A Antracnose da azeitona, também conhecida por gafa, é uma das doenças mais importantes e mais antigas do olival em todo o mundo.

Os principais prejuízos causados por esta doença incluem a queda precoce dos frutos infetados e a rápida oxidação do azeite obtido desses frutos. Esta doença pode ser provocada por dois complexos de espécies de fungos pertencentes ao género Colletotrichum, o complexo Colletotrichum acutatum sensu lato (s.l.) e Colletotrichum gloeosporioides (s.l.) (Sreenivasaprasad & Talhinhas, 2005); Damm et al., 2012; Weir et al., 2012). Em Portugal, a espécie predominante é Colletototrichum acutatum com uma prevalência de 97% (Talhinhas et al., 2003) no entanto no Alentejo uma das espécies com maior representatividade é C. nymphae (Materatski et al., 2018).

Os sintomas mais severos desta doença são principalmente observados nos frutos durante a fase de maturação, sendo mais visíveis no outono e caraterizam-se por lesões enegrecidas, geralmente em depressão, com produção abundante de massas mucilaginosas de esporos de cor laranja caraterizados por acérvulos (Figura 1) (Graniti et al., 1993; Amaro,1997).

O aumento da gravidade da doença, varia com as condições ambientais favoráveis ao seu desenvolvimento, humidade relativa elevada e presença de chuva, que é a principal causa da dispersão da doença, grau de suscetibilidade da variedade e a virulência do agente patogénico. É ainda evidente o aumento da suscetibilidade do fruto à doença, à medida que a maturação aumenta (Caciola et al., 2012). Com o avançar da maturação aumenta a possibilidade do rompimento da epiderme e a degradação das paredes celulares dos frutos e com isso, o aumento da suscetibilidade à infeção por Colletotrichum spp.. O fungo tem a capacidade de infetar diversos tecidos da planta mas são os frutos, no Outono, o local preferencial da germinação dos conídios, sendo a colonização dos tecidos do fruto mais intensa em frutos maduros e aparecendo numa fase final as lesões características da doença (Loureiro et al., 2019).

Em geral, a degradação das paredes celulares do fruto, é um processo bioquímico que decorre naturalmente na maioria dos frutos com o avanço da maturação. Esta degradação é um dos principais motivos pela maior facilidade de entrada de agentes patogénicos para o interior dos frutos maduros (Agrios, 1998). Aliada à degradação das paredes celulares que ocorre na maturação, os frutos da cultivar ‘Galega vulgar’, possuem uma camada epidérmica muito fina (Gomes et al., 2012), tornando esta variedade uma das mais suscetíveis à antracnose. A parede celular dos frutos é constituída por polissacarídeos que são moléculas complexas formadas por longas cadeias de monossacarídeos (açúcares simples) ligados entre si. Estes polissacarídeos têm a particularidade de se conseguirem associar por intermédio de catiões, como o cálcio, formando ligações por pontes de cálcio que irão aumentar a estabilidade das paredes celulares tornando-as numa estrutura mais sólida e difícil de penetrar (Tucker, 1993).

Com a limitação crescente no uso de fungicidas, a busca de métodos alternativos para o controle de algumas doenças tem sido uma prioridade. Desta forma, com este trabalho pretendeu-se avaliar, em três cultivares de azeitona (‘Galega vulgar’, ‘Cobrançosa’, ‘Picual’), o efeito que a aplicação de cálcio foliar tem no aumento da resistência epidérmica dos frutos, de modo a atrasar ou evitar a contaminação por fungos do género Colletotrichum.

Em trabalhos anteriores, na Universidade de Évora, já se tinha tornado evidente o efeito positivo da aplicação de Formiato de Cálcio por via foliar na redução da suscetibilidade da cultivar ‘Galega vulgar’ à antracnose (Caeiro, 2019). Neste trabalho, que decorreu no campo de clones de cultivares de oliveira, da Estação de Olivicultura de Elvas (INIAV) (Figura 2), foi evidente que o cálcio aplicado por via foliar se fixou nas paredes celulares contribuindo para aumentar a sua estabilidade e consequentemente a sua resistência à penetração do fungo. Houve assim a necessidade de prosseguir este estudo incluindo mais cultivares com diferentes graus de suscetibilidade à antracnose (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de agosto/setembro 2024 (especial Olival & Azeite)

Autoria: Alves, D.; Caeiro, L.; Murta, G.; Carvalho, T.; Oliveira, P.; M.R. Félix*; A.E. Rato*

MED – Mediterranean Institute for Agriculture, Environment and Development & CHANGE – Global Change and Sustainability Institute, Departamento de Fitotecnia, Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora, Pólo da Mitra, Ap. 94, 7006-554 Évora, Portugal.