Capota de amêndoa – O que é e qual a sua relevância?

A capota de amêndoa é um coproduto da produção de amêndoa que atualmente se encontra altamente disponível em Portugal, devido ao grande aumento da instalação de amendoais que ocorreu nos últimos anos, principalmente no sul do País. A capota de amêndoa é a casca verde que reveste a casca dura da amêndoa (Figura 1). Representando 35 a 62% do peso fresco total do fruto [1], apresenta características químicas e nutricionais que a distinguem de outros coprodutos, sendo rica em açúcares (256 g/kg matéria seca (MS)), com níveis moderados de fibra (315 g/kg MS de fibra em detergente neutro), pobre em proteína (63 g/kg MS) e com uma digestibilidade da MS in vitro na ordem dos 57% [2]. É ainda uma fonte de compostos bioativos, como compostos fenólicos e vitaminas com potenciais benefícios na saúde animal e na qualidade dos seus produtos [3].

Utilização da capota da amêndoa na alimentação de borregos

Os primeiros estudos publicados sobre a utilização de capota de amêndoa na alimentação de borregos surgiram nos anos 40-50 do século XX [4, 5]. Estes estudos mostraram o potencial deste recurso alimentar quando utilizado na engorda de borregos. Ainda no século XX, Vonghia et al. [6] mostrou que a inclusão de 15 e 30% de capota de amêndoa em dietas isoproteicas e isoenergéticas não comprometiam o desempenho produtivo dos animais. Apenas na última década foram publicados um maior número de trabalhos sobre a utilização de capota de amêndoa na engorda de borregos. Estes trabalhos mostram que a capota de amêndoa pode ser utilizada quer para substituir alimentos forrageiros como para substituir os cereais nas dietas. A utilização da capota de amêndoa tratada com ureia para substituir 50 ou 100% do feno de luzerna numa dieta com 40:60 forragem:concentrado não afetou o consumo de matéria seca e o crescimento dos animais [7]. Também Phillips et al. [8], utilizando 5 e 10% de capota de amêndoa em substituição de luzerna numa dieta à base de luzerna:concentrado (35:65), não observaram qualquer impacto negativo no crescimento, no consumo de alimento e nas características da carcaça e da carne dos borregos.

Nos estudos mais recentes, a capota de amêndoa tem sido utilizada para substituir parte dos cereais da dieta. Recalde et al. [11] com 6 e 12% de capota da amêndoa em substituição de cevada e farelo de trigo não observou alterações na digestibilidade das dietas nem no desempenho produtivo dos borregos. Também Scerra et al. (2022) incorporaram 15 e 30% de capota de amêndoa numa dieta à base de concentrado reduzindo os cereais nas dietas sem afetar o crescimento dos borregos ou a qualidade da carne, nomeadamente a composição em ácidos gordos [9]. No entanto, a utilização de 40% de capota de amêndoa na dieta afetou negativamente o desempenho produtivo dos animais [10]. Nestes trabalhos observaram-se melhorias significativas na estabilidade oxidativa da carne com dietas contendo 15, 30 e 40% de capota de amêndoa [9, 10].

Resultados obtidos pela nossa equipa

O nosso grupo de investigação tem vindo a explorar a substituição total ou parcial de cereais em dietas ricas em forragem por coprodutos com elevadas quantidades de açúcar, como a capota de amêndoa, com o objetivo de compatibilizar o desempenho produtivo e a qualidade da carne. Num desses trabalhos foi avaliado o efeito da substituição parcial dos cereais por níveis crescentes de capota de amêndoa (9 e 18%) numa dieta para borregos com 40:60 de forragem: concentrado sobre o desempenho produtivo, a qualidade da carcaça e da carne e custos com a alimentação (Figura 2) [12].

A substituição de parte dos cereais por 9 e 18% de capota de amêndoa não afetou o ganho médio diário (349 g/d), mas a conversão alimentar foi superior na dieta com 18% de capota de amêndoa. A qualidade da carcaça e da carne não foram afetadas pela inclusão de capota de amêndoa nas dietas, com exceção da força de corte que foi menor na carne dos animais alimentados com capota de amêndoa. De destacar também a menor oxidação lipídica da carne cozinhada proveniente dos borregos que receberam a dieta com 18% de capota de amêndoa. O custo unitário das dietas reduziu 5% e 10%, respetivamente nas dietas com 9 e 18% de capota de amêndoa, relativamente à dieta controlo. Apesar da redução de custo ter sido relevante na dieta com 18% de capota de amêndoa, o custo por kg de ganho de peso vivo foi semelhante ao da dieta controlo devido ao aumento do índice de conservação.

Conclusão

Os resultados mostram que a capota de amêndoa pode ser utilizada na engorda de borregos, quer como fonte de fibra como de energia, sem comprometer o desempenho produtivo e a qualidade da carcaça e da carne. A utilização de coprodutos agrícolas e agroindustriais na alimentação animal em alternativa a recursos alimentares convencionais apresenta-se como uma opção viável, contribuindo para reduzir o custo da alimentação, a dependência externa de matérias-primas e a vulnerabilidade a que pecuária mediterrânica está sujeita devido às alterações climáticas.

→ Leia este e outros artigos completos, na Revista Voz do Campo  edição de junho 2025, disponível no formato impresso e digital.

Autoria

Liliana Cachucho a,b,c, Susana P. Alves b,c,d, Mª. Teresa P. Dentinho b,e, Eliana Jerónimo a,f

Bibliografia, Agradecimentos e Autoria

Agradecimentos

Projeto SubProMais financiado pelo FEADER através do PDR2020 e FCT pelo financiamento da bolsa de doutoramento de LC (2020.05712.BD) e dos projetos MED (UIDB/05183/2020), CIISA (UIDB/00276/2020), CHANGE (LA/P/0121/2020) e AL4AnimalS (LA/P/0059/2020).

Bibliografia

https://qr.me-qr.com/pt/text/uMUOWE2O

Autoria

a Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Alentejo (CEBAL) / Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), 7801-908 Beja, Portugal
b Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal (CIISA), Avenida da Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa, Portugal
c Associate Laboratory for Animal and Veterinary Sciences (AL4AnimalS), Avenida da Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa, Portugal
d Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, Avenida da Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa, Portugal
e Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, Polo de Inovação de Santarém, Quinta da Fonte Boa, 2005-048 Vale de Santarém, Portugal
f MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento & CHANGE – Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade, CEBAL, 7801-908 Beja, Portugal


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