O vinho é muito mais do que uma bebida, é uma experiência sensorial que envolve aromas, sabores e memórias. E se soubesse que ao mesmo tempo que desfruta de um bom vinho estaria a contribuir para a sustentabilidade? Pois fique a saber que existem vinhos que realmente contribuem para um mundo melhor.

De acordo com os dados provisórios do IVV, a produção de vinho na campanha 2021/22 atingiu os 7,3 milhões de hectolitros, registando um aumento de 14% face à campanha anterior. Com este aumento, há um aumento dos recursos necessários para a sua produção e, com isso, a necessidade de gerir estas necessidades de forma sustentável.

A definição de desenvolvimento sustentável, tal como adotada em 2015 pelas Nações Unidas na sua Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030, consiste em 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e conta com a participação das empresas e organizações privadas na implementação destas iniciativas concretas, no terreno, e que são cruciais para a construção de estratégias para temas como: o uso do solo, a agricultura, a biodiversidade, o uso de água, a produção de energia, o desenvolvimento rural, a atividade empresarial e a inovação.

No setor da vitivinícola, Portugal, tem se destacado como um país comprometido com esta missão. No centro deste compromisso estão duas iniciativas que, apesar de voluntárias, são emergentes para apoiar os produtores portugueses para esse objetivo: o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) e o Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do setor vitivinícola (RNCSSV).

O PSVA, sendo a primeira iniciativa do género em Portugal, lançado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), (…) pretende apoiar os agentes económicos na melhoria do desempenho ambiental, social e económico (…) e promover o reconhecimento do desempenho de sustentabilidade dos vinhos da região (…) e com isso a (…) afirmação da marca Alentejo nos mercados internos e externos (Fonte: ET-PSVA). O PSVA incentiva de forma permanente, a necessidade da melhoria contínua. O modelo do sistema, conhecido até à data, para a Viticultura e/ou Adega é um referencial baseado nos requisitos definidos nos 18 capítulos do Programa: 11 Capítulos de Intervenção Primária – CIP (108 critérios) e 7 capítulos de Intervenção secundária – CIS (63 critérios). O objetivo é atingir a categoria Geral de Sustentabilidade de DESENVOLVIDO (ou seja, pontuação mínima de 3,5 em 4) nos CIP e posteriormente nos CIS.

Após a atribuição da categoria geral de sustentabilidade de DESENVOLVIDO nos capítulos de Intervenção Secundária (CIS), o Agente Económico, poderá fazer a Auditoria de concessão através de uma empresa certificada (Acreditada pelo IPAC, Norma ISO 17021 e aprovada pelo CVRA), como é o caso da CERTIS – Controlo e Certificação. Lda. Esta certificação tem um ciclo de 5 anos e, por esse motivo haverá anualmente um acompanhamento da CVRA e auditorias de acompanhamento pelo Organismo de Certificação (OC).

Por outro lado, temos a ViniPortugal, uma organização cujo objetivo é também promover os vinhos portugueses tanto a nível nacional como internacional. A ViniPortugal criou o Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do setor vitivinícola (RNCSSV), uma referência unificada para a sustentabilidade na produção de vinhos por todo o país, dando alguma autonomia para implementar práticas que sejam mais relevantes para as diferentes regiões de forma individual, tendo por base a Resolução OIV- VITI 641-2020 “Guia para a Implementação dos Princípios da Vitivinicultura Sustentável”. O RNCSSV procura promover a sustentabilidade das organizações do setor, de diferentes tipologias de atividade, de diferentes dimensões e com diferentes níveis de evolução na implementação de prática, no sentido que seja simples, inclusivo e credível (Fonte: RNCSSV V3.0).

De forma a facilitar a aplicabilidade do referencial, foram definidas duas tipologias de atividades: Produção Primária (Uva) e Transformação (Destilados de Origem Vinícola, Mostos, Vinhos, Vinagres, Outros Produtos de Origem Vitivinícola). Existem como opções de certificação: a Unilocal ( operadores com um único local de produção/transformação), Multilocal (o operador pode ser proprietário de vários locais de transformação com o mesmo NIF), Multiatividade (nos casos de operadores verticalmente integrados – Produção Primária e Transformação – pode optar por uma certificação integrada a qual contempla por inerência um certificado e logotipo de certificação integrada) e através de Referenciais e Equivalentes (outros referenciais equivalentes). Existem 3 documentos públicos basilares: a Especificação Técnica (que tem como objetivo fazer uma explicação de como deverá ser o procedimento para os organismos de certificação), o Glossário (contém as definições e siglas necessárias para uma mais clara interpretação do referencial), o referencial que contém os critérios para a obtenção da certificação, e 1 documento na zona reservada, a Autoavaliação.

Para a certificação deste referencial, é necessária uma inscrição no ViniPortugal e fazer o preenchimento da autoavaliação. É construído tendo em consideração 4 vetores de intervenção centrais (domínios): 1) Gestão e Melhoria Contínua, 2) Ambiental, 3) Social e 4) Económico; 17 Capítulos e 86 indicadores, dos quais 28 são indicadores “KO”, que são decisivos para a certificação.

As organizações após obterem uma % mínima e a pontuação mínima nos indicadores “KO” poderão fazer a Auditoria de concessão através de uma empresa certificada (Acreditada pelo IPAC, Norma ISO 17021 e aprovada pelo ViniPortugal), como é o caso da CERTIS – Controlo e Certificação. Lda. Esta certificação tem um ciclo de 3 anos, sendo a concessão considerada ano “zero” (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de março 2024

Autoria: Luís Vaz-Freire luisvf@certis.pt