A PORVID (Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira) é, desde 2009, a entidade curadora e promotora do trabalho inovador de preservação e seleção do património genético intravarietal da videira, que tem vindo a ser desenvolvido desde 1978 até ao presente. É um exemplo, de entre vários, de cooperação entre empresas, universidades, entidades públicas e associações numa missão comum, à qual outros se podem associar.

Um trabalho visionário, iniciado por três figuras incontornáveis da viticultura portuguesa, os Professores Antero Martins e Nuno Magalhães e o Doutor Luís Carneiro, e levado a cabo por uma vasta equipa de pessoas dedicadas à causa ao longo destes 45 anos. Este trabalho de investigação contrariou o fenómeno de erosão genética da videira observado um pouco por todo o mundo vitivinícola e, em especial destaque, na famosa região do Reno, na Alemanha. A procura constante pela eficiência produtiva conduziu a perdas de património genético irreparáveis. Património esse que constitui uma poderosa ferramenta de adaptação ao crescente impacto das alterações climáticas e ambientais que enfrentamos.

Porque é que a diversidade é importante?

A PORVID tem, neste momento, preservada e conservada a diversidade intravarietal da videira, de mais 218 castas autóctones, cada uma contendo vários clones, que encerram em si a variabilidade dessa mesma casta. Cada um destes clones de uma mesma casta, ou genótipos, conforme denominado pelos cientistas, mantêm as principais características morfológicas da casta, mas com diferenças entre si relativamente a características economicamente importantes. Estas compreendem, para além do rendimento e das características de qualidade do mosto, por exemplo, a sensibilidade do clone à temperatura, à falta de água ou até à resistência a doenças, em anos mais frios ou mais quentes. Os estudos mostram que, por exemplo, uma mesma parcela de vinha de Touriga Nacional, quando com pelo menos sete clones diferentes em vez de apenas um, irá ser muito mais estável de ano para ano, mesmo perante condições ambientais mais exigentes. Isto porque, nesse ano, aquele que é o clone mais bem-adaptado e, portanto, mais resistente, vai compensar o clone mais suscetível. Este, por sua vez, no ano seguinte, em condições que lhe sejam mais favoráveis, já poderá ser aquele com melhor desempenho, compensando o outro. Quando em conjunto, estes clones numa mesma vinha são mais estáveis de ano para ano.

Paralelamente aos estudos de prospeção e conservação, de 50.000 genótipos*, objetivo do trabalho em curso, das mais de 250 castas autóctones portuguesas, estão, atualmente, em seleção 65 castas  com o objetivo de atingir as 100 castas em 2033. Estes ensaios de seleção, com esta metodologia inovadora criada em 1984, estão instalados em mais de 100 hectares de vinhas comerciais distribuídos por todo o país, dos quais 22 hectares no Pólo de Conservação da Diversidade da Videira da PORVID, em Pegões – Palmela (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de janeiro 2024