A Fertiprado, é hoje uma referência nacional e internacional, com foco no desenvolvimento de misturas biodiversas ricas em leguminosas para pastagens, forragens, culturas de revestimento, interculturas e adubações verdes.

José Freire, diretor comercial e marketing da Fertiprado, nesta entrevista revela que o conceito desenvolvido pelo Eng.º David Crespo (o fundador da Fertiprado) e a sua visão demorou cerca de 3 décadas para começar a ter alguma aceitação. Hoje estes conceitos são incontornáveis para os sistemas agrícolas modernos.

Passados 33 anos desde a sua constituição, o que é hoje a Fertiprado? 

Em termos de identidade, somos a mesma empresa de há 33 anos. Carregamos no nosso ADN os valores então preconizados pelo nosso fundador, o Eng.º David Crespo. E que valores são estes? Há 33 anos a palavra sustentabilidade não estava na moda, mas foi com esta em mente que o Eng.º David Crespo desenvolveu o princípio do uso da biodiversidade e das leguminosas como ferramentas para esta sustentabilidade. Fazer este trabalho apostando sempre na qualidade, no conhecimento, na melhoria contínua, na proximidade ao agricultor e no seu aconselhamento técnico, conduziu a Fertiprado ao que é hoje.

Somos uma equipa de pessoas que partilham estes e outros valores e que trabalham afincadamente para servir os agricultores com mais e melhores soluções.

A sustentabilidade dos sistemas agropecuários continua a ser uma das vossas preocupações? 

Sim. E hoje juntamos aos sistemas agro-pecuários os sistemas puramente agrícolas. Já desenvolvemos e continuamos a desenvolver uma série de soluções para vinhas, olivais, amendoais e outros pomares e até para os grandes parques de painéis solares. Desenvolvemos adubações verdes para culturas horto-industriais como o tomate, o pimento, os brócolos e para culturas arvenses como o milho e o arroz.

Em colaboração com diversos institutos e universidades, aprofundámos o nosso conhecimento sobre o impacto da biodiversidade das plantas no solo e o impacto que isto tem na sua fertilidade e sanidade. Por exemplo, desenvolvemos para a cultura do tomate soluções que permitem evitar problemas com nemátodos fitoparasitas.

Aprofundámos também o nosso conhecimento sobre o impacto da biodiversidade das plantas nas populações de insetos e com este conhecimento desenvolvemos misturas para evitar problemas com pragas. Por exemplo, em colaboração com a Universidade de Sevilha, participámos num estudo que concluiu que com a mistura certa de plantas, conseguimos evitar problemas com a mosca branca em pomares de citrinos.

Quais as vantagens que as misturas biodiversas ricas em leguminosas oferecem? 

São inúmeras e felizmente todas elas hoje bastante comprovadas. Refiro apenas as principais e mais óbvias:

– Redução do uso de fertilizantes de síntese química, nomeadamente o azoto. Este é hoje um factor de competitividade muito relevante pois este fertilizante é caro e a sua produção está dependente do uso de grandes quantidades de combustíveis fosseis.

– Redução do uso de proteínas importadas. Na Europa não produzimos soja, que é a principal fonte de proteína da alimentação animal. Ao produzirmos forragens naturalmente ricas em proteína, poupamos na proteína das rações, que é normalmente o nutriente mais oneroso.

– Proteção e melhoria do solo, não só pela fixação de azoto atmosférico, mas também pelo aumento da matéria orgânica e da biodiversidade da sua microfauna. São assim solos mais férteis, com maior capacidade de armazenamento de água e logo mais produtivos e mais sãos.

– Promoção da biodiversidade global. A uma cobertura do solo mais biodiversa, corresponde uma maior biodiversidade de macro e microrganismos no ecossistema.

– Sequestro de carbono atmosférico sob a forma de matéria orgânica no solo.

Enfim, poderíamos continuar enumerando mais vantagens, e esmiuçar cada um destes pontos (…) mas fiquemos por aqui.

A Empresa tem promovido através da sensibilização dos diferentes mercados, nacionais e internacionais, a importância das misturas bio diversas ricas em leguminosas na proteção do meio ambiente e, particularmente, dos solos. Como vê este crescimento? A aceitação dos mercados tem sido positiva? Neste âmbito que projetos de investigação e inovação têm em curso?

O conceito desenvolvido pelo Eng.º David Crespo, que tira proveito do uso da biodiversidade e das leguminosas tem mais de 60 anos. A sua visão demorou cerca de 3 décadas para começar a ter alguma aceitação. Hoje estes conceitos são incontornáveis para os sistemas agrícolas modernos. Usam-se muitos termos para descrever estes sistemas agrícolas: biológico, regenerativo, biodinâmico, holístico, etc. Todos eles com pequenas diferenças, mas todos eles com a mesma base, e nesta base o uso da biodiversidade e das leguminosas é imprescindível.

E mais: mesmo os sistemas agrícolas ditos convencionais têm hoje componentes de exigência que os levam a adoptar estas práticas. A componente de exigência mais importante é a económica. Estas ferramentas, quando bem usadas permitem ganhos económicos muito relevantes. Mas para além disso, o mercado exige, as políticas agrícolas direcionam, e, sobretudo a consciência dos empresários agrícolas impõe práticas de sustentabilidade que contemplem o presente e o futuro.

Temos vários projetos de investigação em curso neste âmbito. Projetos que vão desde a promoção da biodiversidade para aumento da fertilidade do solo, passando por projetos de desenvolvimento de soluções para controlo de pragas, até projetos de desenvolvimento de novos inoculantes de sementes com microrganismos benéficos.

Continuamos com projetos de desenvolvimento de novas variedades com diferentes objetivos. Neste momento um dos focos é a obtenção de variedades que respondam melhor aos stresses causados pelas alterações climáticas.

Em termos de produtos, lançaram recentemente a Gama ReCover. Que gama é esta? 

São misturas que têm como objetivo aumentar de uma forma rápida a produção e a biodiversidade de prados já instalados.

É uma gama que temos vindo a estudar há alguns anos e que hoje faz bastante sentido. Faz sentido numa altura que vimos de uma série de anos climaticamente muito complicados o que nalguns casos conduziu à erosão da biodiversidade dos prados. Com o ReCover, os agricultores podem recuperar esta biodiversidade e melhorar a produção com um investimento relativamente baixo, pois a instalação é feita com sementeira directa e com uma dose baixa de sementeira.

Por outro lado, os prados instalados já acumularam muita matéria orgânica, melhorando a fertilidade do solo e a sua capacidade de retenção de água. Recuperar o prado com plantas com maior potencial forrageiro evita desperdiçar esta mais-valia.

Em termos de investimento/ projetos o que têm previsto a médio prazo?

Estamos a trabalhar em diferentes frentes. A melhoria dos produtos é objetivo comum em todas estas frentes.

Vamos melhorar os produtos em todas as suas características. A genética vegetal é a mais importante, mas também a tecnologia de inoculação das sementes e a sua peletização estão a ser alvo de estudo. Estamos numa fase muito adiantada destes estudos e cremos que muito em breve teremos grandes novidades.

Nos últimos anos lançamos muitos produtos novos. Lançamos a gama Proterra, lançamos o C-Mix e o Centauro, duas misturas forrageiras com excelente desempenho e este ano lançamos o ReCover. Estes produtos são resultado de muitos anos de trabalho de I+D e de experimentação. Este trabalho é continuo, pelo que os nossos clientes podem esperar mais e melhores soluções num futuro próximo.