Autora: Filipa Correia, Vetheavy

O que é?

Doença causada pela bactéria Coxiella burneti, sendo reservatórios desta um grande número de animais, desde carraças a animais domésticos e silvestres, tais como ruminantes, equídeos, raposas, veados, gatos, cães, ouriços, coelhos e diversas aves domésticas e selvagens. É uma bactéria extremamente resistente no meio ambiente, podendo sobreviver até 150 dias ao sol, o que contribui para a sua disseminação.

A sua presença numa vacada origina grandes perdas produtivas, uma vez que provoca desde abortos (Foto 1), mortalidade neonatal (Foto 2 e 3), doença aguda em bezerros pequenos, retenções de membranas fetais, metrites (Foto 4) e mamites.

A febre Q é uma zoonose de distribuição mundial. Com grande expressão em Portugal, mas muitas vezes subdiagnosticada. Existem estudos em Portugal da sua incidência em Humanos, onde também se considera subnotificada e subdiagnosticada, apesar de poder provocar um quadro grave (febre, pneumonia, hepatite e aborto). É considerada uma doença emergente e constitui um perigo para a saúde publica.

Transmissão

Durante a fase aguda da doença, os animais infetados eliminam bactérias através da urina, fezes, leite, exsudados nasais e secreções genitais. A infeção pode ocorrer via inalatória, por ingestão de material contaminado, como os produtos resultantes do parto, ou até por penetração através de feridas na pele.

Nas últimas semanas de gestação a proliferação bacteriana aumenta, alcançando elevadas concentrações no útero, placenta, líquidos fetais e glândula mamária, aumentando o seu potencial patogénico. Os produtos resultantes do parto ou aborto são por isso altamente infeciosos, sendo a disseminação por partículas aerossóis determinante na contaminação dentro do efetivo. Esta é a principal via de infeção em ruminantes e é também o modo de infeção mais frequente para os seres humanos, ao respirar partículas contaminadas por Coxiella burnetii excretada por animais infetados. As bactérias podem permanecer como aerossóis até duas semanas após o parto. A placenta de um animal infetado, pode conter mais de 1 milhão de microrganismos viáveis por grama. Mesmo após a ingestão dos produtos do parto, as bactérias sobrevivem à digestão e vão se propagar no meio ambiente após serem expulsas pelas fezes.

A infecciosidade é muito elevada, um único esporo inalado pode ser suficiente para desencadear a doença. Uma placenta infetada abandonada no campo pode infetar rebanhos situados até vários quilómetros de distância.

A carraça tem um importante papel a manter a infeção entre os animais silvestres, mas também podem ser fonte de infeção nos animais domésticos.

A exposição ocupacional (contacto direto com animais, trabalhadores rurais, de veterinária e de matadouro) é fator de risco importante para o desenvolvimento da febre Q nas pessoas.

Sinais Clínicos

Os principais sinais clínicos associados a infeção por Coxiella burnetii em bovinos são as patologias reprodutivas. Abortos no último de gestação são os mais frequentes apesar de também poder ocorrer mortalidade embrionária. Os abortos também podem surgir de forma esporádica ou em surto. No pós-parto podem surgir retenções placentárias, metrites, mastites e ainda pneumonias. Para além dos abortos, outros sinais mais discretos podem surgir, como nascimentos de vitelos prematuros que recuperam sem complicações, vitelos fracos, doença respiratória súbita nos primeiros dias de vida, com febre muito alta e evolução rápida, sendo que por vezes não chegam a ser detetados em vida, observa-se à necropsia uma pneumonia intersticial hemorrágica (…).

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