O Dia do Agricultor foi assinalado no passado dia 20 de maio no Pólo de Inovação do INIAV de Elvas (ENMP).

Na Herdade da Comenda o programa incluiu um circuito de ateliers técnicos, dedicados à inovação e sustentabilidade agrícola, com destaque para temas como a produção de forragens com agricultura de precisão, pastagens e balanço de carbono, multiplicação de sementes de cereais praganosos e a diversificação com proteaginosas. Em sala teve lugar a mesa-redonda, sob o tema “Da Diversidade Genética à Segurança do Consumidor”, com a participação de várias entidades.

Benvindo Maçãs, diretor da Unidade Estratégica de Investigação e Serviços de Biotecnologia e Recursos Genéticos do INIAV sublinha à Voz do Campo a “adesão tremendíssima” ao evento, que espelhou o crescente interesse pelo trabalho científico e técnico que ali se desenvolve. “Estamos aqui a mostrar uma parte muito significativa do nosso trabalho, que é promover a multiplicação de semente das nossas variedades”, afirma.

Este processo é essencial para garantir que as novas variedades inscritas no catálogo nacional possam ser produzidas com qualidade e em conformidade com os rigorosos protocolos de certificação oficial. Segundo Benvindo Maçãs, “a semente é o princípio de tudo” e, por isso, não há margem para erros. “Não admitimos uma semente que seja diferente daquela que estamos a multiplicar, não admitimos ervas infestantes, não admitimos doenças”, reforça. Este nível de exigência implica condições excecionais, como as oferecidas pela Herdade da Comenda – solos de elevada qualidade, parcelas bem organizadas e uma área considerável para permitir a rotação de culturas e evitar contaminações.

Além da produção de sementes, a Herdade serve também como modelo de integração entre a produção animal e vegetal. “Acompanhamos a produção animal integrada no nosso sistema com a produção de pastagens e de forragens”, explica o diretor. Esta abordagem pretende contribuir para a sustentabilidade do setor, reduzindo a dependência de rações importadas: “É impossível assegurar a sustentabilidade económica se estivermos dependentes da compra de alimentos produzidos fora das nossas explorações”.

Herdade da Comenda é fundamental

O evento contou com a participação de instituições como os Institutos Politécnicos de Portalegre e de Castelo Branco, o Centro de Competências do Pastoreio Extensivo, o Centro de Competências dos Cereais Praganosos, Oleaginosas e Proteaginosas, a ANPOC, entre outros parceiros. “Esta rede de colaboração assegura um processo contínuo de cocriação de conhecimento e inovação nos programas de melhoramento genético”, partilha Benvindo Maçãs e o mesmo concluiu que a Herdade da Comenda é “fundamental” não só para a multiplicação de sementes de elevada qualidade, mas também como polo de produção de conhecimento e promoção de práticas sustentáveis na agricultura nacional.

Após as visitas às parcelas experimentais na Herdade da Comenda, o Dia do Agricultor 2025 incluiu, no seu programa, uma mesa-redonda intitulada “Da Diversidade Genética à Segurança do Consumidor”. O objetivo desta mesa-redonda passou por evidenciar o papel do melhoramento de plantas e de uma abordagem de fileira na resposta aos desafios – geopolíticos, edafoclimáticos – que continuamente se colocam ao setor agrícola e, em particular, às culturas trabalhadas no Pólo de Inovação de Elvas. No final, realizou-se o tradicional almoço convívio.

“O INIAV faz aqui um trabalho de melhoramento de variedades e de testagem de variedades adaptadas às nossas condições”

José Palha, presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais – ANPOC, recorda-nos que “a produção de cereais em Portugal, historicamente, é uma produção baixa”. Referiu que “Portugal partiu para os descobrimentos exatamente porque não éramos autossuficientes na produção destes cereais” e sublinha a importância de adaptar as variedades às condições edafoclimáticas nacionais: “É muito importante que as variedades estejam perfeitamente adaptadas ao nosso clima e às nossas condições, absolutamente diferentes do que se encontra, por exemplo, em Paris ou no norte da Europa”.

