O medronheiro, cientificamente conhecido como Arbutus unedo L., é uma pequena árvore, da família das Ericáceas e nativa da região mediterrânica, que se encontra distribuída pela Europa Ocidental, Central e do Sul, podendo ainda ser encontrada nas ilhas Canárias, em países do norte de África e ao longo da costa ocidental da Irlanda.

Ocorre em regiões climáticas temperadas, com geada e seca extrema pouco habituais durante o período veranil 1 . Do ponto de vista ecológico, esta espécie apresenta caraterísticas importantes, já que previne a erosão dos solos e é capaz de se regenerar rapidamente após um incêndio 1,2, resistindo a condições ambientais adversas 3,4.No panorama económico, esta árvore possui diversas vantagens para o seu cultivo ou exploração. O seu cultivo junto às linhas corta-fogo primárias, linhas de alta tensão e eólicas reduz a velocidade do fogo e auxilia à preservação do património florestal e das aldeias mais isoladas e remotas. Já a comercialização dos seus subprodutos gera uma fonte de rendimento, ajudando a dinamizar as regiões mais afastadas dos principais centros urbanos 5.

O medronho, apresenta uma forma globular, coberto de pequenas saliências cónicas, sendo a sua cor inicialmente verde e evoluindo para laranja e vermelho com o amadurecimento, que acontece durante o outono  6,7.

Uma vez que o seu desenvolvimento demora cerca de 12 meses, é comum o medronheiro apresentar simultaneamente frutos maduros e flores 8,9. Apesar do aspeto aparentemente agradável, o medronho é habitualmente usado em compotas e mel ou destilado em aguardente e licores, não sendo frequente o seu consumo em fresco. A aguardente do seu fruto, o medronho, constitui o subproduto de eleição em Portugal.

Do ponto de vista nutricional, apresenta um forte potencial biológico, já que estudos acerca da sua composição química têm demonstrado que pode ser uma fonte de açúcares, fibras, vitaminas, proteínas, ácidos fenólicos e orgânicos, entre outros, tornando atrativa a sua aplicação direta nas mais variadas áreas, incluindo a saúde. 1,10 ,11 (Tabela abaixo). Ainda importa frisar os compostos fenólicos, que são metabolitos secundários produzidos pelas plantas e que parecem ser responsáveis pelas atividades biologicamente ativas observadas no medronho. São várias as classes representadas, destacando-se os flavonóides (antocianinas, proantocianidinas e flavonóis), taninos e derivados dos ácidos fenólicos (derivados dos ácidos elágico e gálico) 1 ,10.

Tradicionalmente, tanto o fruto como as restantes partes do Arbutus unedo L. – folha, raiz, madeira -, têm sido usadas como um remédio natural, em infusão ou decocção, acreditando-se que eram capazes de combater e prevenir inúmeras patologias, incluindo, urológicas 15, dermatológicas 15, cardiovasculares 15,16 , gastrointestinais 15,17 e renais 18 ,19 , apresentando ainda propriedades diuréticas 20 e antidiabéticas 16.

A associação do medronheiro com a medicina tradicional parece estar patente no brasão de Madrid. Reza a história que a árvore no brasão de Madrid era um carvalho, tendo sido trocada por um medronheiro no século XVI. Quando a peste assolou a cidade, descobriu-se que o chá feito com folhas de medronheiro podia curar a doença, incluindo o próprio rei!

Apesar de não terem fundamento científico comprovado, as propriedades medicinais observadas parecem estar diretamente associadas com componentes biologicamente ativas que constituem as diferentes partes do medronheiro. Desse modo, para atestar a veracidade dos ditos populares, têm sido conduzidos vários estudos in vitro e in vivo, de forma a esclarecer quais as atividades benéficas que os componentes desta árvore podem desempenhar na saúde. Para isso, tem-se recorrido à comparação de diversas técnicas de extração, para obtenção das frações funcionais dos constituintes do medronheiro, e posterior aplicação em contexto de doença e não só 21(…).

→ Leia o artigo de investigação completo na Revista Voz do Campo: edição de março 2024

Referências bibliográficas:
Solicitar aos autores: ines.barreto@cataa.ptinesbrandao@cataa.pt

Inês Barreto1, Inês Brandão1 ,

1 Centro de Apoio Tecnológico Agro-Alimentar (CATAA), 6000-459 Castelo Branco, Portugal
2 Centre for Functional Ecology, TERRA Associate Laboratory, Department of Life Sciences, University of Coimbra, Calçada Martim de Freitas, 3000-456 Coimbra, Portugal