O medronheiro (Arbutus unedo), uma planta nativa da região mediterrânica, tem uma longa história de utilização no setor agrícola, destacando-se pela produção de aguardente de medronho. No entanto, o fruto deste arbusto possui um potencial ainda subaproveitado para o consumo em fresco e para o desenvolvimento de produtos diferenciados.
A campanha de 2024 foi particularmente fraca para este fruto, mas, apesar disso, Portugal mantém-se como um dos principais produtores de medronho. Com o aumento de novas áreas de plantação de medronheiros, adição de rega e utilização de clones, torna-se imprescindível pensar na diversificação dos produtos, indo muito além da aguardente de medronho.
O potencial do medronho em fresco
O consumo de frutas frescas está associado a diversos benefícios para a saúde, e o medronho é um exemplo disso, com o seu perfil nutricional rico em antioxidantes, fibras, vitamina C e compostos fenólicos. Contudo, a sua comercialização enfrenta desafios significativos devido à perecibilidade do fruto, como o curto tempo de prateleira e a sensibilidade ao manuseio.
Alguns estudos apontaram soluções promissoras para ultrapassar estas dificuldades. A conservação pelo frio é um aliado importante. A temperatura ótima de conservação para o medronho é de cerca de 0°C, com uma humidade relativa de 90-95%, permitindo uma vida útil de 21-28 dias. Adicionalmente, o uso de películas edíveis – compostas por materiais naturais como alginato ou pectina, enriquecidas com mel (5%), citral (1,5%) e eugenol (1%) – demonstrou ser uma alternativa eficaz para aumentar o seu tempo de vida. Estas películas criam uma camada protetora ao redor do fruto, diminuindo a perda de humidade, atrasando a oxidação e protegendo contra danos durante o transporte. Como resultado, a durabilidade e a qualidade do medronho são substancialmente aumentadas.
Outros estudos também têm avaliado diferentes condições de armazenamento, incluindo temperaturas controladas e atmosferas modificadas, para maximizar o tempo de prateleira do medronho fresco. Estas abordagens mostram-se essenciais para garantir que o fruto chegue ao consumidor final com um sabor autêntico e as suas propriedades nutricionais intactas.
O medronho fresco não se apresenta apenas como um alimento funcional, mas também uma opção diferenciada para quem procura experimentar frutas menos comuns. A sua inclusão em dietas saudáveis pode atrair consumidores preocupados com a saúde e interessados em produtos naturais e sustentáveis. Campanhas de marketing direcionadas e educação do consumidor são fundamentais para aumentar a procura por este fruto em fresco, criando oportunidades de mercado para os produtores.
Inovações no desenvolvimento de produtos
O medronho tem demonstrado uma versatilidade notável, sendo utilizado no desenvolvimento de uma vasta gama de produtos que aproveitam ao máximo as suas características únicas, e que a Universidade do Algarve tem vindo a desenvolver vários estudos nesse sentido, um exemplo é a combinação de medronho com iogurte originou snacks saudáveis e atrativos, com texturas otimizadas que agradam tanto a crianças como a adultos. As compotas de medronho, por sua vez, foram reinventadas para oferecer opções com sementes, que preservam a autenticidade do fruto, e sem sementes, destinadas a consumidores que preferem texturas mais suaves. As caldas de medronho também foram aperfeiçoadas, garantindo equilíbrio nos sólidos solúveis para um sabor agradável e estabilidade microbiológica.
No setor de panificação e confeitaria, o medronho tem sido incorporado em receitas de pão, bolos e tartes, criando uma linha de produtos inovadores que valorizam o seu perfil nutricional e sabor distinto. Além disso, os processos de desidratação – como a liofilização e a desidratação osmótica – prolongam a vida útil do fruto, mantendo as suas propriedades sensoriais e nutricionais. Outra aplicação interessante é o uso do medronho na produção de chocolates e patés. A polpa do fruto confere um toque gourmet aos chocolates, enquanto os patés podem ser combinados com outros ingredientes. Estas iniciativas mostram que o medronho tem potencial não apenas no mercado tradicional, mas também no segmento premium, atraindo consumidores em busca de experiências gastronómicas diferenciadas.
Entretanto, existem desafios significativos, como o custo de implementação destas tecnologias e a necessidade de sensibilizar os consumidores para os novos produtos. Investimentos em marketing e educação são cruciais para aumentar a aceitação e reconhecimento do medronho.
O medronho é muito mais do que a base da tradicional aguardente. Com avanços tecnológicos e uma abordagem inovadora para o seu processamento, este fruto pode ganhar espaço em mercados diversificados, promovendo a sustentabilidade e a inovação no setor agrícola.
Investir na valorização do medronho não só contribui para a preservação da biodiversidade e das tradições locais, mas também proporciona aos produtores novas oportunidades de rendimento.
Adriana Guerreiro, PhD
Investigadora e Engenheira Agrónoma
Centro de Eletrónica, Optoeletrónica e Telecomunicações (CEOT)
Centro de Investigação em Sistemas Ciberfísicos do Algarve (CISCA)
Faculdade de Ciências e Tecnologia – Algarve University
→ Leia este e outros artigos publicados na edição de fevereiro 2025 da Revista Voz do Campo.





