“Alto Alentejo, região localizada no centro sul de Portugal, é historicamente conhecida pela sua ligação à agricultura”.

João Rodrigues – Engenheiro Agrónomo

“A região do Alto Alentejo está inserida num clima mediterrânico, caracterizado por verões quentes e secos e invernos curtos e amenos. Contudo, as alterações climáticas têm intensificado os períodos de seca, tornando a disponibilidade de água um dos maiores problemas para a agricultura. A escassez de água afeta particularmente as culturas de sequeiro, que são predominantes na região, como cereais e algumas culturas permanentes. A imprevisibilidade climática também aumenta o risco de colheitas falhadas, o que têm impactos severos na economia local.

Este setor tem desempenhado um papel crucial no desenvolvimento económico e social da região, contribuindo significativamente para o emprego e a manutenção da comunidade.

A agricultura no Alto Alentejo enfrenta uma série de desafios que ameaçam a sua sustentabilidade e, por consequência, a viabilidade económica e social da região. Estes desafios são diversos e incluem tanto fatores ambientais quanto socioeconómicos.

Apesar das oportunidades, que vão surgindo a passos, a agricultura no Alto Alentejo enfrenta várias dificuldades. Uma das principais é a escassez de água, agravada pelas alterações climáticas que têm causado períodos prolongados de seca. Esta situação coloca em risco a viabilidade das culturas de sequeiro e cria desafios para a gestão sustentável dos recursos hídricos.

Além disso, a região sofre de um problema de despovoamento e envelhecimento da população, o que leva a uma falta de mão-de-obra e dificulta a renovação geracional no setor agrícola. A baixa rentabilidade de algumas culturas, combinada com o aumento dos custos de produção desencoraja novos investimentos e inovação.

Apesar dos desafios, existem pontos positivos que destacam o potencial agrícola do Alto Alentejo.

A qualidade dos produtos agrícolas da região, especialmente o azeite e o vinho, são amplamente reconhecidos e valorizados. Esta reputação tem aberto mercados e aumentado as exportações, contribuindo para a sustentabilidade económica da região, falta conseguir o mesmo na parte pecuária.

A implementação de tecnologias inovadoras, como a agricultura de precisão e a utilização de drones para monitoramento de culturas, também está a começar a ganhar terreno, permitindo uma gestão mais eficiente dos recursos e uma melhoria na produtividade.

Já não é ficção e terá que ser apoiada, é um fato. Além disso, os aumentos das práticas de agricultura biológica têm respondido à crescente Política Europeia, por produtos mais sustentáveis e saudáveis. Falta a sua valorização para ser real.

O futuro da agricultura no Alto Alentejo dependerá em grande medida da capacidade da adaptação à realidade, e às políticas agrícolas, tanto a nível nacional como europeu, só assim terão um papel crucial no panorama Nacional. A Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia, com as suas ajudas diretas e programas de desenvolvimento rural, continuará a ser um pilar fundamental para o apoio aos agricultores, mas terá que ser aplicada, se quiser ser eficaz, de encontro ao que o País pede, repartindo com justiça o que cada região necessita, requer trabalho, mas só aplicando medidas concretas localizadas fará efeito porque os solos e as práticas agrícolas em Portugal assim o ditam.

A aposta em projetos de regadio para charcas, barragens e furos, será sempre essencial para garantir a viabilidade de culturas e o pastoreio extensivo em Produção Integrada nas pastagens permanentes e prados temporários que foi deixado cair neste quadro comunitário terá obrigatoriamente que regressar, para manter os regimes extensivos de pastoreio sob coberto de azinheiras e sobreiros.

A pecuária extensiva no Alto Alentejo tem sido, durante séculos, uma atividade central para a economia e cultura desta região. Esta prática tradicionalmente envolve a criação de gado em áreas de pastagem natural, onde os animais pastoreiam em regime extensivo, este modelo tradicional, reflete-se em maneios sustentáveis, utilizando os recursos locais sem a necessidade de grande intervenção humana ou tecnológica.

Os animais pastoreiam em montados, num sistema maioritariamente agro-silvo-pastoril típico da região, composto por sobreiros e azinheiras, que oferece sombra e alimento natural. Este tipo de pastoreio permite um maneio integrado da terra, onde a criação de gado é compatível com a preservação do ecossistema local. A produção de carne, leite, lã e outros produtos animais é realizada de forma sustentável, com baixos índices de dependência de rações e medicamentos.

O investimento em investigação e desenvolvimento tecnológico serão igualmente cruciais para assegurar a sustentabilidade a longo prazo.

Para salvaguardar o futuro da agricultura no Alto Alentejo, é urgente a criação de políticas que incentivem a instalação de jovens agricultores e a modernização das explorações agrícolas. A formação e capacitação de agricultores para a adoção de práticas mais sustentáveis e eficientes também são essenciais.

É igualmente necessário promover uma maior cooperação entre os produtores, através de associações e cooperativas, que possam melhorar o acesso ao mercado e a partilha de recursos. A criação de incentivos fiscais e a facilitação do acesso ao crédito são medidas que podem ajudar a atrair investimento para o sector.

A agricultura no Alto Alentejo é mais do que uma atividade económica, é uma parte vital da identidade cultural e social da região. Ela sustenta empregos, mantém as paisagens rurais e preserva tradições centenárias. O seu papel no desenvolvimento regional é, portanto, incontornável, e o seu futuro deve ser cuidadosamente salvaguardado.

Com um apoio adequado e uma visão estratégica, a agricultura no Alto Alentejo pode não só superar os desafios atuais, mas também tornar-se um exemplo de sustentabilidade e inovação, assegurando o desenvolvimento contínuo desta região”.

Artigo de opinião, autoria: João Rodrigues
Engenheiro Agrónomo