Em Portugal, no ano de 2022, a produção de carne de frango cresceu 5,2% e a produção de ovos de galinha teve um aumento de 5,5%, face ao ano anterior (INE, 2023). Em 2023, de igual modo, voltou a ocorrer um aumento de 2,3% na produção de frangos, bem como na produção de ovos, a qual foi de 1,8%.
Talvez pela diminuição do consumo de carnes vermelhas ou pelo facto do preço da carne de frango ser mais baixo do que de outras fontes de proteína animal, a produção de frango continua com uma tendência a um ligeiro crescimento.
O baixo índice de conversão e o rápido crescimento fazem dele uma potência no que toca ao acesso de carne a baixo custo e a um ritmo que permite satisfazer as necessidades do mercado. Atualmente o abate dos frangos de estirpe comercial realiza-se por volta dos 35 dias de vida, e há casos onde esse tempo é inferior dado o que é requerido pelo mercado, nomeadamente os frangos para assar. Dado o elevado valor nutricional e baixo teor de gordura da carne de frango esta é uma das fontes alimentares mais procuradas pela população em geral. Posto isto e devido aos constrangimentos que vivemos nos últimos anos relativamente ao abastecimento de matérias-primas importadas – imprescindíveis para a alimentação de frangos e galinhas – existe a necessidade de encontrar fontes de alimentação animal alternativas e que não compitam directamente com a alimentação humana.
Também devido ao impacto da pegada de carbono associada ao transporte de commodities como o milho e a soja provenientes de países terceiros, a produção local de matérias-primas passíveis de serem utilizadas na alimentação animal visa uma menor pegada de carbono.
A produção de insectos é já uma realidade em Portugal e graças ao seu elevado valor nutricional e constituição proteica e lipídica, esta matéria-prima é um alimento a considerar como substituição de oleaginosas como a soja.
No caso da mosca soldado negro (BSF) – atualmente a espécie mais produzida em Portugal para alimentação animal, além da sua constituição de proteína entre 58 e 65% e lipídica de 7%, com um teor de ácido laúrico de cerca de 45% do total dos ácidos gordos, é também de considerar outros compostos bioativos que lhe conferem propriedades que podem atuar e fomentar a estimulação do sistema imunitário. Assim, esta matéria-prima tem vindo a ser amplamente testada no sentido de averiguar as suas vantagens e/ou inconvenientes de ser incorporada na alimentação animal.
Para isso, através da Agenda Mobilizadora Insectera, financiada pelo PRR, o FeedInov, em colaboração com a Sorgal e a Entogreen, desenvolveu dois ensaios experimentais, com diferentes dietas com inclusão de farinha de BSF, em frangos de carne e galinhas poedeiras.
Estes ensaios foram realizados ao longo do ano corrente, vindo os resultados a serem publicados em vários congressos e fóruns, nacionais e internacionais.
Para o ensaio com frangos, foram utilizados 320 pintos do dia, 160 machos e 160 fêmeas, alojados em 16 instalações com condições similares de espaço, temperatura e luminosidade. O ensaio foi dividido em 2 fases, dos 0 aos 17 dias e dos 18 aos 35 dias. Na primeira fase houve uma dieta controlo e três dietas a testar, sendo uma delas com um teor de 2,5% (T1) de farinha de BSF e duas com 5% (T2 e T3). Na segunda fase de igual modo utilizaram-se a dieta controlo, duas dietas com 2,5% (T1 e T2) e uma dieta com 5% (T3) de farinha de BSF. A percentagem de inclusão de uma das dietas (T3) com 5% na primeira fase foi alterada para 2,5% na segunda fase.
Foram avaliados vários parâmetros ao longo do ensaio, nomeadamente a ingestão de alimento diário, o ganho médio diário, o Índice de conversão, o peso vivo e, após o abate final, o peso da carcaça quente e refrigerada, o rendimento da carcaça, o peso de metade do peito, o pH e a cor da carne (através dos índices L60, a60 e b60), bem como as perdas cocção.
Ao nível da saúde gastrointestinal, foram avaliadas as dimensões de partes dos intestinos, o comprimento das vilosidades intestinas e analisada a microbiota. Estes resultados serão publicados no futuro.
A seguinte tabela apresenta alguns dos resultados já publicados no II Fórum de Alimentação Animal em Portugal, realizado no dia 19 de Setembro de 2024, em Santarém, sob a organização do FeedInov Colab e da IACA.
Na grande maioria das variáveis não se verificaram diferenças entre os tratamentos, nomeadamente na ingestão e conversão alimentar.
Contudo, afigura-se que uma maior incorporação de farinha de BSF na fase mais jovem da vida dos pintos é atenuada quando a percentagem de incorporação diminui (T3). As diferenças dos resultados obtidos entre o GMD dos 0 aos 17 dias e o GMD dos 18 aos 35 dias, reforçam a tese de que em idades mais jovens, a capacidade de conversão de alimento é superior e, portanto, as incorporações de níveis mais elevados de matérias-primas de maior valor acrescentado serão mais pertinentes nestas fases iniciais da vida das aves.
No que diz respeito à qualidade da carne, também não se encontraram diferenças significativas, exceto no parâmetro b* 60 nos animais alimentados com o T2. Isto indica que ocorreu um ligeiro decréscimo da tonalidade amarela na cor do peito (…).
→ Leia este e outros artigos na especial reportagem sobre a Avicultura na Revista Voz do Campo – edição de novembro 2024, disponível no formato digital e impresso.
Autoria: Tiago Mariano, Gestor de projectos de I&D no FeedInov Colab
*Escrito no âmbito do antigo acordo ortográfico