Existem muitos fatores que não controlamos porque vivemos numa economia liberalizada, num mercado aberto e à escala global.

A redução da oferta em muitos setores e alguns deles ligados à produção animal continuarão altistas apenas pelas realidades dos mercados (gripe aviária, peste suína africana, para além do Centro e Leste da Europa, também na China, menos animais em produção, custos em alta…), pelo que convêm não fazer demagogia ou populismo.Afinal, pouco mais de um ano desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia e numa altura em que os russos pressionam para suspender o acordo do Mar Negro, depois de concordarem pela sua prorrogação por 60 dias e não os anteriores 120 dias, o que mudou verdadeiramente? O que (não) aprendemos com a guerra?

O tema dos cereais, bem mais importantes para os monogástricos e menos para os ruminantes, simboliza antes de mais a problemática das matérias-primas para a alimentação animal (e humana, no caso do trigo), sobretudo num país tão dependente e, consequentemente, demasiado exposto à volatilidade dos mercados e a quaisquer “incidentes” na conjuntura internacional.

Recorde-se que, há um ano, exatamente em março, em plenas Jornadas Internacionais da Suinicultura, o que estávamos então a discutir era a escassez dos cereais, stocks nas empresas para não mais de 5 dias (3 dias em muitos casos), o País tinha reservas para duas semanas, pelo que tínhamos de arranjar rapidamente alternativas para a origem ucraniana e num curto espaço de tempo.

A opinião pública e publicada ficou a perceber melhor as nossas vulnerabilidades, as questões da soberania alimentar, já faladas durante a pandemia (novamente esquecidas?), nacionais e europeias, ganharam nova atualidade e dramatismo, ficámos todos a saber que o celeiro de Portugal era, afinal, a Ucrânia, com um peso de mais de 40% no nosso abastecimento.

Houve que unir esforços, negociar rapidamente com Bruxelas algumas derrogações em matéria de OGM e de Limites Máximos de Resíduos, algumas limitações sem grande sentido porque existe uma base científica que devia impor-se como principal fator de decisão, e a diferenciação de regras entre a Europa e os nossos principais fornecedores ainda fazem menos sentido num mercado globalizado, porque alguns Estados-membros, não apenas no Sul mas no Centro e Leste da Europa, são altamente dependentes de matérias-primas para a alimentação animal e as alternativas são (por enquanto) muito reduzidas (…).

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Autor:
Jaime Piçarra
Secretário-Geral, Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais