formuladas pelos utilizadores que possam contribuir para a valorização da informação sobre o setor agrícola.

SUMÁRIO EXECUTIVO

1 – PRODUÇÃO VEGETAL ANO AGRÍCOLA 2022/2023

O ano agrícola 2022/2023 em Portugal continental caraterizou-se em termos meteorológicos como extremamente quente, sendo o mais quente desde que há registos sistemáticos (ano agrícola 1931/1932). De notar que dos nove anos agrícolas que registaram temperaturas médias superiores a 16,0°C, cinco ocorreram na última década. O ano agrícola registou uma precipitação total de 947,8mm (superior em 103,5mm à normal 1981-2010), classificando-se como chuvoso. No entanto, a primavera de 2023 foi a segunda mais seca desde 1931 (atrás da primavera de 2009, com 96,3mm) e a mais quente deste século.

A campanha dos cereais para grão de outono/inverno 2022/23 foi muito marcada pela seca severa da primavera, sendo a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas, resultado dos decréscimos de áreas (exceto cevada) e de produtividades.

A precipitação acumulada no outono/inverno possibilitou alguma recuperação dos níveis de armazenamento das albufeiras e regadios privados, permitindo que a campanha de regadio decorresse com normalidade. Apesar de dificuldades pontuais de escoamento e armazenamento do milho para grão, devido à concentração das colheitas antes das chuvas, registou-se um aumento de produção de 7%, face a 2022.

A produção de arroz subiu 15% devido aos aumentos de área e, principalmente, de produtividade. A área de tomate para a indústria foi de 17,2 mil hectares (+13%) e a produção de 1,69 milhões de toneladas (+19%), posicionando esta campanha como a segunda mais produtiva. A produção de maçã foi semelhante à de 2022, embora na região do Oeste tenha registado um decréscimo de 15%. Em contrapartida, a produção em Trás-os-Montes aumentou cerca de 8%, tendo parte da produção sido desviada para a indústria.

Pelo segundo ano consecutivo a produção de pera registou um decréscimo (-11%, face a 2022), sendo a pior campanha desde 2012 devido às condições meteorológicas adversas. A intensificação do fogo bacteriano tem exercido uma pressão acrescida sobre o setor, obrigando ao arranque e abandono de muitos pomares nas zonas afetadas.

A produção de cereja foi de 11,8 mil toneladas, o que corresponde a menos de metade da alcançada em 2022. Os pomares foram fortemente afetados pelas condições climatéricas adversas que condicionaram todo o ciclo, desde a diferenciação floral, floração e vingamento do fruto até à maturação.

A produção de kiwi decresceu 8%, mas a qualidade dos frutos foi muito boa, evidenciando calibres regulares, com reflexo positivo nos preços.

Com exceção do limão, os citrinos apresentaram uma redução significativa das produções, explicada pela boa produção do ano anterior e pela seca severa, nomeadamente no Algarve, onde houve restrições na utilização de água para rega. Nas variedades de laranja tardias o decréscimo foi da ordem dos 50%, contribuindo decisivamente para a diminuição global de 26%.

Pelo terceiro ano consecutivo a produção de castanha foi condicionada por problemas fitossanitários, agravados pelas secas, com impacto na qualidade e quantidade da produção global colhida, que foi inferior em 1/3 em relação à média do último quinquénio.

A produção de vinho aumentou em quase todas as regiões, atingindo os 7,4 milhões de hectolitros, o valor mais elevado desde 2001. De um modo geral, os vinhos apresentaram estrutura complexa e equilíbrio entre o teor alcoólico, a acidez e os taninos.

A produção de azeite ultrapassou os 1,75 milhões de hectolitros (160,8 mil toneladas), o que corresponde à segunda campanha oleícola mais produtiva de sempre. No entanto, o elevado teor de humidade das azeitonas dificultou a extração de azeite, o que resultou numa funda menor.


2 – PRODUÇÃO ANIMAL 2023

A produção total de carne situou-se nas 904 mil toneladas, refletindo um decréscimo de 1,1%, quando comparada com 2022.

