José Rolão é um jovem, que tem em conjunto com a esposa Daniela, uma horta sem químicos, situada na zona da Margem Sul (Seixal).  Sem formação agrícola, os jovens partilham o dia a dia, no Instagram, as experiências e dicas sobre a horta. Na horta produzem de tudo um pouco, dependendo dos anos e épocas. 

Como surgiu a ideia de iniciar uma horta biológica e partilhá-la nos meios digitais?

Antes de mais, há que referir que durante algum tempo usámos alguns químicos, numa parte da horta (temos dois locais diferentes) nada muito agressivo nem constante. No entanto, com a investigação de mestrado da Daniela, junto de consumidores éticos, surgiu a vontade e a responsabilidade para com a nossa saúde e para com quem já nos seguia numa primeira conta, de realizarmos uma agricultura livre de químicos. E assim continuámos a partilhar essa jornada nas redes, agora com o intuito de demonstrar que ter uma horta sem utilização de pesticidas é possível para qualquer pessoa.

Qual foi o maior desafio que enfrentaram ao começar a cultivar sem formação em agricultura?

Atualmente, há muita informação de qualidade na internet, e foi assim que fomos ganhando alguma noção da prática hortícola. Contudo, confessamos que é bastante difícil o controlo de alguns animais considerados pragas (como caracóis, lesmas, lagartas, larvas do besouro, entre outros). E só após vários anos de horta fomos consolidando conhecimento sobre consorciação de plantas e permacultura que ajuda neste controlo de forma natural.

Quais são os principais benefícios que encontraram ao cultivar uma horta sem químicos?

Os benefícios são muitos. Desde aspetos de saúde, ao cuidado que queremos e devemos ter para com o ambiente. E quando falo no meio-ambiente, refiro-me à não poluição e contaminação química dos solos e lençóis de água, à preservação de micro-habitats e salvaguarda de animais, que embora vistos como pragas também eles são peça fundamental. Por exemplo, se acabarmos com todos os pulgões na horta, não teremos joaninhas, pois as suas larvas alimentam-se destes e sem joaninhas será mais difícil controlar a mosca da fruta e outros afídeos de forma natural.

Ao longo destes quatro anos de aprendizagens e experiências, que balanço fazem?

Ao longo de 4 anos de horta sem químicos talvez a maior aprendizagem foi o respeito pela natureza, pelo ciclo natural das coisas. O cuidar e o esperar é um processo que nos retira o stress do dia-a-dia e que nos permite dar valor à vida e à força da natureza. Outro ponto importante, é que consideramos a nossa horta familiar, em que a nossa família também interage. Como por exemplo, ensinarmos a nossa sobrinha a espalhar o estrume, ou o nosso sobrinho a distinguir as diferentes plantas, são estas as experiências que ficam.

Como é que a sua formação em antropologia e marketing digital influenciou a forma como expõe a horta biológica no meio digital?

O ser formado em Antropologia ajuda a ter uma visão holística e com foco nas diferentes culturas e comunidades. Então desde cedo tentámos abordar técnicas agrícolas de várias partes do mundo, adaptando-as a Portugal. Por exemplo aprendemos, ao longo do tempo, vários conceitos através de uma parte da comunidade que nos segue do Brasil. A minha recente formação em Marketing, permite-me acertar a comunicação para aquilo que o nosso nicho quer e pretende encontrar na nossa página, tornando-a útil, atual e também lúdica.

Para além do consumo próprio, o objetivo passa pela venda dos produtos?

Muita gente não sabe, mas durante 2 anos vendemos produtos da nossa horta (do local em que nunca usámos químicos). Vendíamos sobretudo online e depois íamos fazer as entregas na zona do Barreiro, Moita, Seixal e Corroios. Surgiu também a oportunidade de participarmos num mercado sustentável em Almada, em que para primeira experiência física de banca as nossas plantas e frutos foram muito bem recebidos. Por exemplo, os nossos limões e pimenteiras foram um sucesso.

Em termos de futuro, quais serão as vossas apostas?

Neste momento temos vindo a reduzir a nossa horta, contudo é algo que iremos sempre ter, seja maior ou menor, seja em vaso, num canteiro ou num terreno. Relativamente ao online, queremos continuar a partilhar as nossas experiências e dicas, bem como este lifestyle. Estamos também a delinear um novo projeto que assentará no online e que ajudará ainda mais a comunidade, mas para já não há datas em concreto.

→ Para mais informações: abelha7trevos_horta