O tomate é o fruto mais consumido em fresco a nível mundial, com cerca de 186 milhões de toneladas comercializadas. É usado no fabrico de múltiplos produtos como concentrados, polpas, sumos, sopas, molhos, etc. O valor das transações envolvidas no ano de 2022 foi de 9400 milhões de dólares. Em Portugal a produção tem variado nos últimos 10 anos entre 1,4 e 1,9 milhões de toneladas (FAO 2022). Inúmeras ameaças bióticas e abióticas afetam esta cultura e uma das principais são as doenças causadas por vírus.

A introdução de novas viroses tem sido um dos maiores problemas dos produtores de tomate. Nos anos 80 do século XX a principal ameaça foi o vírus do bronzeamento do tomateiro (Tomato Spotted Wild Virus -TSWV) concomitante à presença dos seus tripes vetores. Seguiu-se nos anos 90 e com a dispersão da mosca-branca (Bemisia tabacci) o vírus do frisado amarelo do tomateiro (Tomato Yellow Leaf Curl Virus -TYLCV) e os vírus da clorose do tomateiro (Tomato chlorosis virus -ToCV) e vírus da clorose infeciosa do tomateiro (Tomato infectious chlorosis virus -TICV), dos quais a mosca-branca é vetor. No início deste século a ameaça principal começou por ser o vírus do mosaico do melão-andino (Pepino Mosaic Virus– PepMV) e desde o final da segunda década deste século o vírus do fruto rugoso castanho do tomateiro (Tomato Brown Rugose Fruit Virus – ToBRFV), ambos transmitidos mecanicamente. Os vírus referidos são as principais ameaças das últimas décadas, mas em tomateiros já foram detetados pelo menos 206 vírus e viróides distribuídos por 15 famílias (ver quadro 1). É de salientar que a presença de infeções mistas é extremamente comum. Seguidamente faz-se uma pequena resenha das espécies e famílias que constituem as ameaças atuais para os produtores de tomate.

Quadro 1. Famílias de vírus de tomateiro, Número de espécies, Espécies e vetores importantes

Vírus do fruto rugoso castanho do tomateiro (ToBRFV) e outros Tobamovirus

Os Tobamovírus são vírus com genoma de RNA, em forma de bastonete e que pertencem à família Virgaviridae. Incluem além do ToBRFV, os ubiquitários vírus do mosaico do tabaco (Tobacco Mosaic virus -TMV) e do tomateiro (Tomato Mosaic virus -ToMV) para os quais a grande maioria das variedades recentes de tomateiro tem alguma resistência e/ou tolerância, esta é quebrada na presença de ToBRFV. Este torna-se assim uma dupla ameaça pois além dos danos que causa, reintroduz um problema anteriormente resolvido. O ToBRFV causa diferentes tipos de sintomas que dependem da variedade, da idade da planta no momento da infeção e das condições ambientais, como temperatura, fotoperíodo e sistema de cultura. As folhas ficam com mosaicos, empolamentos e afilamentos verde-escuros dos folíolos. Ocasionalmente provoca lesões necróticas em pedúnculos, cálices e pecíolos e necrose longitudinal do caule. No fruto, os primeiros sintomas descritos são o acastanhamento rugoso e manchas enrugadas. O amadurecimento de frutos jovens é desigual. O ToBRFV pode induzir uma redução de rendimento de 15 a 55%, mesmo em plantas com o gene de resistência Tm2. Estes vírus assim como o PepMV são transmitidos por semente e mecanicamente pelo que se deve ter sempre cuidado extremo com as operações culturais, alfaias e ferramentas, caixas, e movimento de trabalhadores.

Vírus do mosaico do melão-andino/pepino-melão (PepMV) e outros Potexvirus

Os Potexvirus são vírus com genoma de RNA, com uma forma alongada e que pertencem à família Alphaflexiviridae. Incluem além do PepMV, o vírus X da batateira (Potato virus X -PVX) que causa necroses em tomateiros jovens. A sintomatologia do PepMV pode ir de latente a severa. Na folha observam-se empolamentos como borbulhas, clorose, mosaico, manchas angulares amarelas. Tanto na folha como no caule observam-se zonas necrosadas. No fruto podem observar-se descolorações como marmoreado e manchas brilhantes. Ocasionalmente podem observar-se malformações e rachaduras no fruto. Embora oficialmente este vírus não tenha sido detetado em Portugal a sua presença não está excluída pois a sintomatologia típica é observada frequentemente.

Vírus do frisado amarelo do tomateiro (TYLCV) e outros Begomovirus

Os Begomovírus são vírus com genoma circular de DNA, com a forma de dois icosaedros geminados que pertencem à família Geminiviridae. Já foram detetadas 128 espécies pertencentes a esta família em tomateiro, e têm progredido nas últimas décadas devido à sua enorme capacidade de recombinação, inúmeras trocas comerciais resultantes da globalização e presença do seu vetor principal a Bemisia tabacci. Os sintomas de TYLCV incluem desenvolvimento lento das plantas e plantas ananicadas. Folhas com os folíolos pequenos, frisados e com margens cloróticas e enroladas para cima. Abortamento de grande número de flores e frutos. Frutos pequenos pálidos, com a epiderme rugosa e sem valor comercial. Por vezes ocorre a perda total da produção em tomateiro. Podem ser transmitidos por semente em tomateiro e pimenteiro. É de referir a presença da estirpe que infeta Cucurbitáceas do vírus Tomato Leaf curl New Delhi virus (ToLCNDV) em Portugal, mas não das estirpes que infetam tomateiro. Este vírus é de quarentena na União Europeia (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de maio 2024

Autoria: Margarida Teixeira Santos, Técnica Superior do INIAV Quinta do Marquês, Av. da República 2780-159 Oeiras margarida.santos@iniav.pt