A produção de carne de reses (468 mil toneladas, incluindo a carne de bovinos, suínos, ovinos, caprinos e equídeos) teve uma descida de 4,3%, enquanto a produção de carne de animais de capoeira (inclui galináceos, perus e patos) cresceu 2,7%, tendo atingido as 421 mil toneladas.

No que respeita às reses, a carne de bovino (98 mil toneladas), suíno (356 mil toneladas), ovino (12,4 mil toneladas) e caprino (1,1 mil toneladas), mostraram reduções face a 2022, que foram de 5,1%, 3,6% e um decréscimo idêntico de 16,4%, para ovinos e caprinos, respetivamente.

A produção de carne de frango (337 mil toneladas) cresceu 2,3%, tal como a carne de pato (12,7 mil toneladas), que apresentou uma variação positiva de 23,8%. Pelo contrário, a carne de peru registou uma descida de 2,3% em relação a 2022, com uma produção de 50,1 mil toneladas.

A produção bruta de ovos de galinha totalizou 152 mil toneladas, um aumento de 1,8%, com o volume de ovos para consumo (131 mil toneladas) a crescer 1,6% e o de ovos para incubação (22,0 mil toneladas) a aumentar 3,2%, face a 2022.

A produção total de leite contabilizou 1 996 milhões de litros, correspondente a um aumento de 1,4% relativamente a 2022, com o volume de leite de vaca (1 901 milhões de litros) a aumentar 1,6% e os leites de ovelha e cabra com decréscimos de 2,6% e 4,9%, respetivamente.

A produção da indústria de lacticínios nacional em 2023 resultou num maior volume total de produtos lácteos, evolução que ficou a dever-se ao acréscimo ocorrido nos produtos frescos (leite para consumo superior em 2,5%), já que o total de produtos transformados teve uma ligeira redução, com a produção de queijo a diminuir 4,8%, enquanto a manteiga e o leite em pó aumentaram 14,9% e 18,0%, respetivamente.


3 – PRODUÇÃO FLORESTAL

Em Portugal, deflagraram 7 562 incêndios rurais em 2023, menos 27,6% de ocorrências comparativamente a 2022. O número de ignições representa o menor valor dos últimos 20 anos, representando 80,8% da média do último quinquénio (9 359).

Em 2023, a superfície ardida em Portugal correspondeu a 34,5 mil hectares no Continente e 5,2 mil hectares na R.A.M (110,1 mil hectares e 0,09 mil hectares em 2022, respetivamente), o que posiciona 2023 como o terceiro ano menos severo da última década (2014-2023), com 68.6% da área média ardida no último quinquénio (57,8 mil hectares).

Em Portugal Continental, no ano 2023, a área de caça distribuiu-se por 6 973 mil hectares em 5 300 zonas de caça, mais 52 espaços distribuídos por menos 23,7 mil hectares que em 2022.

As 112 285 licenças de caça emitidas na época venatória 2022/2023 (115 726 em 2021/2022), justificaram um decréscimo de 3,0%, gerando uma receita de 5,5 milhões de euros, inferior em 2,8% à de 2021/2022.


4 – AGRICULTURA E AMBIENTE

Em 2022, foram vendidas 9,1 mil toneladas de substâncias ativas de produtos fitofarmacêuticos, o que reflete uma redução de 5,7% face a 2021. Para este decréscimo contribuiu a diminuição das vendas de glifosato (- 22,0%), substância ativa que concentrou 75% do total das vendas de herbicidas, representando 15,8% do total das vendas de produtos fitofarmacêuticos.

O consumo aparente de fertilizantes cresceu 38,6% em 2023, justificado em grande medida pelo decréscimo do índice de preços dos fertilizantes (-24,8%).

Em 2023, o balanço bruto do azoto no solo foi de 154,8 mil toneladas (133,5 mil toneladas de azoto em 2022), resultado de um crescimento na incorporação de azoto no solo (+25,1 mil toneladas de azoto), mais acentuado do que o aumento de azoto removido pelas culturas (+3,8 mil toneladas).

O balanço do fósforo aumentou 12,3% em 2023, contabilizando um excedente de 1,2 mil toneladas (+513 toneladas em 2022).

