Foi assinado em 2022 um protocolo de colaboração entre o Município do Fundão e o COTHN-CC, com o objetivo de apoiar as atividades de experimentação instaladas nos Campos Experimentais do Município do Fundão.

Estes Campos Experimentais suportam um conjunto de atividades de experimentação, inovação, formação e apoio científico para o desenvolvimento e dinamização de projetos fundamentais que possam contribuir para a qualificação e competitividade do setor agrícola.

Neste âmbito, foram instalados vários campos de ensaios de variedades de cerejeiras, conduzidas em diferentes sistemas de condução, sendo que no presente artigo se apresentam os dados do primeiro ano de avaliação dos mesmos.

Variedades/métodos de condução:

Royal Tioga conduzida em Sistema UFO e KGB

Tamara conduzida em sistema UFO e KGB

Nimba conduzida em sistema UFO

Royal Helen conduzida em Sistema UFO e KGB

Nimba instalada no campo de Alcongosta conduzida em UFO

Relativamente às variedades Friso, Sabrina, Royal Bailey, Royal Helen instaladas em sistema UFO em Alcongosta não são apresentados resultados, pois ainda não foi possível ter uma produção representativa. Os dados que a seguir se apresentam foram recolhidos pelos técnicos do Centro Agro-tech e são ainda muito preliminares, pois resultam apenas de um ano. Para que os dados possam ter representatividade estatística, para se poderem retirar conclusões, será necessário manter a recolha de dados durante várias campanhas, não só para se poder estabilizar a produtividade das variedades em estudo, como perceber o seu comportamento perante diferentes condições climáticas.

1. Resultados quantitativos

No quadro que se segue apresentam-se os resultados da produção obtida por cada variedade e por sistema de condução.

Quadro 1. Dados de Produção

Os dados do ano de 2023 indicam o seguinte:

– Existe uma diferença significativa da produção em função do sistemas de condução, sendo o sistema UFO mais produtivo para as variedades Royal Tioga, Royal Helen e Nimba instaladas nos campos experimentais no Fundão;

– O sistema KGB parece ser mais produtivo na variedade Tamara, também nos campos experimentais do Fundão;

– A variedade Royal Helen foi a única que apresentou frutos rachados (a mesma proporção de frutos bons e rachados em cada um dos sistemas de condução);

– A variedade mais produtiva foi a Nimba conduzida em UFO nos campos experimentais localizados no Fundão;

– Em termos de precocidade no ano de 2023, a variedade Royal Tioga foi a primeira a ser colhida, seguida da Tamara em KGB, Nimba no Fundão em sistema UFO, Nimba em Alcongosta em sistema UFO, Royal Helen e finalmente a Tamara em UFO.

Na figura 1 e 2 encontram-se de forma gráfica a análise comparativa dos dados de produção, onde se consegue visualizar mais facilmente as diferenças acima enunciadas:

Figura 1. Dados de produção por variedade e método de condução
Figura 2. Data de colheita das diferentes variedades

2. Resultados Qualitativos

2.1 Análises realizadas no Centro Agro-tech

Para cada uma das variedades e modos de condução foram realizadas várias análises qualitativas e nutricionais.

Para as análises qualitativas relacionadas com o calibre, dureza, brix e cor, foram utilizadas 10 amostras de cada uma das variedades Royal Tioga , Royal Helen e Tamara em sistema UFO e KGB e Nimba em UFO.

Apresentam-se os resultados obtidos (média e desvio padrão com n=10) nos quadros seguintes:

De uma forma geral o modo de condução UFO parece conferir melhores atributos de qualidade ao fruto, embora as diferenças não sejam significativas estatisticamente neste primeiro ano de 2023. Fazendo a análise comparativa do comportamento das diferentes variedades em função do modo de condução, os resultados são os apresentados no gráfico seguinte:

Figura 9. Comparação entre as diferentes variedades conduzidas em UFO

Os resultados obtidos até ao momento aprecem indicar melhores resultado em termos de calibre e Brix para as variedades Royal Helen, Nimba e Tamara. Relativamente aos outros parâmetros não se manifestam, para já grandes diferenças. De realçar que as variedades Royal Helen e Nimba forma as mais produtivas neste sistema de condução.

Figura 10. Comparação entre as diferentes variedades conduzidas em KGB

Relativamente ao modo e condução dm KGB, existem diferenças significativas entre a variedade Royal Tioga e as duas outras variedades (Royal Helen e Tamara). Relativamente aos outros parâmetros parece não existir ainda grandes tendências definidas. Comparando os dois sistemas de condução, o sistema UFO apresenta de uma forma geral melhores valores para os parâmetros de qualidade para as variedades instaladas nos campos experimentais no Fundão.

2.2 Análises laboratoriais (CATAA)

Para complementar as análises qualitativas, foram realizadas análises no Laboratório do CATAA, que passamos a apresentar seguidamente. Para cada uma das variedades foram analisados um conjunto de parâmetros que se encontram listados no quadro e gráfico em baixo:

Quadro 5. Comparação do valor médio e desvio padrão dos parâmetros
de sólidos solúveis, textura, PH, acidez total e peso entre as variedades
Royal Tioga, Royal Helen, Tamara (duas épocas de colheita)
Figura 11. Comparação dos parâmetros laboratoriais das diferentes variedades

De uma forma geral os resultados das análises vão ao encontro dos resultados já indicados anteriormente:

Em termos de brix e textura as variedades com níveis mais elevados são a Royal Helen e Tamara colhida em junho, mas com diferenças pouco significativas.

Em termos de acidez total a variedade Tamara parece ter os valores mais elevados.

Em termos de peso destaca-se pela negativa a variedade Royal Tioga.

Em termos de valor energético existem diferenças entre as variedades Tamara colhida em maio e a Nimba, que parecem com valores mais baixos relativamente às restantes variedades.

Em termos de açucares totais seguem sensivelmente o mesmo comportamento já identificado para o parâmetro brix.

Para o parâmetro cor, foi utilizado o sistema CIELAB em que são analisadas 3 coordenadas retangulares:

L* mede a variação da luminosidade entre o preto (0) e o branco (100) claro e escuro

a* é uma coordenada da cromaticidade, define a cor vermelha para valores positivos e a cor verde para valores negativos

b* é uma coordenada da cromaticidade, define a cor amarela para valores positivos e a cor azul para valores negativos (…).

→ Leia o artigo publicado na Revista Voz do Campo: edição de julho 2024

Autoria: Maria do Carmo Martins, Secretária-geral do COTHN-CC