Autoria: Maria do Céu Godinho, docente na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Santarém


UMA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE LABORATÓRIOS VIVOS DO SOLO

A saúde do solo desempenha um papel de crucial importância na sustentabilidade e produtividade agrícola. No entanto, muitas práticas, sobretudo em sistemas culturais com forte intensificação têm levado à degradação do solo como erosão, compactação e diminuição da biodiversidade. Para enfrentar estes desafios e repor a capacidade produtiva nos solos, o uso de culturas de cobertura tem sido reconhecido como uma solução eficaz.

Enquadrado nesta temática, apresenta-se o projeto SOILIFE 1st (PRR – https://soilife1st.webnode.pt) e uma breve descrição dos objetivos, plano de ação e como se perspetivam os trabalhos no futuro próximo enquadrados nas estratégias temáticas europeias em particular os compromissos desenhados pela Missão Solo.

O projeto SOILIFE1ST – Adaptação de sistemas produtivos em contexto de alterações climáticas é uma iniciativa aprovada no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) da iniciativa emblemática 4 e da Agenda de Inovação para a Agricultura 2030. O Consórcio é liderado pelo Instituto Politécnico de Santarém e envolve como parceiros, o INIAV, o COTHN-CC e, a produção representada pela AIHO e CAMPOTEC. A FERTIPRADO, SA é o parceiro que se dedica à produção das misturas pensadas com os produtores e ajustadas a cada realidade. O projeto tem uma abrangência regional com foco no Ribatejo, Oeste e Litoral Alentejano e integra campos piloto instalados em empresas agrícolas com participação ativa dos empresários agrícolas. É esta a primeira experiência de trabalho de co-criação em ambiente de laboratório vivo.

O principal objetivo deste projeto é a melhoria da saúde do solo com aumento da capacidade de retenção de água e de nutrientes, de armazenamento de carbono e de biodiversidade. Procura-se inovar e simultaneamente garantir a produtividade e o rendimento com o reforço da resiliência dos sistemas.

O projeto envolve um trabalho conjunto entre as equipas de investigação, a empresa que produz as misturas biodiversas e os agricultores que expõem as suas necessidades e limitações no que respeita aos problemas identificados. O processo é simples. As propostas são definidas num processo de co-criação e a introdução de culturas de cobertura em sistemas produtivos é planeada de acordo com as especificidades de cada exploração no que respeita às culturas principais, à tipologia da exploração e às características edafoclimáticas. As culturas de cobertura são introduzidas num período de “vazio” de culturas principais, normalmente no outono-inverno e devem incluir uma variedade de soluções com misturas de espécies de trevos e outras leguminosas com cereais e crucíferas. Essas misturas são selecionadas com base nas necessidade e limitações do sistema cultural em causa e tendo como foco primário a sua capacidade para melhorar as caraterísticas e funções do solo: estrutura, fornecimento e disponibilização de nutrientes, supressão de plantas potencialmente infestantes, agentes patogénicos e pragas e de atrair organismos polinizadores e outros auxiliares.

O investimento em conhecimento e capacitação pretende alterar um panorama desajustado a processos de conservação: monocultura e “abandono” das parcelas em período não produtivo. Espera- -se poder contribuir para a alteração deste panorama ilustrado pelos resultados apresentados abaixo.

O projeto é conduzido com a participação de agricultores com o suporte técnico para implementar as culturas de cobertura. As técnicas e práticas utilizadas no projeto são baseadas em evidências científicas e adaptadas às condições específicas de cada área.

A avaliação do impacto envolve a recolha de dados de vários parâmetros que podem traduzir a evolução do estado do solo incluindo análises físico-químicas, atividade biológica e capacidade de retenção de água e armazenamento de carbono. Além disso, são medidos os impactos nas culturas principais, nomeadamente na cultura do tomate como a produtividade e a incidência de plantas infestantes.

Até o momento, os resultados do projeto têm sido muito positivos

Tem-se vindo a observar uma melhoria nos indicadores de biodiversidade como um aumento de diversidade e abundância de invertebrados (artrópodes) e do microbioma. Este texto inclui a informação sobre o aumento de diversidade na microfauna do solo baseada num indicador que reflete a Qualidade Biológica do Solo (QBS-ar). A título de exemplo ilustra-se a evolução do solo num dos campos de ensaio onde foi aplicado o método QBS-ar (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de abril 2024