A importância do solo enquanto fator de sustentabilidade e produtividade foi debatido por André Antunes, consultor em resiliência agropecuária, que sublinhou a importância da análise detalhada tanto do solo quanto das necessidades nutricionais do milho para garantir uma produção eficiente e sustentável. Para o consultor, “uma das primeiras coisas que tem que se perceber é ao nível do solo, que nutrientes é que nós temos em deficiência mas também em excesso”. Este é o ponto de partida para entender a dinâmica nutricional do milho, essencial para o sucesso da cultura.
André Antunes explicou que, durante o ciclo do milho, é necessário compreender quando fornecer cada um dos nutrientes essenciais, como o azoto, fósforo, potássio, boro e zinco, para garantir o crescimento saudável da planta.
“Perceber quando é que se deve fazer um aporte desses nutrientes dentro da logística da cultura do milho na altura correta é crucial, pois o momento certo de aplicação pode fazer toda a diferença na produtividade”, analisa.
Para além disso, André Antunes destaca a importância da microbiologia do solo, onde sugere que os agricultores considerem o uso de “produtos de inoculação de sementes”, o que pode ser uma estratégia eficiente para melhorar a saúde do solo e a qualidade das plantas. Além disso, ressaltou a impor- tância de escolher “sementes de qualidade, obviamente com ciclo adaptado à zona do país em causa”.
Para os agricultores mais “avançados”, o consultor recomenda a realização de “análises mais completas, nomeadamente foliares e análises de seiva”, que já estão a ser utilizadas por alguns produtores de milho, nomeadamente nos Açores. Segundo André Antunes, essas análises permitem um controle mais preciso das necessidades nutricionais das plantas ao longo do ciclo, com a aplicação de nutrientes de forma “cirúrgica” e na hora exata.
Já Stéphane Jesequel, diretor técnico da Arvalis, falou sobre as principais condicionais técnicas da produção de milho em Portugal. No contexto da crescente ameaça do Datura para os produtores de milho na Europa, o especialista à nossa reportagem enfatizou a necessidade de uma abordagem integrada e abrangente para controlar o Datura. Uma das primeiras e mais essenciais etapas no controle do Datura, de acordo com diretor técnico da Arvalis, é a observação constante e a vigilância de todo o território, não se limitando apenas às áreas agrícolas, mas também às zonas urbanas, parques e até mesmo em áreas de lazer.
Stéphane Jezequel também abordou a questão do controle do Datura diretamente nos campos de milho através da monda química, mas é preciso ter um cuidado específico com o escalonamento das plantas. “A dificuldade é de controlar o escalonamento, já que há plantas precoces e tardias”, explica o especialista. Por isso, a programação das mondas é essencial para garantir que todas as plantas sejam controladas de forma eficaz.
Ainda assim, mesmo com o uso de técnicas de monda química, Stéphane Jezequel alerta para a possibilidade de ainda existir Datura no campo após a colheita do milho. Quando isso ocorre, a única solução eficaz é a monda manual.
Além das estratégias de controle no campo, o especialista destaca também a importância de evitar a contaminação das sementes de milho e das máquinas de colheita. “É fundamental retirar as sementes de Datura nas sementes de milho, após a colheita, e também limpar as máquinas de colheita”, considera. Caso contrário, as toxinas do Datura podem contaminar toda a maquinaria de colheita e, consequentemente, as futuras colheitas de milho.
Por sua vez, Luís Queirós, diretor global para a área de aditivos para forragens da Lallemand Animal Nutrition, abordou a importância da silagem de milho na obtenção de um leite de qualidade. Para Luís Queirós, a componente agronómica é crucial e começa com a seleção do híbrido adaptado à zona de produção. “O híbrido terá que ter em conta uma elevada produção de matéria seca, que está intimamente ligada à elevada produção de grãos”, afirma, salientado ainda que mais de 50% da matéria seca numa silagem de milho vem do grão, o que torna essencial a ligação entre a produção de grãos e a produção de matéria seca.
Além disso, a definição da época de colheita é considerada por Luís Queirós como um fator fundamental. “Nada consegue ser mais poderoso do que uma definição concreta da época de colheita”, diz, apontando que a escolha correta da época de colheita permite não só otimizar a produção por hectare, mas também a qualidade da produção de grão, um fator chave para uma silagem de excelente qualidade.
Após a colheita, a preservação da silagem é igualmente importante.
Para o diretor da Lallemand, o processo de preservação fermentativa da silagem de milho, que transforma a silagem um produto homogéneo ao longo do ano, deve ser controlado para evitar perdas. “Se não quisermos perder em média mais de 15% daquilo que produzimos no campo, temos que saber como preservar”, afirma. A chave para isso é o controle da higiene da silagem e a gestão dos microrganismos envolvidos na fermentação. Luís Queirós explica que é essencial “potenciar os microrganismos que promovem uma boa fermentação”, ao mesmo tempo que se devem inibir os microrganismos indesejáveis, como fungos e leveduras, que são prejudiciais à qualidade da silagem. Assim, ao controlar esses fungos e leveduras, é possível “aumentar a eficiência alimentar, porque um quilograma de matéria seca produz mais leite”. Além disso, a eliminação de fungos e leveduras também contribui para a prevenção de distúrbios metabólicos e problemas de sanidade animal, que estão associados à presença de micotoxinas produzidas por esses microrganismos. Luís Queirós concluiu que, ao controlar tanto a componente agronómica como a de preservação, é possível não apenas aumentar a quantidade de leite por quilograma de matéria seca, mas também melhorar a qualidade do leite, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais: “Conseguindo controlar isso, conseguimos não apenas uma quantidade elevada de leite, mas também uma qualidade em termos de sanidade, higiene e bem-estar animal”.
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