É urgente implementar um roteiro para uma gestão mais sustentável da floresta: uma estratégia integrada que equilibre produção e conservação, diversifique os rendimentos dos produtores e simplifique os incentivos à gestão, estimulando a indústria florestal à produção de bens de maior valor, que contribuam para o aumento da resiliência das nossas florestas.

Filipe Delgado Torres – Boston Consulting Group (BCG)

A floresta portuguesa, que cobre 36% do território nacional, é um recurso vital para o país. Além de absorver anualmente 4% das emissões nacionais de dióxido de carbono equivalente (valor médio de CO2eq, entre 2007 e 2017), contribui tanto para a preservação da biodiversidade como para a regulação hídrica.Em paralelo, gera cerca de 4 mil milhões de euros anuais para a economia nacional, um montante que advém da produção, exploração e das externalidades que lhes estão associadas, responsáveis por entre 1,2 e 1,5 mil milhões, e da transformação primária e secundária, que contribui com mais 2,5 a 3 mil milhões. E, ainda assim, a floresta tem um enorme potencial por explorar.

Por estes motivos, é urgente implementar uma gestão ativa e sustentável da floresta que responda aos principais desafios que esta enfrenta, nomeadamente o impacto das alterações climáticas (que a expõem a riscos como incêndios, pragas e perda de biodiversidade), o despovoamento e abandono das terras (que comprometem a gestão adequada e aumentam o risco de incêndios), e a estrutura desadequada e fragmentada da propriedade (muitas vezes de pequena escala e gerida de forma não profissional, dificultando a implementação de medidas eficazes).

Para enfrentar esses obstáculos, identificámos oito causas-raiz que precisam de ser abordadas:

  • Primeiro, o valor económico limitado e incompatível com o risco associado à gestão florestal.
  • Segundo, a predominância de propriedades privadas e desagregadas, com um nível de certificação baixo.
  • Terceiro, a falta de cadastro prevalente, especialmente em áreas vulneráveis.
  • Quarto, a cadeia de valor com dinâmicas competitivas desequilibradas.
  • Quinto, a falta de informação que limita a transparência e a gestão ativa.
  • Sexto, os processos de fiscalização e regulação ineficazes.
  • Sétimo, a governança pública complexa e a falta de integração na gestão de fileiras.
  • Por último, o envelhecimento da população rural e o êxodo de talento.

Roteiro para uma gestão mais sustentável da floresta: medidas e benefícios

Para transformar a floresta portuguesa num recurso sustentável e valioso, é imprescindível definir e executar uma estratégia integrada.

Deve-se começar por estabelecer uma visão de longo prazo que equilibre produção e conservação, suportada por uma governança eficiente. Depois, é fundamental promover práticas de gestão que aumentem a resiliência das florestas, como a criação de paisagens em mosaico para prevenir incêndios de grandes dimensões. Ademais, é preciso incentivar a diversificação de rendimentos para os produtores – incluindo serviços ecossistémicos e turismo sustentável – e implementar mecanismos para remunerar os proprietários pelo valor direto e indireto que a floresta gera (como a absorção de CO2).

Garantir transparência nas transações florestais e promover a certificação das florestas são passos tão fundamentais quanto necessários. Finalmente, é também essencial estimular a indústria florestal a produzir bens de maior valor acrescentado e desenvolver um sistema simplificado de incentivos e subsídios para apoiar práticas florestais sustentáveis.

A implementação destas medidas permite aumentar a área de floresta sob gestão ativa e sustentável, com benefícios substanciais, como a criação de mais 16,5 mil postos de trabalho (diretos e indiretos) e um impacto económico adicional de 500 milhões de euros anuais. Além disso, o aumento da área florestal intervencionada, ajudará a aumentar a absorção de carbono em 200 quilotoneladas de CO2 por ano, contribuindo para a mitigação das alterações climáticas.

A gestão mais sustentável da floresta portuguesa é uma necessidade urgente que requer uma abordagem integrada e colaborativa. Ao enfrentar os desafios e causas-raiz identificados, Portugal pode transformar a sua floresta num recurso sustentável, economicamente viável e ambientalmente benéfico. É fundamental agir hoje!


O Autor

Filipe Torres é Partner no escritório da BCG em Lisboa, tendo mais de 12 anos de experiência em consultoria estratégica.

Mestre em Engenharia e Gestão Industrial pelo Instituto Superior Técnico, tem também um MBA pela London Business School.

Ao longo da sua carreira na BCG, participou em projetos em diversos sectores e geografias com destaque para a área de bens industriais e infraestruturas. Em Portugal é também responsável pela área de sustentabilidade, onde tem liderado projetos estratégicos ligados ao sector florestal.

Origem: florestas.pt