João Serra, vereador da Câmara Municipal, abordou a importância da Quinzena Gastronómica da Aguardente DOC Lourinhã, durante o Seminário Internacional – Aguardentes, Territórios e Sustentabilidade.

Na sua intervenção, o autarca recorda que este evento começou há 13 anos. “Quando iniciámos esta Quinzena, tínhamos cinco objetivos. Hoje, podemos incluir muitos mais, mas desde o início quisemos dar a conhecer a Aguardente DOC Lourinhã e o território, promovendo os seus produtos e unindo esforços com todos os parceiros envolvidos”, diz.

O vereador sublinha o potencial da inovação e a criação de novos produtos edição a edição. Este ano, o evento apresentou 54 experiências gastronómicas, incluindo 10 entradas, 20 pratos principais, 18 sobremesas e 6 cocktails, muitos deles recriados especificamente para a quinzena. Apesar de ser um produto de excelência, a Aguardente DOC Lourinhã enfrenta desafios na promoção, especialmente devido às restrições relacionadas a produtos alcoólicos. Para superar esses obstáculos, João Serra destaca a colaboração com a agência Message in a Bottle e o esforço em integrar a aguardente em diferentes áreas, como a gastronomia, doçaria e novos produtos criativos. “O desafio também é para os novos estudantes e futuros empreendedores”, apela.

Enoturismo como alavanca para o desenvolvimento territorial

João Serra reforçou o potencial do enoturismo como uma alavanca para o desenvolvimento territorial. A Lourinhã, embora ainda em fase de estruturação neste segmento, já apresenta avanços significativos, principalmente através do “storytelling” em torno das suas principais marcas e da Quinzena Gastronómica.

“Temos um segmento que tem crescido muito. Torres Vedras e outros municípios já consolidaram o enoturismo, e nós estamos a fortalecer a oferta como um produto que tem grande potencial de crescimento.” Um dos pilares do sucesso da Quinzena Gastronómica, com a integração do Aguardente DOC Fest, é a colaboração entre municípios e entidades, como Torres Vedras e Peniche, além de instituições nacionais, como o INIAV.

“Este Seminário é a prova de que estamos a trabalhar juntos, a nível nacional, entre o continente e as ilhas. É um orgulho sermos 100% nacionais, com 100% de destilados presentes”, sublinha o vereador João Serra.

Recorde-se que a 13ª Quinzena Gastronómica da Aguardente DOC Lourinhã decorreu entre os dias 8 e 22 de novembro e reuniu 19 restaurantes da região, que apresentaram mais de 40 pratos criados especialmente para harmonizar com a Aguardente DOC. Este evento enogastronómico destaca-se como uma excelente oportunidade para explorar a culinária local e descobrir como a Aguardente DOC Lourinhã pode elevar a experiência gastronómica, seja em pratos tradicionais ou em criações inovadoras.

Aspetos históricos da Aguardente DOC Lourinhã

No âmbito do Seminário Internacional Aguardentes, Territórios e Sustentabilidade, o painel dedicado à Região da Lourinhã e à Aguardente DOC Lourinhã evidencia um produto de excelência enraizado na tradição, mas com um olhar atento para a ciência e o futuro. O painel contou com a intervenção de Pedro Belchior, investigador do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, I.P.), que partilhou a sua experiência de mais de cinco décadas com a aguardente da Lourinhã. Tudo começou em 1970, logo após Pedro Belchior terminar o serviço militar. Foi desafiado pelo diretor do então Centro Nacional de Estruturas Vitivinícolas a investigar a aguardente da Lourinhã, uma região que outrora fornecera aguardente para o Vinho do Porto.

Compreender as características das aguardentes da Lourinhã

“Eu não fazia ideia do que era a aguardente da Lourinhã (…). Descobri que a região já não era produtora de aguardente para o Porto, mas fiquei curioso sobre porque tinha sido tão relevante no passado”, lembra o investigador. O primeiro passo foi compreender as características das aguardentes da Lourinhã e investigar as razões do seu prestígio histórico. Pedro Belchior recorda que iniciou os trabalhos em parceria com a Adega Cooperativa da Lourinhã, aprendendo sobre destilação e técnicas utilizadas na região. “Trabalhámos com aparelhos de destilação por pratos e com alambiques tipo Charanté, semelhantes aos usados no Cognac. Foi essencial basearmo-nos na bibliografia do Cognac para entender como otimizar o processo”, afirma.

A pesquisa focou-se na produção de aguardente a partir de uvas da região e no aperfeiçoamento da destilação. A fermentação era feita sem a introdução de sulfitos, e a aguardente era envelhecida em madeira, permitindo o desenvolvimento de características únicas.

A descoberta do papel da madeira no envelhecimento foi uma etapa crucial. Pedro Belchior visitou a tanoaria Sardinha e Leite, em Vila Nova de Gaia, para aprender sobre a produção de vasilhas de madeira específicas para aguardentes. “Foi uma homenagem à primeira vasilha que usei. Aprendi como se fabricavam cartolas, algo que desconhecia completamente. Utilizámos 12 cartolas para envelhecer aguardentes produzidas no Centro Nacional de Estruturas Vitivinícolas”, conta.

A investigação científica também trouxe descobertas inesperadas. Pedro Belchior e o colega Luís Carneiro identificaram, pela primeira vez, a presença de fucose, um açúcar importante no perfil químico das aguardentes envelhecidas.

“Usávamos cromatografia de papel, que hoje parece algo do tempo da pedra. Por sorte, num cromatograma, notámos uma mancha que nunca tínhamos visto antes. Era a fucose. Foi um momento marcante, fruto do acaso, como muitas descobertas científicas”, sublinha, reforçando ao mesmo tempo que esta descoberta destacou a complexidade química das aguardentes da Lourinhã, diferenciando-as de outras aguardentes vínicas (…).

→ Leia o artigo completo na reportagem especial da 1ª edição do Aguardente DOC FEST na Revista Voz do Campo  edição de janeiro 2025, disponível no formato impresso e digital.

(Re)Assista ao Seminário Internacional – Aguardentes, Territórios e Sustentabilidade: