Os citrinos são provenientes das zonas tropicais e subtropicais da Ásia e do arquipélago Malaio. A partir da sua origem difundiram-se por todas as zonas do Mundo onde hoje são produzidos, inclusive para a bacia do Mediterrâneo. A partir do séc. XVI a laranjeira doce passou a ter grande importância em Portugal.

Neste momento, relativamente aos países do Mediterrâneo, a Turquia é o maior produtor seguida de Espanha e Egipto. Portugal pelas suas caraterísticas edafoclimáticas apresenta este fruto de forma diferenciada com uma cor intensamente brilhante e um elevado teor de sumo particularmente doce.

No entanto nem tudo são “rosas” para os produtores algarvios, algumas adversidades vão surgindo e por vezes não são geridas da melhor forma.

Um desses casos prende-se com a praga mais devastadora da citricultura do Algarve nos últimos anos – a mosca-da-fruta (Ceratitis capitata. Wied.)

Neste caso que tem sido debatido várias vezes na região a problemática continua pois, o agricultor sugere novas alternativas (leia-se novas substâncias ativas) que não parece ser efetivamente solução visto o Pacto Ecológico Europeu estabelecer uma meta de redução em 50% para os pesticidas. Assim e com um número muito restrito de soluções ao nível de produtos fitofármacos (sendo ainda que alguns deles nem são utilizadas pela maioria dos produtores), o uso abusivo de alguns destes levou a que já fossem identificadas resistências aos mesmos comprometendo seriamente o controlo deste inimigo. Outras formas de luta deveriam ser equacionadas, e isso não está a ser colocado como hipótese, tais como formas de luta culturais, captura em massa, pulverizações com isco, etc.

No entanto, duas possibilidades deverão ser “colocadas em cima da mesa”: uma monitorização adequada e criação de câmaras de frio. Na maioria das explorações não se monitoriza nada e as tomadas de decisão relativamente a intervenções (normalmente recorrendo a fitofármacos) são efetuadas de uma forma algo leviana. A segunda possibilidade poderá levar a alguma controvérsia uma vez que a nossa citricultura fez sempre da árvore a sua câmara preferida em procura de melhores preços ignorando a problemática trazida pela mosca-do-mediterrâneo. É impossível um controlo adequado desta praga tendo fruta (V. Late) na árvore até outubro como algumas vezes acontece.

O outro caso é o da escassez de água na região

Há já mais de 20 anos que se ouve falar deste problema na região e provavelmente por inoperância dos nossos governos pouco ou nada se fez para resolver/atenuar este problema. Foi construída uma barragem que hoje em dia sem chover serve-nos de pouco. O produtor culpa as autarquias e o Estado no entanto todos somos culpados e não adianta apontarmos o dedo uns aos outros quando nos devíamos unir por forma a solucionar o problema. No final de 2023 o total das 6 barragens algarvias tinham 26% da sua capacidade total, sendo que as necessidades da região rondam os 236 hm3 e as disponibilidades eram 115 hm3. Com este cenário colocam-se várias perguntas (e sabendo dos elevados desperdícios urbanos, etc): Como é que sendo um problema que não é de agora foi possível surgirem novos pomares muitas vezes em zonas que todos sabemos serem deficitárias em água? Como é que a maioria das explorações ainda não tem (e nem passa pela cabeça de quem deveria ser o mais interessado) sistemas de monitorização de água, quando no Algarve estas mesmas explorações normalmente regam por excesso?

Por fim dizer que teremos todos que deixar de culpabilizar o outro e com isso mascarar o mal que ao longo dos tempos temos feito a esta nossa atividade. Ainda estamos a tempo de mudar ….. ou será que é tarde?

Autoria: Carlos Rodrigues – Eng. Agrónomo

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