O Montado é um ecossistema agro-silvo-pastoril que, pelas suas caraterísticas, apresenta simultaneamente, um forte potencial e uma elevada complexidade. O potencial do Montado pode identificar-se pelos serviços de ecossistemas (“eco-serviços”) que proporciona (Figura 1). Entre eles, o seu importante papel no sequestro de carbono (incorporação de matéria orgânica no solo), a prevenção da erosão do solo pela cobertura vegetal permanente e pela ausência de mobilização, a reserva de biodiversidade (tanto ao nível do microbioma do solo, como da diversidade de espécies botânicas que constituem a pastagem), a silvo pastorícia como sistema de alimentação “in-situ” (reduzindo os custos com a alimentação dos animais), a mitigação das alterações climáticas e o bem-estar animal proporcionado pelas árvores perante amplitudes térmicas que no Alentejo podem ir dos 0ºC no Inverno aos mais de 40ºC no Verão, a valorização de raças animais autóctones, adaptadas a este contexto climático, ou o contributo para a fixação das populações em zonas rurais, contribuindo para a ocupação equilibrada do território.

A complexidade do Montado é inerente aos fatores de variabilidade que tem associados, resultantes da natural heterogeneidade do solo e da diversidade de espécies botânicas, da presença de árvores e da dinâmica do pastoreio animal, em interação com a sazonalidade e irregularidade inter-anual da temperatura e da precipitação, típicas do clima Mediterrânico. A tomada de decisão neste contexto é, por isso, difícil, nomeadamente no que confere a questões como a correção do pH ou da fertilidade do solo, o encabeçamento animal, o tipo de pastoreio ou a suplementação animal.

Uma visão holística sobre o Montado pressupõe considerar a monitorização expedita das variáveis relevantes e suas inter-relações. Uma equipa da Universidade de Évora, pertencente ao centro de investigação “MED” (Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento), desenvolve os seus estudos focados na validação e calibração de ferramentas tecnológicas com aplicações no Montado.

A Figura 2 mostra que estão disponíveis sensores que, em estreita associação com recetores GNSS (Global Navigation Satellite Systems) permitem levantar a variabilidade espacial das caraterísticas do solo ou da pastagem ou monitorizar o pastoreio e, através de sistemas de informação geográfica (SIG), representar esta variabilidade em forma de mapas temáticos. A interpretação destes mapas, via conhecimento agronómico e/ou zootécnico, apoiará a tomada de decisão no estabelecimento de zonas de gestão diferenciada ao nível de cada parcela, ou, em última instância, o fechar do ciclo de Agricultura de Precisão, por exemplo, com a aplicação variável de adubos ou de corretivos, com a redefinição dos parques de pastoreio ou com a implementação de programas de suplementação alimentar dos animais face à evolução da disponibilidade e qualidade de biomassa.

As aplicações de tecnologias no apoio à gestão do ecossistema Montado são inúmeras, pelo que se apresentam nas figuras seguintes alguns dos exemplos, respetivamente ao nível do solo, da pastagem ou do pastoreio.

A Figura 3 apresenta vários tipos de sensores que podem ser utilizados para pedir a capacidade do solo para conduzir corrente elétrica (caso dos sensores de indução eletromagnética EM-38 ou Dualem 1S) ou a resistividade elétrica (é o caso do sensor Veris 2000 XA). A condutividade elétrica aparente do solo (ECa), está fortemente ligada à fertilidade do solo, nomeadamente, aos teores de argila, à capacidade de troca catiónica ou à humidade, pelo que um mapa que ilustre a variabilidade espacial deste parâmetro poderá levar o gestor agropecuário a definir zonas homogéneas de gestão, a dirigir de forma inteligente a amostragem do solo (reduzindo exponencialmente os custos relacionados sem perder qualidade e detalhe na informação obtida) e a elaborar mapas de prescrição variável de adubo, por exemplo (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de março 2024

Autoria: João M. P. R. Serrano

Departamento de Engenharia Rural, Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora

MED—Mediterranean Institute for Agriculture, Environment and Development and CHANGE—Global Change and Sustainability Institute, Universidade de Évora, Portugal

e-mail: jmrs@uevora.pt