A IACA – Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais, reúne o setor no dia 8 de maio, na Reunião Geral da Indústria (RGI), tendo lugar na Faculdade de Medicina Veterinária – Lisboa. O encontro acontece numa altura em que a legislação da União Europeia sobre a desflorestação provoca a incerteza no abastecimento e nos preços de uma das mais importantes matérias-primas para a alimentação animal, a soja. 60% da soja consumida por este setor em Portugal tem origem no Brasil, país que não deverá aceitar a sobreposição de legislação internacional à sua própria legislação. Este é um dos temas em análise na RGI onde também se debatem formas de promoção da economia circular e de diminuição da dependência de matérias-primas dos mercados externos, nomeadamente, através da inclusão de proteínas de insetos na alimentação animal. Neste âmbito, estudos indicam disponibilidade dos fabricantes portugueses para incluir proteína de insetos nos seus produtos.
No que respeita à lei da desflorestação análises apontam para um cenário em que, a partir de 2030, as restrições provocadas pela lei da desflorestação combinadas com as dinâmicas da oferta e da procura possam provocar aumentos de até 50% no preço das commodities com origem no Brasil, entre as quais se encontra a soja, de onde Portugal importa, anualmente, cerca 640.000 toneladas para a alimentação animal, 60% de toda a soja importada para este fim. O setor defende que a aplicação do Regulamento da União Europeia relativo à desflorestação (EURD no acrónimo em inglês) tal como está preconizado, tem consequências nefastas, quer para o setor agropecuário, quer para os consumidores europeus. Com base nesta posição 21 Estados-membros da União Europeia, entre os quais Portugal, pediram, já, a revisão ou adiamento da sua entrada em vigor, alegando a impossibilidade da sua aplicação em tempo útil e aguardam decisão da Comissão Europeia. Para detalhar as consequências previsíveis da implementação da lei, o encontro dos industriais conta com a participação de Roberto Molinari, analista de mercados agrícolas no Brasil. Segundo o analista da consultora líder na área do agronegócio brasileiro, entre outros impactos previsíveis, é expectável uma discussão judicial internacional acerca desta legislação entre Europa e Brasil no quadro da Organização Mundial do Comércio e a deslocação de exportações brasileiras para a Ásia, em detrimento da Europa, se esta for a única região a impor restrições. É também esperado um sobrecusto de 25% no preço das matérias-primas, atribuível exclusivamente aos custos de rastreabilidade e certificação.
O contexto justifica a presença de Pedro Cordero, presidente da Federação Europeia dos Fabricantes de Alimentos para Animais (FEFAC) para abordar o “Futuro da Alimentação Animal na União Europeia” que inclui a opção estratégica do setor de promover a economia circular e ser cada vez menos dependente de proteína com origem nos mercados externos. Neste contexto é ainda apresentado, pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), um estudo que revela que a inclusão de proteína de insetos na alimentação dos animais, uma opção que promove a economia circular e diminui a dependência das importações, é uma opção viável para parte dos produtores de rações em Portugal.
O encontro reserva, também, um momento relevante para a discussão de temas relativos à comunicação e que inclui a presença da Susana Fonseca, em representação da Plataforma Zero. A propósito, Jaime Piçarra, Secretário-Geral da IACA, refere «São também pessoas que não pensam como nós, que nos ajudam a fazer melhor. Esta presença pode ajudar-nos a encontrar uma plataforma comum de comunicação que nos aponte caminhos que permitam compatibilizar a produção de alimentos com a proteção do ambiente.”
Romão Braz, Presidente da IACA, afirma «Este ano os temas em análise na RGI concretizam, já, algumas das soluções em que temos estado a trabalhar e que respondem ao desafio da sustentabilidade ambiental. Contudo, há um alerta: até que estas soluções possam estar em velocidade de cruzeiro é necessário assegurar a soberania alimentar de Portugal e da Europa e isso implica compromissos na transição, designadamente uma lei europeia de desflorestação mais simples e que dê mais tempo aos operadores para se adaptarem a novas exigências».
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