À medida que a legislação ambiental se torna mais exigente, como a estratégia “Do Prado ao Prato” do Pacto Ecológico Europeu, é necessário desenvolver produtos alternativos como biofertilizantes, bioestimulantes e biopesticidas para auxiliar a minimizar o uso de agroquímicos. É neste contexto que, produtos à base de algas, podem ser uma solução promissora melhorando a sustentabilidade da agricultura.

A investigação científica centralizada nas algas como matéria-prima alternativa para alimentos, ingredientes funcionais, cosméticos, fertilizantes, entre outros, tem aumentado significativamente nas últimas décadas o que levou a um incremento de financiamento para projetos relacionados com algas. O laboratório colaborativo GreenCoLab (Associação Oceano Verde), tem uma equipa de investigadores multidisciplinares que abrange conhecimentos especializados em toda a cadeia de valor das algas, tanto macro como microalgas, existindo um grupo de investigação totalmente dedicado ao desenvolvimento de produtos bioestimulantes e biopesticidas para o setor agrícola. O GreenCoLab está sediado na Universidade do Algarve (Faro) e conta com investigadores associados dos 10 parceiros estratégicos localizados em todo o país – dois centros de investigação (Centro de Ciências do Mar – CCMAR e Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental – CIIMAR), um laboratório do estado (Laboratório Nacional de Energia e Geologia – LNEG), uma universidade (Universidade de Aveiro) e seis empresas (Allmicroalgae, Necton, ALGAplus, Sparos, Iberagar e Gopsis).

Este laboratório colaborativo tem participado em diversos projetos com financiamento Nacional e Europeu relacionado com a valorização de algas para a agricultura, tendo obtido resultados significativos no aumento da produtividade bem como no efeito protetora contra diferentes agentes fitopatogénicos.

A título de exemplo é o Pacto da Bioeconomia Azul (Projeto nº C644915664-00000026) e dentro do VERTICAL ALGAS (liderada pela empresa Necton) financiado pelo Fundo Europeu Next Generation EU e pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) português. O GreenCoLab participa no sub-projecto dedicado à agricultura liderado pelo laboratório colaborativo InnovPlantProtect. O objetivo principal passa por identificar, produzir e testar bioestimulantes e bioprotetores e moduladores da microbiota do solo baseados em biomassa de algas contribuindo para o aumento da sustentabilidade da produção agrícola e da biomassa de algas numa perspetiva de uma economia circular de produção de algas.

Até ao momento o GreenCoLab testou diversas biomassas de macro e microalgas das empresas Necton, ALGAplus e Iberagar para avaliar o potencial biofungicida contra fungos patógenos causadores de doenças relevantes no morangueiro e na framboesa.

Complementarmente, testou o potencial bioestimulante em ensaios de germinação de sementes de plantas modelo que permitiu identificar as espécies de algas mais promissoras e continuar o estudo num ensaio realizado na cultura da framboesa acompanhando o efeito bioestimulante dessas algas em todo o ciclo de produção.

Plantas de Monstera a crescer com adição de algas via rega (esquerda) versus plantas que cresceram sem adição de algas (direita)

Outro exemplo é o projeto SEAWEED2PLANT, financiado pela Islândia, Liechtenstein e Noruega, através dos EEA Grants Portugal (EEA.BG.SGS1_2.005.202) com apoio da Direção-Geral de Política do Mar. A empresa promotora Generosa Nature aliou-se ao GreenCoLab nesta investigação e foram atingidos avanços importantes que culminou no desenvolvimento de um protótipo de solução nutritiva para o mercado-nicho das plantas de interior. O protótipo foi produzido recorrendo à utilização de subprodutos de empresas produtoras de algas em Portugal (Allmicroalgae e ALGAplus). Neste projeto, foram realizados diversos ensaios de validação agronómica das biomassas de algas em plantas-modelo e em plantas de interior e foi selecionada aquela com maior eficácia biofertilizante e definida a sua formulação.

Atualmente o GreenCoLab é ainda parceiro no projeto Europeu LOCALITY (101112884) liderado pelo Norsk Institutt for Vannforskning (NIVA) e financiado pelo programa HORIZON-MISS-2022-OCEAN-01 com objetivo focado no desenvolvimento de cadeias de valor circulares e sustentáveis, criando produtos inovadores à base de algas, concomitante com a proteção e recuperação dos ecossistemas aquáticos na Europa.

As tarefas relacionadas com a agricultura em que o GreenCoLab participa visa a testagem de diversas biomassas e extratos de algas à escala laboratorial e em estufa.

A testagem incide no potencial de biocontrolo através da avaliação in vitro da capacidade de inibição do crescimento de diversos fungos patógenos, sem esquecer o potencial bioestimulante avaliado em plântulas sob diferentes condições de stress, como o hídrico e nutricional.

Felizmente existem alternativas interessantes à base de algas que poderão apoiar a segurança alimentar global, aumentar a produtividade e atenuar os efeitos de stresses abióticos relacionado com as alterações climáticas, contudo são produtos que necessitam de uma maior disseminação e acessibilidade junto dos agricultores.

→ Leia este e outros artigos na Revista Voz do Campo: edição de junho 2024

Autoria: Florinda Gama, GreenCoLab