Portugal e Espanha devem concertar posições a nível europeu para defender as características específicas da Agricultura Ibérica. CAP e ASAJA juntaram, em Cáceres, nos dias 18 e 19 de setembro no Complejo Cultural San Francisco mais de 300 agricultores portugueses e espanhóis para debater o mundo rural e alertar para necessidade de os dois países concertarem posições na Europa. Em nome de uma agricultura ibérica mais forte.

O IV Congresso Ibérico Agropecuário e Florestal, uma organização conjunta da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e da ASAJA – Associação Espanhola de Jovens Agricultores, juntou esta quarta e quinta-feira as principais personalidades do mundo rural português e espanhol, em Cáceres, Espanha.Mais de 300 agricultores ibéricos afirmaram a importância de Portugal e Espanha, à semelhança do que acontece noutras regiões da Europa como os países nórdicos e do Leste Europeu, estreitarem relações e trabalharem colaborativamente no setor agrícola para definir estratégias conjuntas, conquistando uma voz mais audível em Bruxelas e maior impacto nas políticas comunitárias.

Na sua intervenção no Congresso, Álvaro Mendonça e Moura, Presidente da CAP, deixando uma palavra de solidariedade para com “todos os agricultores e produtores florestais portugueses que foram afetados pelos recentes incêndios que assolaram o país”, agradeceu também “a importante ajuda que Espanha concedeu no combate aos fogos”. Referindo-se ao quadro de mudança a que assistimos na União Europeia, sublinhou que “nos traz esperança, com a nova Comissão a dar alguns primeiros sinais positivos no que diz respeito à defesa dos agricultores, quando comparados com o trabalho realizado nos últimos anos.” Por isso, defendeu: “Unidas, com posições concertadas e objetivos comuns, a CAP e a ASAJA devem dizer aos seus governos que trabalhem juntos pelo futuro da agricultura.”

Pedro Barato Triguero, Presidente da ASAJA, referiu: “Desafios comuns necessitam de soluções conjuntas. Este congresso, alicerçado na união da CAP com a ASAJA, decorreu perante uma recém-formada legislatura europeia, o que apresenta uma grande oportunidade de mudança pela qual temos de trabalhar, defendendo sempre os interesses da Península Ibérica, mas também do Sul da Europa.”

Portugueses e espanhóis manifestaram total concordância na urgência em garantir preços justos e melhores condições de investimento em toda a cadeia de valor, em promover o desenvolvimento e inovação no setor e em formar os agricultores para a agricultura do futuro, que se prevê cada vez mais tecnológica.

A necessidade de gerir e armazenar de forma mais eficiente a água, as potencialidades da agricultura regenerativa e a oportunidade dos créditos de carbono para a atingir a neutralidade das emissões de dióxido de carbono até 2050 na União Europeia foram igualmente temas de destaque no IV Congresso Ibérico Agropecuário. Neste domínio, CAP e ASAJA concordam com o princípio “poluidor-pagador”, mas reiteram igualmente que o “despoluidor” deve ser recompensado, defendendo o papel preponderante da agricultura enquanto agente de mitigação das alterações climáticas.

Ambas as entidades prometem discutir este assunto junto do regulador europeu, destacando que este sistema confere maior resiliência ao meio ambiente perante fenómenos climáticos extremos, maior disponibilidade de água, maior produtividade agrícola e novos fluxos de rendimento aos produtores agrícolas.

A cidade de Cáceres, reconhecida como património mundial pela UNESCO, foi, assim, nos últimos dois dias, o epicentro do sector agropecuário ibérico. Debates, partilha de conhecimento e reuniões estratégicas marcaram a agenda, destacando-se o compromisso assumido pela CAP e ASAJA de continuarem a construir “pontes” e a promover sinergias na agricultura entre os dois países.

A equipa de reportagem da Revista Voz do Campo acompanhou o Congresso ao longo dos dois dias e na próxima edição de outubro divulgará mais desenvolvimento.