A cochonilha silvestre (Dactylopius opuntiae Cockerell) emerge como uma preocupação crescente para a Opuntia ficus-indica, mais conhecida em Portugal como Figueira da Índia. Este cacto, apreciado tanto pelas suas características ornamentais, como pelo seu valor económico-social na produção agroalimentar, está a enfrentar uma ameaça significativa devido à proliferação deste inseto em Portugal. A cochonilha silvestre é uma das pragas mais severas desta cultura, uma vez que pode levar à destruição de pomares ordenados de Figueiras da Índia e também das restantes Opuntias silvestres em menos de 3 anos, como já aconteceu noutros países (Brasil, México, África do Sul, Israel, Tunísia, Marrocos, Espanha, entre outros), tendo consequências devastadoras. No presente ano, Portugal apresenta cerca de 2 000 ha de Figueiras da Índia em pomares ordenados, o que representa um número significativo desta cultura a nível nacional, pelo que a presença deste inseto poderá pôr em causa esta atividade económica multifacetada, bem como para a biodiversidade e, consequentemente, efeitos negativos para os produtores e para o país.

Identificação da Cochonilha Silvestre e Ciclo de Vida

A cochonilha silvestre é um pequeno inseto hemíptero que apresenta reprodução sexuada e dimorfismo sexual onde se instala nas Opuntias, geralmente em agregações ou colónias compostas por indivíduos em vários estágios de desenvolvimento, alimentando-se da seiva dessas plantas. A fêmea produz ácido carmínico que é uma substância cuja cor varia do laranja ao roxo e é encontrada principalmente no sangue (hemolinfa), que tem como função de defesa contra predadores. Esta tem um ciclo de vida de cinco estágios (ovo, ninfa de primeiro instar, ninfa de segundo instar, jovem e adulta), enquanto o macho tem um ciclo de vida de seis estágios (ovo, ninfa de primeiro instar, ninfa de segundo instar, pré-pupa, pupa e adulto). A duração média do ciclo biológico nas fêmeas é cerca de 77 dias e 43 dias nos machos, sendo que em média, uma fêmea põe 131 ovos, mas tem uma taxa variável de 62 a 617 ovos. Os machos, por sua vez, nunca se alimentam da planta, sendo a sua única função de fecundação. A sua presença muitas vezes resulta numa substância açucarada chamada melada, atraindo formigas e criando condições favoráveis ao crescimento de fungos (ex.: fumagina), bactérias, bem como outras pragas e doenças. Dado o seu ciclo de vida curto, a cochonilha silvestre reproduz-se rapidamente, exacerbando o seu impacto, sendo o vento um dos principais fatores de disseminação deste inseto.

Impacto na Opuntia ficus-indica

Os danos causados pela cochonilha silvestre na Opuntia ficus-indica são severos. A fêmea, ao perfurar a epiderme da planta para se alimentar, enfraquece a estrutura da mesma, diminuindo a sua capacidade de crescimento, consequência da inibição da fotossíntese. Esta diminuição da atividade fotossintética resulta numa produção de cladódios e frutos reduzida e afeta a qualidade geral da planta, o que pode resultar na morte da planta, caso não existam medidas de controlo e de combate assertivas e atempadas.

Autoria: Nelson Ventura, Presidente da Confraria Gastronómica do Figo e da Figueira da India com a colaboração técnica do Eng. José Alves.

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo, edição de dezembro 2023.