Os atributos de qualidade do mirtilo (Vaccinium corymbosum L.) dependem de vários fatores e, de forma a corresponder às expetativas dos consumidores, é fundamental a adoção de práticas culturais que contribuam para o aumento da qualidade deste fruto.

A utilização de bioestimulantes, definidos como “substâncias ou microrganismos aplicados às plantas com o intuito de fomentar o aumento da eficiência nutricional, tolerância ao stress abiótico e/ou melhoramento das suas características qualitativas, independentemente do seu teor em nutrientes” tem vindo a aumentar, podendo ser encontrados bioestimulantes à base de algas, glicina-betaína e silício (Du Jardin, 2015).

Os bioestimulantes à base de algas são constituídos por diversos polissacáridos (Battacharyya et al., 2015), hormonas vegetais (Stirk et al., 2014) e pigmentos (Chojnacka et al., 2012). Estes extratos, mesmo em baixas concentrações, induzem diversas respostas fisiológicas por parte das plantas, como o crescimento, floração e produção, bem como a melhoria da qualidade, composição nutricional e tempo de prateleira dos frutos (Battacharyya et al., 2015).

O silício é o segundo elemento mais abundante na litosfera (Epstein, 1994). Quando aplicado às plantas, deposita-se sob a cutícula na forma de fitólitos, fortalecendo as paredes celulares (Yoshida et al., 1962) e contribuindo para o aumento da atividade fotossintética e produtividade das culturas, ativando mecanismos naturais de defesa das plantas (Muneer et al., 2017). Adicionalmente, promove uma melhor eficiência do uso da água e da absorção de nutrientes pelas plantas (Liang et al., 2007), reduz a toxicidade causada por iões metálicos (Tripathi et al., 2016) e interage com hormonas vegetais associadas ao aumento do crescimento das culturas (Tripathi et al., 2021).

A glicina-betaína (GB) corresponde a um composto anfótero, eletricamente neutro e altamente solúvel em água (Sakamoto & Murata, 2002). Esta molécula desempenha um papel vital na proteção dos tecidos vegetais por via do ajustamento osmótico, da estabilização de membranas e de proteínas como a RuBisCo, protegendo o aparelho fotossintético, e na eliminação de espécies reativas de oxigénio (Wani et al., 2013). A GB pode também atuar na proteção das células contra diversos stresses ambientais através do seu papel na transdução de sinais hormonais (Ashraf & Foolad, 2007).

Têm-se estudado outras estratégias de pré-colheita, como a aplicação foliar de cálcio (Lobos et al., 2021). Este macronutriente secundário desempenha um papel importante na interligação dos polissacáridos da parede celular e afeta a sua extensibilidade. Além disso, atribui-se uma importância crescente ao papel do cálcio como mensageiro secundário nas vias de transdução de sinais hormonais em resposta a diferentes estímulos ambientais (Hocking et al., 2016).

Estados Fenológicos dos mirtilos durante as aplicações foliares: a) queda de pétalas; b) último estado de fruto verde; c) início da maturação dos frutos (fotos do autor)

O objetivo deste estudo foi analisar o efeito da aplicação foliar de 3 L/ha de CaCl2 (Ca), 3 kg/ha de glicina-betaína (GB), 0,5 L/ha de SiO2 (Si) e 3 L/ha Ecklonia maxima (EM) na produtividade e qualidade de mirtilos das cultivares Duke e Draper. EM, GB e Si foram aplicados juntamente com 3 L/ha Ca, comparando-se cinco modalidades de tratamentos, incluindo um tratamento controlo onde foi aplicada água. 

A primeira aplicação dos tratamentos realizou-se à “queda das pétalas”, a segunda aplicação fez-se no “último estado de fruto verde” e a terceira aplicação foi realizada no “início da maturação dos frutos”. O ensaio experimental efetuou-se em Vilarandelo, concelho de Valpaços, num pomar com 10 anos . Foi determinada a produção por planta e analisaram-se parâmetros biométricos e cromáticos, sólidos solúveis totais (SST), pH, acidez titulável e a textura dos frutos (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de dezembro 2023