Neste sentido, José Palha, enaltece o trabalho realizado pelo INIAV na Herdade da Comenda como “extraordinário”, referindo que “o INIAV faz aqui um trabalho de melhoramento de variedades e de testagem de variedades adaptadas às nossas condições” e que “enquanto agricultores, o que queremos é variedades produtivas, resistentes às doenças e que permitam ter rendimento pelo nosso trabalho”.

E acrescenta: “Para se continuar a produzir é preciso que os agricultores tenham rentabilidade, e só com variedades adaptadas às nossas condições é que essa rentabilidade é possível”. Sobre a dependência externa, afirma que “Portugal importa 95% das suas necessidades em trigo mole. O trigo é a base da alimentação quer humana, quer animal”, o que torna o país altamente vulnerável a crises internacionais. Referiu os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia como momentos em que “o mercado entrou em ebulição”, destacando que, apesar de algumas consequências positivas pontuais para os produtores, a dependência externa continua a ser um risco estratégico.

A marca Cereais do Alentejo

Nesse contexto, explica a criação da marca Cereais do Alentejo, em 2017: “É uma marca totalmente rastreada desde o momento da sementeira até à moagem”, com garantia de “melhores práticas agrícolas e ambientais”. Sublinha que, apesar de não haver grandes quantidades, “nós conseguimos ter muita qualidade. Colhemos os cereais no ponto ótimo de maturação, sem nenhum tipo de humidade, o que dá uma qualidade enorme”.

A parceria com grandes superfícies, como o Grupo Sonae, foi fundamental para a valorização do produto: “Conseguimos negociar com as grandes superfícies a um preço que, à partida, o agricultor sabe que vai receber, não estando sujeito à volatilidade do mercado”.

“Uma montra viva da inovação tecnológica agrícola”

Luís Alcino, coordenador do InovTechAgro, destacou no Dia do Agricultor o trabalho contínuo de inovação tecnológica em contexto real, desenvolvido em parceria com o INIAV em Elvas. “O que tivemos aqui a mostrar foi um trabalho continuado, que vem de há anos, num piloto em que temos parceria com o INIAV, numa parcela à escala do agricultor, que pode visitar todos os dias e relacionar com aquilo que tem em sua casa”, adianta à nossa reportagem Luís Alcino.

O foco está na agricultura de conservação, com técnicas como a sementeira direta, e no uso de tecnologias de monitorização remota.

“Começámos com cartografia digital do solo, padrão meteorológico local e depois introduzimos metodologias de aplicação de fatores de produção a dose variável, nomeadamente a fertilização”, descreve.

Recentemente, o projeto deu um salto tecnológico com a introdução de um sensor de azoto em linha, fruto de uma parceria internacional. “É um sensor que trabalha diretamente com a linha USB do trator e faz essa dose variável sem precisar de carta de prescrição – é o topo de gama naquilo que há neste tipo de tecnologia”, realça o coordenador do InovTechAgro.

Paralelamente, foram realizados ensaios com drones de categoria específica para aplicação de fertilizantes. “Foi determinante no inverno que tivemos este ano. Já conseguimos alguns resultados e o agricultor começa a aderir, percebendo que pode agilizar o itinerário cultural quando o trator convencional não consegue”, sustenta.

O evento incluiu um ateliê com três demonstradores, representando uma montra viva da inovação tecnológica agrícola. Luís Alcino sublinha ainda que este trabalho, com origem em Elvas, está a ser replicado noutras regiões do país: “O INIAV tem-nos ajudado muito a levar o conhecimento para outros pilotos, como o Agrotech Fundão (…)”.

→ Leia este e outros artigos completos na Revista Voz do Campo  edição de junho 2025, disponível no formato impresso e digital.

A Voz do Campo esteve no local.
Recorde alguns momentos na vídeo-reportagem:

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