A proximidade entre Portugal e Espanha é uma das razões para a empresa espanhola Ramiro Arnedo dirigir e realizar parte da sua investigação em Portugal, em diversas culturas, tais como alface, cebola, pimento, tomate, melão (…).
“Acima de tudo somos uma empresa ibérica!” refere desde logo Bruno Estêvão, técnico comercial da Ramiro Arnedo. A alface, em particular, faz parte da alimentação do quotidiano de muitos portugueses. “A sua representatividade no panorama produtivo hortícola português e a disponibilidade durante todo o ano para o consumidor tornam este vegetal rico em fibras e repleto de vitaminas, um importante alvo de investigação”, considera este responsável.
Existe uma grande diversidade de tipos de alface e geralmente a sua classificação baseia-se em características como a forma das folhas, tamanho e grau de formação de repolho. Bruno Estêvão revela-nos que a variedade com mais expressão em Portugal é a denominada batavia, de folhas frisadas de diferentes colorações com margens recortadas, repolhos redondos, firmes e mais ou menos volumosos. “Para além deste tipo, a nossa investigação abrange também alface lisa, iceberg e folha de carvalho”, acrescenta.
Considera este profissional que “a investigação de qualquer cultura compreende uma relação muito estreita e próxima entre o departamento de melhoramento, o técnico gestor da cultura (product manager) e o técnico comercial da zona em questão. O processo entre o início da investigação propriamente dita e o lançamento duma variedade comercial é bastante moroso”.
Bruno Estêvão conta-nos que “na primeira fase realizada em Portugal, screening (triagem, seleção), plantam-se cerca de 30 plantas por cada cruzamento realizado. Geralmente consideramos para cada screening entre 150 a 200 cruzamentos. Nos diversos cruzamentos realizados já existe uma perspetiva futura a nível de resistências (por exemplo míldio, piolho, fusarium) que a descendência deverá apresentar, tendo em conta as características já conhecidas de cada um dos dois parentais utilizados para cada cruzamento, sendo que numa fase mais avançada da investigação essas resistências são confirmadas laboratorialmente”.
É extremamente importante realizar o screening em condições representativas reais. Uma alface no norte de Espanha pode apresentar determinadas características e em Portugal apresentar diferentes resultados devido às condições edafo-climáticas. “Esta fase é repetida na empresa diversas vezes durante o ano, para avaliar a sua adequação às diferentes épocas do ano, de acordo com as suas características, como vigor, volume, cor, resistência ao espigamento e qualidade no geral”, revela o técnico, considerando que numa geração inicial dum cruzamento é normal que exista muita diversidade e “é nosso objetivo através da avaliação in situ de cada screening selecionar as melhores plantas/exemplares de cada cruzamento para posteriormente se reproduzir essas plantas e incluírem-se num próximo screening. Consideramos que as características de um determinado cruzamento estão devidamente fixadas por volta da sexta ou sétima geração”.
Este processo de plantação durante o ano inteiro, a respetiva avaliação e seleção das melhores plantas de cada cruzamento para posterior reprodução é repetido na empresa até se chegar a uma geração avançada com as características fixadas, e Bruno Estêvão dá mesmo o exemplo: “Cruzamos os parentais X e Y e obtemos semente da variedade Z. Esta variedade Z na geração inicial apresenta diversidade a nível de coloração, volume, aspeto… Selecionando e reproduzindo somente os exemplares/plantas que julgarmos adequados, vamos diminuindo essa diversidade, geração após geração, até chegarmos a uma geração onde as características estão devidamente fixadas. Cada planta eleita em cada avaliação é replantada no nosso centro de investigação em Espanha, obtendo-se semente após o seu espigamento.
A semente proveniente de cada planta é considerada uma nova geração. Conforme mencionado os cruzamentos são testados em diversas épocas do ano, mas importa referir que se em nenhuma época esse cruzamento se destacar, não apresentando plantas que deem resposta ao que o mercado alvo procura, não seguimos adiante com esse cruzamento, processo por vezes frustrante mas extremamente necessário e comum neste tipo de investigação.” (…).
Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo, edição de outubro de 2023.
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