As Notas desta semana ficam marcadas, claramente, pelo evento da IACA de 8 de maio, em que, para além da desflorestação e das consequências para as cadeias de abastecimento, também trouxe à discussão o tema da Comunicação. Quanto ao primeiro, relembrámos as nossas preocupações, a carta do Comissário Agrícola, e o facto de a FEFAC ter enviado (mais) uma exposição ao Presidente do Conselho Agrícola, carta essa que fizemos chegar ao nosso Ministro da Agricultura. No que respeita à Comunicação na Fileira Agroalimentar, assunto da maior relevância, tivemos uma excelente Mesa-Redonda, com pessoas que não pensando exatamente como nós, nos desafiam, nos tiram da “zona de conforto” e nos obrigam a olhar para a sociedade de uma outra forma.

Jaime Piçarra – Secretário-Geral da IACA

Sim, porque todos queremos um Planeta mais sustentável, só temos este, mas também queremos continuar a ter empresas, competitividade e sustentabilidade, remunerar melhor os colaboradores, dar esperança a quem trabalha no Setor, reduzir a burocracia, taxas e taxinhas, custos de contexto que nos sufocam, ter os mesmos instrumentos e regras que os nossos parceiros (e concorrentes) no mercado mundial.

Acreditamos que é possível o equilíbrio entre a produção de alimentos e a proteção do ambiente e numa transição energética que não comprometa a competitividade das empresas e a segurança alimentar.

Uma vez mais, tentámos marcar pela diferença. Se conseguimos, têm a palavra os participantes, na sala e na plataforma do Agroportal, ou nas entrevistas e vídeos da Voz do Campo.

De facto, em 6 de abril de 2017, numa Reunião Geral da Indústria (RGI) subordinada ao tema “Preparar a Fileira para os Desafios da Sociedade”, abordámos então os Desafios da Comunicação, interiorizando que a comunicação iria ser essencial na vida das empresas e das organizações como a nossa. Não como um custo, mas um investimento. De resto, já o tínhamos percebido, enquanto setor, nas denominadas “crises alimentares” como as dioxinas, a BSE e os nitrofuranos, em que foram notórias as dificuldades em comunicar, fazer planos de crise, passar a informação para a opinião pública, falar a uma só voz mesmo entre nós, construir a narrativa e a verdade dos factos.

Eram os tempos das preocupações da higiene e segurança alimentar (feed e food safety), os planos de controlo, ainda não existiam as redes sociais tal como hoje as conhecemos, e a transmissão de eventos em streaming eram uma raridade. Apontamos estes factos só para termos a noção de como tudo se alterou e a uma velocidade estonteante, parece que foi há uma eternidade, mas não. Foi apenas em 2017. Naquele tempo muitas eram as dúvidas quanto à competição entre a presença física e o online. “Até que ponto não são as pessoas desmotivadas a participarem nos eventos pelo facto de eles serem transmitidos em streaming” era uma delas. A aposta foi ganha, tivemos a sala cheia e centenas de participantes na Internet, de vários pontos do mundo.

A IACA e o Agroportal foram, assim pioneiros, na escolha de uma nova forma de comunicar, e em relevar a Comunicação como tema central do nosso debate.

Sete anos depois, em 8 de maio de 2024, num pós-pandemia em que se vulgarizaram os webinar e o formato online, em direto e ao vivo nas redes sociais, em mais uma RGI, regressámos ao tema da Comunicação. Como Comunicar num período – e já aqui o escrevemos – em que nunca existiu tanta desinformação e “fake news”, ampliadas pelo populismo, assente nos medos que a incerteza sempre desperta e num ambiente de inúmeras eleições um pouco por todo o Mundo?