Em 2022 a atividade agrícola foi responsável por 50,6 Gg de emissões de NH3 , equivalente a 12,9 kg NH3 /ha SAU. Este resultado reflete um decréscimo de 2,6% face a 2021, promovido sobretudo pela perda da importância da fonte emissora “Aplicação de fertilizantes inorgânicos (inclui a ureia)” que passou a representar 5,4% do total de NH3 emitido (-2,9 p.p. face a 2021).

A atividade agrícola, no ano de 2022, foi responsável pela emissão de 6,9 milhões de toneladas de GEE (eq. CO2 ), o que corresponde a 1,8 toneladas de GEE (eq. CO2 ) /ha SAU (redução de 3,1% comparativamente a 2021).

O consumo direto de energia da atividade agrícola atingiu 16,4 milhões de Gj em 2022, o que traduz uma redução de 7,0% relativamente a 2021, sobretudo devido ao aumento dos preços do petróleo e da eletricidade, as principais fontes de energia utilizadas no sector agrícola.


5 – INDÚSTRIA ALIMENTAR, DAS BEBIDAS E DO TABACO – 2023

As Indústrias Alimentares mantiveram-se como a principal atividade da produção industrial nacional com 16,5% do total das vendas em 2023 (14,7% em 2022).

Em 2023, 77,4% do valor das vendas das indústrias alimentares teve como destino o mercado nacional (-0,2 p.p. face a 2022) e 16,9% a União Europeia (+0,1 p.p. face a 2022).

Valor das vendas das Indústrias Alimentares em 2023 fixou-se nos 17,0 mil milhões de euros, mais 1,3 mil milhões de euros face a 2022.

Atividade de “abate de animais, preparação e conservação de carne e de produtos à base de carne” foi a mais valorizada das Indústrias Alimentares com 20,0% do total do valor de vendas (19,2% em 2022).

A Indústria das Bebidas faturou 3,7 mil milhões de euros em 2023, mais 166 milhões de euros que em 2022, tendo a “indústria do vinho” contribuído com 49,5% do total do valor das vendas (51,9% em 2022).

As vendas da Indústria do tabaco ascenderam a 707,4 milhões de euros, mais 7 milhões face a 2022.


6 – COMÉRCIO INTERNACIONAL 2023

O défice da balança comercial dos Produtos agrícolas e agroalimentares (exceto bebidas) atingiu 5 512,7 milhões de euros em 2023, refletindo um agravamento de 315,1 milhões de euros face ao ano anterior.

As Carnes e miudezas, comestíveis foi o grupo que mais contribuiu para esta evolução, atingindo o maior défice, registando um aumento do défice de 121,8 milhões de euros em 2023, para 1 362,0 milhões de euros, sendo também o grupo de produtos com o maior défice no conjunto dos Produtos agrícolas e agroalimentares (exceto bebidas), ultrapassando o grupo dos Cereais.

O saldo da balança comercial das Bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres voltou a diminuir, -49,5 milhões de euros face a 2022, registando um excedente de 650,4 milhões de euros em 2023.

O saldo da balança comercial dos Produtos do setor florestal alcançou 2 923,7 milhões de euros em 2023, recuando 348,4 milhões de euros comparativamente ao ano anterior. A Cortiça e o Papel e Cartão registaram os saldos mais elevados (943,7 e 940,2 milhões de euros, respetivamente).


7 – BALANÇOS DE APROVISIONAMENTO

Em 2023 o mercado interno contribuiu com 75,4% da quantidade de carne necessária para satisfazer as necessidades nacionais de consumo, menos 2,7 p.p. que no ano anterior. A carne de animais de capoeira foi a mais consumida (47,2 kg/habitante, que compara com 45,2 kg/habitante em 2022), seguida da carne de suíno (41,7 kg/habitante versus 42,4 kg/habitante em 2022).

O grau de autoaprovisionamento para o conjunto dos produtos lácteos (leite e derivados) em 2023 foi 94,6%, que compara com 93,7% em 2022. Mantiveram-se excedentários o leite para consumo público (115,0%) e a manteiga (133,3%), mas alguns produtos lácteos continuaram deficitários, caso dos leites acidificados (55,1%), das bebidas à base de leite (74,2%) e do queijo (59,3%).

