A aplicação de biocarvão, derivado de madeira de pinho, a solos em risco de erosão ou desertificação permite uma redução de 16% na erosão e de 25% na escorrência destes solos, segundo os resultados de uma meta-análise global – a primeira do género nestas temáticas. Os resíduos de madeira são sujeitos a tratamento térmico, na ausência de oxigénio, resultando num biocarvão, também designado biochar. O estudo foi publicado no jornal científico interdisciplinar “Science of the Total Environment”.A equipa Biocharcology do Departamento de Ambiente e Ordenamento (DAO) da Universidade de Aveiro (UA) e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) liderou o estudo “Biochar impacts on runoff and soil erosion by water: A systematic global scale meta-analysis”, no âmbito do plano de doutoramento de Behrouz Gholamahmadi (“WATERDESERT”) e do projeto “SOILCOMBAT”, ambos financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
No entanto, conforme assinala o doutorando, nem sempre a aplicação aos solos de biocarvão – produto carbonáceo derivado da pirólise (tratamento térmico na ausência de oxigénio) da biomassa vegetal – tem efeitos positivos a este nível, sendo a sua eficácia muito dependente das características do próprio biocarvão, do tipo de solo, de fatores climáticos e ambientais, e das condições metodológicas. Considerando, por exemplo, a textura do solo, a meta-análise demonstrou que a aplicação do biocarvão leva a uma redução da erosão entre os 16% e os 21% para solos com uma textura grosseira ou média, mas para solos com textura fina, não foram encontradas reduções significativas. A temperatura a que o biochar é pirolizado é, também, outro fator relevante: temperaturas de pirólise superiores a 500°C estão associadas a uma redução da erosão 1,9 vezes superior à de temperaturas de pirólise entre os 300°C e os 500°C.
Numa recente experência em campo, a equipa avaliou os impactos de um biocarvão (derivado da madeira de pinho) na erosão e nas escorrências de um solo vitivinícola da Bairrada, tendo resultado em efeitos ainda mais expressivos que os publicados nesta meta-análise. Atualmente, a equipa encontra-se a monitorizar estes mesmos parâmetros em três solos de pastagens vulneráveis em Portugal, pelo que se espera a publicação destes resultados ainda este ano.
“Isto sugere que o biocarvão pode ter uma contribuição importante no restauro de solos degradados, assim como na adaptação das práticas de gestão do solo às alterações climáticas, em particular condições mais secos”, explica o investigador Frank Verheijen, orientador da tese de doutoramento do Behrouz. “É necessária mais investigação nestas temáticas, com vista ao desenvolvimento de políticas de gestão adequadas”, acrescenta.
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