Autores: Conceição Santos Silva1, Edmundo Sousa2, Pedro Naves2, Manuela Branco3, Maria da Conceição Caldeira3, Pedro Miguel Pereira4, Carlos Godinho4, Teresa Afonso5

1UNAC – União da Floresta Mediterrânica
2INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária
3ISA – Instituto Superior de Agronomia
4UE – Universidade de Évora
5APFC – Associação de Produtores Florestais do Concelho de Coruche e Limítrofes

A cobrilha da cortiça (Coroebus undatus) é um coleóptero mediterrânico da família Buprestidae que vive parte do seu ciclo de vida em associação com a cortiça. No final da primavera, a fêmea deposita os ovos nas fendas da cortiça no sobreiro e, após a eclosão, a larva escava galerias à medida que se vai alimentado nas camadas mais interiores da cortiça junto ao entrecasco (Figura 1).

Geralmente após duas primaveras, o adulto emerge para viver apenas cerca de dois meses. O ataque desta espécie, desvaloriza a qualidade da cortiça e dificulta o descortiçamento, provocando a quebra das pranchas e a produção de um maior número de bocados. O impacto da cobrilha é principalmente comercial, pela desvalorização do valor de mercado da cortiça, mas o maior risco de arranque do entrecasco é também relevante, porque a abertura de feridas na árvore aumenta o risco de outros problemas fitossanitários, que podem contribuir para a perda de vitalidade do montado. Estima-se que em Portugal, os ataques de cobrilha da cortiça correspondam a uma perda no valor de mercado da cortiça de cerca de 9M€/ ano. No âmbito da operação 1.0.1 do PDR2020 – Grupos Operacionais e tendo por objetivo o conhecimento dos mecanismos que regulam a seleção das árvores, o desenvolvimento de métodos de gestão preventiva e de controlo dos níveis populacionais da cobrilha, em 2016 foi constituído um consórcio liderado pela UNAC – União da Floresta Mediterrânica, com parceiros da investigação (INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, ISA – Instituto Superior de Agronomia e UE -Universidade de Évora), a indústria (Amorim Florestal) e proprietários florestais (Companhia das Lezírias, Herdade do Pinheiro, Luís Filipe Bual Falcão da Luz e Sociedade Agrícola Monte da Sé Lda.) tendo o projeto sido iniciado em 2018 e terminado no primeiro trimestre 2023.

Partindo de um vasto conjunto de amostragens da qualidade da cortiça realizadas previamente à extração e onde a incidência da cobrilha foi monitorizada durante 20 anos (2002 – 2022) em diferentes propriedades e sobreiros, era evidente que a cobrilha era o principal defeito presente, e com uma grande variabilidade interanual (figura 2).

Figura 2: Distribuição percentual dos defeitos desvalorizadores do valor de mercado da cortiça, entre 2002 e 2022 (número de amostras com presença do defeito na totalidade das amostragens realizadas) (fonte: APFC). Os principais anos de seca extrema encontram-se assinalados sobre a curva evolutiva da cobrilha da cortiça (.)

Um dos primeiros resultados do projeto, foi a evidência do efeito das secas extremas sobre a dinâmica da população da cobrilha da cortiça. Nestes 20 anos, os episódios de seca meteorológica com maior severidade ocorreram em 2004/06, 2011/12, 2015, 2016/17 e 2022 de acordo com o IPMA (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo, edição de outubro 2023.