Ao longo de todo o ano de 2024 serão chamados a votar 2 biliões de eleitores em 50 países, de acordo com o Center for American Progress.  É, assim, bastante provável, que estas eleições definam o futuro do planeta e da humanidade nos próximos anos. Desde logo, duas eleições que são decisivas para o mundo ocidental: Parlamento Europeu e Presidenciais nos Estados Unidos. Os resultados de todas essas votações podem ser uma demonstração do perigo crescente para a saúde da democracia. Por isso, a pressão para a comunicação, para a manipulação dos factos e das redes sociais nunca foi tão elevada.

Regressando à nossa RGI, para além da visão da desflorestação do lado do Brasil, em que ficou claro que ainda há muito a fazer na legislação europeia para que os países se possam adaptar e cumprir, sobretudo quando existe legislação nacional como o Cadastro Ambiental Rural, tivemos a oportunidade de dar a perspetiva da nossa organização europeia (FEFAC) nos desafios que temos pela frente. Tivemos, também, oportunidade de apontar as soluções que o Setor preconiza e que já tem disponíveis, desde a soja sustentável, à Carta da Sustentabilidade 2030 ou à rotulagem verde, com a marca identitária do GFLI, na avaliação da pegada ambiental do setor, ou os trabalhos que temos vindo a desenvolver na economia circular com a valorização dos coprodutos.

Seguiu-se a Comunicação, com um autêntico tratado a enquadrar o tema, para termos a oportunidade de ouvir a apresentação de dois projetos, o MAPA (Movimento Ambiente e Produção Alimentar) e o B-Rural, que se complementam e farão certamente o seu caminho.  A seguir, a Mesa-Redonda, com uma excelente moderação e um debate muito interessante, muito aberto e dinâmico, com pontos de vista necessariamente diferentes, mas com muitos conselhos e “recados” e mensagens comuns: a de que temos de olhar e valorizar o alimento, recusar o ruído como forma de comunicar, a comunicação deve ser permanente e assente em factos, dados científicos, verdade e transparência, temos de ouvir quem não pensa como nós, promover as boas experiências e os bons exemplos, com a consciência de que ainda temos, infelizmente, maus exemplos. A Alimentação é demasiado importante para não cuidarmos das dietas, da educação alimentar, das preocupações com a saúde. E mostrar e demonstrar que estamos comprometidos com os consumidores, com a Sociedade e intervindo na definição das políticas públicas.

Para isso, também precisamos que as empresas colaborem e nos forneçam as informações e os dados necessários para suportamos as posições que defendemos.

Por último, não nos podemos esquecer da Sessão da tarde, dedicada ao InsectERA, o tema dos insetos, refletindo até que ponto serão os Insetos a proteína do futuro, em que as preocupações devem ser muito para além do preço, mas da saúde, nutrição e bem-estar animal.

Ficou ainda alguma crítica, que também já aqui assumimos, a ausência da Alimentação no Ministério da Agricultura e Pescas. É verdade que a palavra desapareceu, mas também não é menos verdade que o Governo anterior, que a tinha incorporado, pouco ou nada fez por ela. Há que dar algum tempo e estarmos atentos porque, também já aqui o referimos e por diversas vezes, o Ministério não é, nem pode ser só Agricultura. Temos de ter uma visão do agroalimentar porque o futuro da PAC é também o futuro da Alimentação.

Tudo isto pode ser visto e revisto na plataforma do Agroportal, além das entrevistas na Voz do Campo, em papel e no formato digital e em: www.vozdocampo.pt

A imprensa especializada tem desempenhado um papel fundamental, a quem todos agradecemos, mas é preciso estarmos cada vez mais presentes nos meios generalistas.

Se há 7 anos debatíamos os desafios, hoje estamos a discutir iniciativas concretas, uma estratégia de comunicação, que devem envolver as diferentes organizações e visões de fora, porque a pluralidade é demasiado importante neste contexto.

E não esquecer, como ficou vincado numa das intervenções, que a Comunicação deve ser de Todos e todos somos chamados a participar.

Por isso e em conjunto, temos de saber marcar a diferença.

Para não desperdiçar mais oportunidades.

Jaime Piçarra
Secretário-Geral da IACA


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