Introdução

A cultura da figueira é tradicional no nosso país, quer para a produção de figos para consumo em fresco, quer para a produção de figos secos para consumo humano, animal, ou ainda, para destilação, originando assim o álcool e a aguardente. No passado, a figueira foi uma cultura importante nas regiões do Algarve, Moura, Torres Novas e Mirandela. Com a falta de mão de obra e com o aumento do preço da mesma, o figo seco deixou de ser interessante para a indústria (destilação), assim como para o consumo animal.

Devido às propriedades nutritivas do figo e aos efeitos benéficos para a saúde, a cultura da figueira está a voltar a ser economicamente interessante em diferentes regiões. No presente, a cultura terá de ser feita com o mínimo de mão de obra e os figos para consumo em fresco terão de ser colhidos sem a ajuda de escadas ou escadotes e os figos para consumo em seco terão de ser colhidos diretamente da figueira sem passar pelo chão. Esta necessidade de mão de obra é principalmente para a poda e colheita, pelo que a forma de condução das figueiras e a altura das mesmas são fatores determinantes, assim como o compasso de plantação.

A forma das figueiras – Vaso baixo

Na cultura tradicional da figueira, a forma de condução é o vaso clássico, num compasso muito largo (10 x 10 m, 8 x 8 m, 8 x 6 m) com pernadas inseridas a 1,2 m a 1,5 m acima do solo, cada uma com 4 a 5 m de altura o que origina figueiras com copas muito largas e altas, incompatíveis com a colheita dos figos diretamente da figueira. Devido à necessidade de se reduzirem os custos de produção, as máquinas agrícolas terão de passar ao lado das figueiras e não debaixo. Assim, nas novas plantações, para formar um vaso baixo, a inserção das pernadas terá de ser aos 0,5 – 0,6 m acima do solo e o topo das mesmas terá uma altura máxima de 2,5 m. No mesmo sentido da redução da mão de obra, o compasso de plantação terá de ser mais estreito (4,5 a 5 m x 2,5 a 3 m) para que o tempo “morto” de deslocação do colhedor / podador entre figueiras seja mínimo e o número de figos colhidos e árvores podadas seja máximo (Figura 1).

Poda das figueiras no primeiro ano

Na forma de condução em vaso baixo, preconiza-se que após a plantação das figueiras e a rega de plantação, estas sejam cortadas a 0,5 – 0,6 m acima do solo devendo deixar, sempre que possível, o primeiro gomo abaixo do corte voltado para o vento predominante. É importante referir que, para que o figueiral comece bem, este corte a 0,5 – 0,6 m, deve estar concluído até meados de fevereiro. O corte deve ser ligeiramente inclinado, para que a água da chuva escorra facilmente, devendo ainda ser protegido com pasta cicatrizante para evitar que a água se “infiltre” na madeira da figueira.

Em meados de abril selecionam-se os 5 a 6 rebentos que estão na parte mais alta da figueira e que estejam mais bem distribuídos e eliminam-se todos os restantes (Figura 2).

Em finais de maio, devem-se eleger os 3 a 4 ramos que vão formar as futuras pernadas sobre as quais se vai desenvolver a copa das figueiras (Figura 3). Nestes ramos, os que tiverem um comprimento superior a 0,50 m, parte-se, manualmente, o gomo terminal para que a futura pernada diminua o crescimento em altura, engrosse e forme ramos laterais (se guarneça) (Figuras 4 e 5). Nos restantes, que nesta fase ainda não atingiram os 0,50 m, será efetuada a mesma operação logo que atinjam esse comprimento. Até final de julho, em cada pernada, e sempre que esta cresça 0,30 m – 0,40 m após a última retirada do gomo terminal, elimina-se novamente o gomo terminal. Os ramos laterais das pernadas (antecipadas) que se dirigem para o interior da copa devem ser eliminados para não provocarem ensombramento no interior da copa. As futuras pernadas devem ficar com uma inclinação próxima dos 45º e bem distribuídas de forma a formarem um “círculo” pelo que, por vezes, é necessário colocar um arame / tubo, em forma de círculo, para ajudar na inclinação e na distribuição das mesmas (Figura 6). Estas intervenções em verde são fundamentais para ajudar as figueiras a formar a copa rapidamente tal como pretendemos, evitando-se assim que se formem ramos onde não são necessários. Os cortes efetuados em verde cicatrizam mais facilmente e a infeção dos mesmos também é menor devido ao tempo quente e seco. Se tudo correr normalmente, as intervenções no inverno são mínimas, resumindo-se à definição da extremidade das pernadas.

Deve-se ter presente que os utensílios de poda (tesoura), antes de utilizados, devem ser afiados, para que os cortes fiquem lisos, lubrificados para ser mais fácil a sua utilização, e desinfetados com álcool a 70º, para evitar a disseminação de doenças, nomeadamente o vírus do mosaico.

Poda das figueiras no segundo ano

Um ano após a plantação, ou seja cerca de 15 dias antes do abrolhamento, pode ser necessário efetuar incisões em algumas pernadas que estejam mais desguarnecidas (falta de ramos laterais). Estas incisões são efetuadas cerca de 1 cm acima do gomo a partir do qual se pretende a formação de um ramo lateral, devendo-se, por isso, dar preferência aos gomos laterais das pernadas. Os ramos orientados para o interior da copa não nos interessam porque provocam sombra, e os voltados para fora também não porque alargam a copa em demasia e ensombram os ramos laterais que estão abaixo. As incisões em forma de “v” invertido são efetuadas unicamente na casca com a ajuda de uma navalha ou da lâmina do serrote. Após a realização das incisões deve-se efetuar um tratamento com cobre para impedir a infeção das mesmas.

Na formação da copa das figueiras, cada pernada deverá ter ramos laterais mais finos do que a própria e os ramos da base devem ser mais grossos e mais compridos do que aqueles que estão acima. No fundo, tem de haver uma hierarquia de baixo para cima. As pernadas terminam num único ramo até chegarem à altura pretendida e quando esta é atingida, faz-se um atarraque sobre um ramo lateral que esteja voltado para fora da copa. Assim, durante o segundo ano, o controlo do crescimento dos ramos é efetuado, também em verde, através da eliminação manual dos gomos terminais, nos ramos que estão a crescer em demasia, ou através da desramação (eliminação total do ramo com corte em bisel) dos ramos que estão a ficar demasiadamente grossos, em relação à pernada. O corte em bisel permite que os gomos que estão dormentes na base do ramo cortado, despertem, dando origem a novos ramos, mas mais fracos. As desramações efetuam-se até meados de junho (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de março 2024

Autoria: Rui M. Maia de Sousa

INIAV, I.P. Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade 2460-059 Alcobaça – Portugal

e-mail: rui.sousa@iniav.pt