A sanidade animal refere-se ao estado de saúde e bem-estar dos animais. Envolve a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de doenças, garantindo condições adequadas de nutrição, alojamento e maneio.

Esta área de estudo considera a prevenção de doenças transmissíveis entre animais e, entre animais e humanos (zoonoses), contribuindo para a proteção da saúde animal e humana. Os conhecimentos, atitudes e práticas dos produtores desempenham um papel fundamental nos desafios enfrentados nas explorações de pequenos ruminantes.

Por definição, um questionário epidemiológico é um conjunto de questões desenhadas para gerar informação sobre um determinado tópico necessário para concretizar os objetivos de investigação. Este tipo de questionário permite uma identificação precisa e detalhada da exploração e dos fatores de risco específicos presentes na mesma, proporcionando uma visão abrangente da situação. Com base nos dados colhidos, é possível personalizar estratégias preventivas reduzindo a probabilidade de ocorrência de doenças. Neste contexto é preciso conhecer o que se passa na exploração e, é aqui que surge o questionário epidemiológico como ferramenta poderosa de investigação em sanidade.

Por norma, há três tipos de questões usadas nos questionários para estudos epidemiológicos: abertas, semi-abertas e fechadas (figura1).

Figura 1 – Exemplo de questões num questionário epidemiológico sobre
paratuberculose ovina

As questões abertas proporcionam aos produtores a liberdade de opinião, não limitando as respostas a opções predefinidas. Deve limitar-se cada questão a uma simples ideia.

As questões semi-abertas não oferecem respostas específicas, mas esperam uma resposta relativamente curta, geralmente, uma ou duas palavras.

As questões fechadas apresentam opções de resposta específicas, limitando a escolha dos participantes a uma lista prévia.

A linguagem do questionário deve ser simples e clara, evitando jargões profissionais. A investigação deve estar em conformidade com os princípios éticos, incluindo a privacidade e o consentimento informado, livre e esclarecido dos participantes. Geralmente apresenta-se um formulário de consentimento por escrito, que deve ser lido e assinado pelos participantes, indicando que foram devidamente informados e concordam voluntariamente em participar. Em alguns casos, quando a investigação é conduzida de forma remota ou online, o consentimento pode ser obtido por meios eletrónicos.

Todos os questionários devem ser pré-testados para serem validados

Isto requer a seleção de um grupo de participantes semelhante ao grupo-alvo da investigação, o que significa considerar as características sociodemográficas e de exploração que espelhem a população que será posteriormente estudada. É fundamental avaliar a clareza e a compreensão das perguntas no questionário. O tempo que os participantes levam para preencher o questionário é uma métrica valiosa durante o pré-teste. O objetivo é garantir que o tempo seja razoável, evitando questionários excessivamente longos que possam levar à fadiga do produtor e à diminuição da qualidade das respostas. Com base nos resultados do pré-teste, devem ser efetuados ajustes e refinamentos.

Os questionários podem ser aplicados por via eletrónica, correio, telefone e de forma presencial (Tabela 1). O envio eletrónico é mais rápido e económico. Pode atingir uma ampla audiência, especialmente, através de redes sociais. Contudo, a facilidade de ignorar ou excluir e-mails pode resultar numa taxa de resposta mais baixa.

O envio por correio pode chegar a grupos que não estão tão ligados digitalmente. A taxa de resposta é baixa. A aplicação do questionário pode ser efetuada por telefone. As respostas podem ser obtidas em tempo real, resultando numa taxa de resposta mais alta. Contudo, alguns produtores podem considerar invasivo ou inconveniente serem contatados por telefone.A aplicação de forma presencial é a que apresenta melhor taxa de resposta para produtores, pois, a presença física, cria confiança. A supervisão direta também garante que o questionário seja compreendido e preenchido corretamente.

Os questionários são ferramentas valiosas na pesquisa epidemiológica. A colaboração dos produtores vai além de um simples exercício de colheita de dados. A sua participação ativa é uma peça essencial na promoção da saúde animal, no desenvolvimento sustentável da pecuária e na construção de uma comunidade agrícola mais resiliente e informada.

→ Este e outros artigos exclusivos na Revista Voz do Campo: edição de janeiro 2024

Autores: Ana Cláudia Coelho1

1Animal and Veterinary Research Centre (CECAV), Associate Laboratory for Animal and Veterinary Sciences (AL4AnimalS), Department of Veterinary Sciences, School of Agricultural and Veterinary Sciences, University  of Trás-os-Montes and Alto Douro (UTAD), 5000-801 Vila Real, Portugal.