Os ovinos e caprinos são particularmente afetados por doenças infeciosas crónicas, caracterizadas pelo emagrecimento progressivo dos animais afetados (figura 1). Neste grupo de doenças estão inseridas não só as lentiviroses dos pequenos ruminantes, mas também a paratuberculose, adenomatose, linfadenite caseosa, entre outras.

Originalmente distinguia-se o termo Maedi-Visna, para descrever a infeção por lentivírus em ovinos, de Artrite Encefalite Caprina para a doença em caprinos. Atualmente, a designação de lentiviroses dos pequenos ruminantes é usada de forma mais ampla e genérica. Apesar de poderem existir diferentes manifestações da doença em ovinos e caprinos, considera-se que estão associadas à infeção pelo mesmo grupo de vírus. Alguns dos elementos destes grupos parecem infetar apenas ovinos ou caprinos, enquanto outros podem transmitir-se entre ambas as espécies. Parece existir também evidência de que a raça pode influenciar a suscetibilidade e/ou resistência dos animais à infeção por lentivírus e à progressão da doença.

Figura 1. Sinais clínicos característicos da infeção por lentivírus dos pequenos ruminantes

Os estudos mais recentes têm demonstrado que esta infeção está presente em quase todo o mundo. Contudo, as taxas de animais e rebanhos afetados são muito diferentes entre continentes, países e até entre diferentes regiões do mesmo país. Realçamos que existe uma elevada taxa desta doença em vários países da Europa, nomeadamente em Portugal e em Espanha.

A transmissão destes vírus pode ocorrer a partir de progenitoras infetadas para as crias, nomeadamente, através do aleitamento. Os animais adultos podem infetar-se sobretudo pela inalação de partículas virais provenientes das secreções de animais infetados. A disseminação da doença pode ocorrer mais facilmente em sistemas de produção intensiva, onde a densidade animal é mais elevada. Durante o período de pastagem a transmissão parece ser extremamente reduzida. Este dado favorece os sistemas de produção em extensivo, que, em parte pela baixa densidade animal e maior período em pastagem, possuem habitualmente taxas de infeção mais baixas que os sistemas mais intensivos e de estabulação permanente.

Quando ocorre infeção por lentivírus em pequenos ruminantes o animal afetado será portador crónico desta. Posteriormente a doença desenvolvida pode afetar diferentes órgãos, tais como o pulmão, o sistema nervoso central, a glândula mamária e as articulações como representado na figura 2.

Invariavelmente os animais doentes vão apresentar diversos sinais (emagrecimento, debilidade, …) que se vão agravar com a progressão da doença. São necessários mais estudos que relacionem a presença da doença com os índices produtivos dos animais afetados e a rentabilidade da exploração. Sabemos neste momento que o impacto negativo faz-se sentir sobretudo na elevada taxa de refugo precoce dos animais infetados devido ao desenvolvimento de lesões e consequente diminuição da produção.

A avaliação clínica dos animais afetados é útil ao médico veterinário quando suspeita da presença desta infeção num rebanho. No entanto, e como a maioria destes animais é assintomático ou pode desenvolver os sinais clínicos tardiamente, os exames laboratoriais são essenciais para o diagnóstico. Ao longo dos tempos as atividades humanas influenciaram a ecologia das doenças sobretudo das infeciosas como as lentiviroses dos pequenos ruminantes. É essencial perceber como determinados fatores, tais como o comércio internacional e as práticas de maneio e criação, podem ter um importante papel na disseminação desta doença. Esse conhecimento, nomeadamente de fatores de risco pode sustentar o desenvolvimento de programas de controlo eficazes (…).

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Autoria: João Jacob-Ferreira¹,², Hélder Quintas¹

¹ Centro de Investigação de Montanha (CIMO), Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Campus de Santa Apolónia, Bragança, Portugal
² Centro de Ciência Animal e Veterinária, Vila Real, Portugal; Associate Laboratory for Animal and Veterinary Sciences (AL4AnimalS), Portugal

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