A olivicultura desempenha um importante papel na agricultura de Portugal e os azeites produzidos têm elevada qualidade, reconhecida nacional e internacionalmente, ocupando o país a posição de quarto produtor na Europa e sétimo a nível mundial.

Nas duas últimas décadas registou-se um elevado crescimento de grandes extensões de olivais, sobretudo no Alentejo, onde a morfologia dos terrenos, as áreas disponíveis e o acesso à água que resultou da infraestrutura do Alqueva, tiveram um papel decisivo. No entanto, houve no mesmo período um declínio significativo das pequenas e médias explorações de olivicultura tradicionais e de baixa densidade, em diversas regiões, muitas delas abandonadas ou integradas em grandes propriedades, com consequências negativas que se fazem sentir nas áreas do ambiente, da economia e social. Tem-se vindo a admitir que um processo de digitalização aplicado em todas as fases da cadeia de valor, tirando partido de tecnologias a que até há pouco só as grandes explorações podiam aspirar, pode viabilizar a manutenção deste segmento, desde que devidamente planeado e dimensionado.

Realizou-se um estudo no âmbito do projeto europeu OIL4MED com o objetivo de caracterizar a apetência para a digitalização de pequenos e médios olivicultores e de lagares em Portugal, através de dados estatísticos e de inquéritos.

Para uma análise abrangente do setor e uma identificação das possíveis soluções, foi adotada uma abordagem que permitiu integrar informações de diferentes fontes, nomeadamente:

Inquéritos para caracterizar os principais elementos da cadeia de valor – olivicultores e lagares;
Avaliação de um novo indicador, criado para este efeito, que permite estimar a apetência para a adoção de meios tecnológicos – Índice de Apetência Tecnológica (IAT);
Seleção e teste de alguns elementos críticos (hardware e software) para o processo de digitalização, a fim de demonstrar a sua disponibilidade e viabilidade;
Definição de um modelo simplificado de digitalização integral da cadeia de valor.

Resultados e Discussão

Os resultados dos inquéritos realizados a olivicultores e a proprietários de lagares, e a análise de dados estatísticos disponíveis (INE) permitiram conhecer o setor, caracterizar diferentes situações reais e identificar as suas principais dificuldades, desafios e perspetivas para o futuro.

A análise do novo índice IAT, apresentado na Figura 1, calculado com base nas respostas obtidas às questões relacionadas com aspetos tecnológicos, deu indicação de comportamentos e tendências, confirmando-se a sua potencial utilidade, apesar de ainda prosseguir o seu estudo, com vista a aperfeiçoar a sua parametrização.

A lista de meios tecnológicos disponíveis para processos de digitalização é muito extensa, existindo para cada um deles diversos níveis de desenvolvimento, funcionalidades, precisão e preços (Quadro 1).

Destes foram selecionados e testados alguns modelos simplificados, que permitiram demonstrar o conceito e ajudaram a definir o possível modelo de digitalização apresentado na Figura 2, que poderá ser implementado faseadamente nos principais atores da cadeia de valor da produção do azeite, à medida que forem sendo reunidas condições para uma instalação viável, técnica e financeiramente (…).

O projeto OIL4MED é financiado pelo programa PRIMA da União Europeia, através da Fundação para a Ciência e Tecnologia (PRIMA/0005/2020-OIL4MED -PRIMA Section 2 Call multi-topics 2020).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de agosto/setembro 2024

Autoria: Barroso, J., Oliveira, C.M., Canadas, M., Ribeiro, H.

Universidade de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, Centros de Investigação LEAF e CEF, Laboratório Associado TERRA, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal
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