A agricultura de precisão (PA) tem emergido há pelo menos duas décadas como uma força transformadora na gestão agronómica das culturas, prometendo otimizar o uso de recursos e melhorar a eficiência produtiva. A sua adoção plena tem, no entanto, sido mais lenta do que à partida esperada, em resultado do embate com algumas barreiras bastantes significativas. Algumas dessas barreiras encontram-se do lado de quem procura soluções (produtos e serviços) na AP, mas também há barreiras do lado da própria oferta. Este texto é dedicado a estas últimas.

Mas antes de focar nas barreiras à adoção é preciso definir bem o que se entende como adoção da AP para que possamos perceber o que é a adoção ou pelo menos qual o grau em que se manifesta. Tal como está definida pela Associação Internacional de Agricultura de Precisão (ISPA), a AP é uma estratégia de gestão que reúne, processa e analisa dados temporais, individuais e espaciais para apoiar as decisões de gestão de acordo com a variabilidade espacial e temporal com o objetivo de melhorar a eficiência do uso dos recursos e aumentar (1) a produtividade, (2) a qualidade da produção, (3) a rentabilidade e a (4) sustentabilidade da produção agropecuária.

A definição é bastante abrangente focando-se sobretudo no uso de dados e não é explícita em relação a nenhuma tecnologia. Quer isto dizer que a AP é um processo com um fim de melhoria contínua e não a posse/uso desta ou daquela tecnologia ou conjunto de tecnologias/serviços. Isto representa um claro contraste com o facto de a maioria das avaliações de adoção de AP se fazerem, não pela evidência de melhoria de processos de tomada de decisão, mas pela evidência da aquisição e/ou uso desta ou daquela tecnologia/serviço. As poucas políticas de apoio que têm existido em Portugal também se têm focado na aquisição da tecnologia/serviços e não na melhoria dos processos de decisão evidenciados por métricas de ação e resultados.

É óbvio que a tecnologia tem um lugar importante na AP, sobretudo em níveis de adoção mais avançados. Mas deve ser sempre vista como meio para atingir fins e não como um fim em si mesmas. Devemo-nos preocupar sobretudo com (e apoiar) o fim e não com o meio. Até porque há diversos meios para atingir fins idênticos em função do condicionalismo específico de cada exploração, do seu contexto, da sua capacidade de investimento, e até da sua capacidade técnica.

Em resultado do que é o cerne da AP e da abrangência da definição, também se pode concluir que adotar agricultura de precisão pode significar realidades bastantes diversas ao nível da exploração agrícola, sobretudo nos estados iniciais do processo.

Contudo para simplificar, podemos agrupar os impactos da AP na exploração agrícola em 4 grandes categorias:
(1) Condução assistida e automática por GPS (auto steering) com redução de sobreposições e falhas, retorno ao ponto de paragens, etc.;

(2) Controlo automático da largura de trabalho (swath control) com redução da sobreposição de passagens no seio da largura de trabalho;

(3) Controlo de frota (Fleet management) com monitorização em tempo real e controlo da atividade de tratores e máquinas, tráfico controlado, otimização das passagens, etc.; e

(4) Taxa variável de semente, fertilizantes, fitofármacos e água (variable rate).

Entre as quatro grandes categorias de impactos da AP nas explorações agrícolas, o impacto no cumprimento dos objetivos da agricultura de precisão é desigual. De facto, o contributo da (1) condução assistida por GPS, embora significativo, não é comparável com o da (2) taxa variável, quer em termos relativos quer absolutos se considerarmos a extensão das parcelas (…).

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Cortesia foto: (fonte: https://blog.sensix.ag/)

Autoria: Ricardo Braga, Instituto Superior de Agronomia Universidade de Lisboa