Os nemátodes fitoparasitas constituem um fator limitante na agricultura em todo o mundo, representando uma ameaça para a produção sustentável, segurança alimentar, e biodiversidade. Uma vez que a valorização, proteção e uso eficiente dos recursos naturais é um dos pilares de uma economia sustentável, relacionada nos diferentes domínios com a Agricultura, Floresta, Inovação Rural e Desenvolvimento, conhecê-los melhor é fundamental.
Conheça o papel fundamental destes organismos na saúde das plantas e como poderemos mitigar os seus efeitos.
1. Biodiversidade dos nemátodes no solo
A biodiversidade no solo inclui, entre muitos outros organismos, os nemátodes. Estes são organismos invertebrados, vermiformes e microscópicos, com cerca de 25000 espécies descritas nos ecossistemas terrestres e marinhos. No solo, os nemátodes desempenham importantes funções, nomeadamente na mineralização e reciclagem de nutrientes, como decompositores e na predação de outros microrganismos. No entanto, existem cerca de 4100 espécies de nemátodes que infectam as plantas podendo comprometer o seu crescimento. Estes são conhecidos por nemátodes fitoparasitas, ou seja, parasitas de plantas.
2. A importância dos nemátodes fitoparasitas na agricultura
Os nemátodes fitoparasitas das culturas agrícolas ameaçam a segurança alimentar global, traduzindo-se na redução da qualidade e quantidade da produção. A nível mundial, estima-se que anualmente exista uma perda de milhões de euros na produção agrícola. Estes parasitas infectam diferentes tipos de culturas agrícolas tais como: as culturas alimentares (por exemplo, a vinha, tomate, batata, arroz, milho, trigo); as culturas de fibras (por exemplo, algodão); e as culturas de árvores de frutos (por exemplo, citrinos e macieiras).
Dependendo da espécie de nemátodes fitoparasitas, as plantas podem apresentar diferentes sintomas, quer na parte aérea, quer na radicular. Os sintomas na parte aérea, ou seja no caule e folhas, são facilmente identificáveis, ao contrário dos sintomas provocados nas raízes. A extensão dos danos causados pelos nemátodes depende da sua densidade populacional por grama de solo. A título de exemplo, são necessários 250 indivíduos dos nemátodes das lesões radiculares em 250g solo para causar danos significativos nas plantas. Os nemátodes vectores de vírus da vinha são apenas necessários 3-15 indivíduos por 250g de solo.
3. Como é que os nemátodes infectam as plantas?
Os nemátodes fitoparasitas são parasitas obrigatórios alimentando-se das células vegetais do hospedeiro e apresentando diferentes estratégias de parasitismo. Com excepção do ovo, todos os estádios de desenvolvimento dos nemátodes são parasíticos. Os hábitos alimentares e de migração dos nemátodes categorizam os diferentes tipos de parasitismo. Os endoparasitas entram completamente no interior dos tecidos vegetais, enquanto os ectoparasitas permanecem no solo e infectam o tecido do hospedeiro apenas através da parte anterior (cabeça) (exemplo do nemátode vector de vírus da vinha). Estes parasitas podem migrar no interior e exterior do hospedeiro – migratórios – alimentando-se das células próximas da superfície da raiz, incluído as células corticais e do tecido vascular (exemplo do nemátode das lesões radiculares). Outras espécies formam estruturas especializadas no interior das células vegetais alimentando-se e permanecendo neste local durante quase todo o seu ciclo de vida – sedentários (exemplo do nemátode das galhas). Há espécies de nemátodes que têm a capacidade de permanecer latentes durante anos, como o caso dos nemátodes dos quistos cujos ovos permanecem no solo por anos, eclodindo quando as condições são favoráveis ao seu desenvolvimento.
4. Estes organismos são regulamentados?
Sim. De facto, os organismos designados como pragas de quarentena são alvo de regulamentos e restrições com o objetivo de impedir ou reduzir a sua propagação para locais não afetados. Na Europa, a Organização Europeia e Mediterrânea para a Proteção de Plantas (OEPP) tem como missão desenvolver estratégias contra a introdução e expansão de novas pragas, apoiando a regulamentação fitossanitária e os estados membros na tomada de decisão. Em Portugal, a Direção-Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV) é a autoridade nacional para a execução e avaliação de proteção vegetal e fitossanidade, entre outras áreas da Agricultura e Veterinária. Até ao momento, para Portugal, os principais organismos de quarentena são: os nemátodes da madeira do pinheiro Bursaphelenchus xylophilus, os nemátodes de quisto da batateira Globodera sp., e o nemátode das galhas, Meloidogyne graminicola.
5. Principais medidas para combater os nemátodes fitoparasitas
As restrições impostas pela União Europeia relativas ao uso de pesticidas impõem uma contínua reavaliação das estratégias de controlo e o desenvolvimento de alternativas sustentáveis para o ambiente de modo a mitigar os danos causados pelos nemátodes fitoparasitas. A deteção e diagnóstico dos nemátodes fitoparasitas passa pela correta identificação da espécie e da determinação das suas densidades populacionais no solo. Os agricultores deverão assim recorrer a laboratórios especializados e reconhecidos pelas autoridades fitossanitárias. No caso de confirmação da presença destes organismos é necessário considerar práticas para o seu controlo, tais como:
- boas práticas agrícolas, com a limpeza de todo o tipo de equipamento;
- rotação com culturas não hospedeiras, podendo também utilizar-se plantas supressivas de nemátodes;
- uso de variedades resistentes selecionadas em programas de melhoramento;
- utilização de fitofármacos adequados, com especial atenção para novos nematodicidas de origem biológica e cujo impacto ambiental é reduzido.
Autoria:
Cláudia Vicente – Investigadora do MED & Responsável pelo NemaLab
Margarida Espada – Investigadora do MED
Artigo originalmente publicado AQUI.