Na campanha 2022/2023* , o grau de autoaprovisionamento dos cereais (exceto arroz) foi de 18,0% (-1,7 p.p. face à campanha transata). A produção de grão decresceu 8,9%, refletindo uma campanha cerealífera marcada pela situação de seca, tendo o recurso às importações (+11,7%) permitido um consumo semelhante ao registado na campanha anterior.

*O balanço da campanha 2022/23 diz respeito à produção de cereais no ano agrícola 2021/22.

A quantidade total de frutos disponível para consumo humano em 2022/2023 aumentou 1,9%, equivalendo a um consumo per capita de 146,9 kg de frutos por habitante (144,9 kg na campanha 2021/2022). O grau de autoaprovisionamento fixou-se em 73,3%, menos 14,7 p.p. que em 2021/2022. De referir ainda que, em relação à campanha anterior, as exportações diminuíram 14,0%, tendo a importação de frutos aumentado 6,7%.

O grau de autoaprovisionamento do azeite em 2022 foi de 198,6% (98,6 p.p. acima da autossuficiência), 66,2 p.p. abaixo do valor apresentado em 2021, ano record, que teve o valor mais elevado de toda a série disponível.

Na campanha 2022/2023, o grau de autoaprovisionamento do vinho fixou-se em 108,9% (112,4% em 2021/2022). A produção vinícola registou um decréscimo de 6,9% face à campanha anterior, agravada pela redução de 20,2% das importações, tendo o consumo humano decrescido 9,2%, particularmente no que respeita aos vinhos sem certificação. Verificou-se ainda uma diminuição significativa das exportações de vinho (-25,9%) na campanha em análise.


8 – BALANÇA ALIMENTAR

O aporte calórico médio diário por habitante no período 2016-2020 foi de 4 075 kcal, duas vezes o valor recomendado para um adulto com um peso médio saudável.

O índice de adesão à dieta mediterrânica melhorou em 2020, registando um nível idêntico ao obtido em 2012 em plena crise económica (1,157).


9 – ESTATÍSTICAS DE PREÇOS AGRÍCOLAS – 2023

O índice de preços de produção dos bens agrícolas aumentou 14,6%. Este crescimento deveu-se às evoluções de +14,5% no índice de preços da produção vegetal e de +14,7% no índice de preços da produção animal.

O índice de preços dos bens e serviços de consumo corrente na agricultura registou uma variação de +1,8% e o índice de preços dos bens e serviços de investimento da atividade agrícola uma evolução de +4,7%.


10 – CONTAS ECONÓMICAS DA AGRICULTURA – 2023

Em 2023, o Rendimento da atividade agrícola, em termos reais, por unidade de trabalho ano (UTA), registou um acréscimo (+8,5%), em consequência do grande aumento do Valor Acrescentado Bruto (VAB), em termos nominais (+31,9%), e da forte redução dos Outros subsídios à produção (-46,1%).

O acréscimo do VAB, em termos nominais, resultou de um crescimento da Produção do ramo agrícola (+16,7%) superior ao do Consumo intermédio (CI) (+9,7%). Em termos reais, o menor aumento do VAB (+3,6%) refletiu menores acréscimos em volume da Produção e do CI (+1,7% e +0,8%, respetivamente) e um acentuado acréscimo do deflator implícito.


11 – CONTAS ECONÓMICAS DA SILVICULTURA – 2022

Em 2022, o VAB da silvicultura decresceu 3,4% em volume e aumentou, pelo segundo ano consecutivo, em valor (+9,6%).

O acréscimo do VAB, em termos nominais, foi consequência do aumento da Produção (+8,3%) ter sido superior ao aumento CI (+5,8%). Destacam-se os acréscimos da produção de madeira de resinosas, de folhosas e para energia (+6,9%, +19,9% e +17,3%, respetivamente), onde o aumento dos preços teve grande impacto.

→ Consulte aqui ao documento oficial

 

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