A Asfertglobal promoveu em fevereiro, na Escola Profissional Agrícola do Fundão, as Jornadas Técnicas da Cereja, um evento focado em apresentar as mais recentes inovações e estratégias para a saúde do solo, resiliência das plantas e soluções sustentáveis para a produção de cereja.
Nelson Matos, Sales Representative da Asfertglobal, deu início à sessão com uma reflexão importante: “mais do que falar de produtos, estamos aqui para falar de conhecimento”, ressaltando que as Jornadas Técnicas tinham como objetivo partilhar informações práticas e experiências. Nelson Matos também expressou a sua gratidão à Escola Profissional do Fundão pelo espaço cedido e à Ecocampo, distribuidor da Cova da Beira, pelo compromisso e apoio. Além disso, agradeceu ainda a Christian Gallegos, consultor especializado chileno, que veio partilhar a sua experiência prática e conhecimento sobre a estratégia de produção de cerejas.
O Solo: A base para o sucesso da produção
A seguir, foi a vez de Pedro Sebastião, Diretor Técnico da Asfertglobal, trazer uma palestra sobre a saúde do solo, destacando que a fertilidade do solo não é apenas uma questão de quantidade de nutrientes disponíveis, mas sim da disponibilidade desses nutrientes para as plantas, influenciada pela presença de microorganismos.
“O solo tem vida. Quando falamos de fertilidade, estamos a falar também da vida microbiana que está à volta das raízes das plantas. É fundamental garantir que os microorganismos do solo estejam presentes para garantir a boa saúde da planta”, afirma o Diretor Técnico da Asfertglobal. O mesmo reforça que a relação entre as raízes das plantas e os microorganismos, como as micorrizas (fungos que se associam às raízes), é crucial para a absorção eficiente de nutrientes e para o fortalecimento das plantas.
A rizosfera, o espaço ao redor das raízes, é onde essas interações acontecem e, como Pedro Sebastião diz, “é o sistema imunitário da planta”, sublinhando que uma raiz saudável, que se associa aos microrganismos, é fundamental para a planta se tornar resiliente e conseguir absorver água e nutrientes de forma eficiente.
Soluções inovadoras para melhorar a qualidade do solo
Pedro Sebastião ainda falou sobre as soluções inovadoras da Asfertglobal, como o uso de prebióticos e probióticos para estimular a vida microbiana do solo. Segundo o especialista, ao aumentar a atividade microbiana no solo, é possível melhorar a disponibilidade de nutrientes, o que resulta numa maior resiliência das plantas e numa produção mais sustentável. “Não se trata apenas de aumentar o teor de matéria orgânica no solo, mas sim de fomentar a vida no solo”, partilha, explicando que a Asfertglobal desenvolveu produtos que contribuem para uma nutrição mais equilibrada e uma agricultura mais sustentável.
Dentro deste contexto, o conceito de sustentabilidade e economia circular também foi destacado como um dos pilares da estratégia da Asfertglobal.
Pedro Sebastião recordou que “num raio de 40 a 50 km da sede da empresa em Santarém, a Asfertglobal estabeleceu parcerias com quatro produtores de cerveja. A fermentação realizada por esses produtores gera um subproduto de grande valor para a Asfertglobal: as leveduras”. Esses microrganismos, particularmente importantes para o microbioma do solo, têm mostrado um grande potencial em melhorar a saúde do solo. Durante quatro anos de testes e investigações, a Asfertglobal avaliou os benefícios dessas leveduras e, em paralelo, iniciou experiências também com microalgas, com o objetivo de utilizar esses ingredientes naturais para enriquecer ainda mais o solo.
Os resultados desses testes levaram ao desenvolvimento de um produto inovador: o SOLEVURE. Com um conceito único, o produto tem demonstrado resultados muito promissores, e a Asfertglobal já o comercializa em vários países, incluindo os 36 mercados internacionais onde a empresa está presente. Além do SOLEVURE, a Asfertglobal desenvolveu outros produtos com o mesmo foco em sustentabilidade e melhoria da saúde do solo. Destacam-se o Kiplant INmass, um biofertilizante que atua como fixador de azoto, e o Kiplant AllGrip, um produto que solubiliza fósforo no solo. Ambos têm a capacidade de otimizar a nutrição das plantas, reduzindo a necessidade de fertilizantes sintéticos e, ao mesmo tempo, mantendo a produtividade das culturas. Isso resulta em uma economia significativa para os produtores e, mais importante, contribui para a preservação ambiental.
Outro produto de destaque mencionado por Pedro Sebastião foi o Kiplant EndoFit, um bioestimulante que visa melhorar a saúde do microbioma do solo, promovendo um solo supressivo e mais equilibrado.
O caso da Quinta da Tapada da Ladeira – Fundão
Coube a Carlos Miguel, da Quinta da Tapada da Ladeira – Fundão, abordar a estratégia de colaboração que há quatro anos estabeleceu com a Asfertglobal. O produtor iniciou a sua intervenção com uma reflexão sobre os cancros bacterianos, um problema que, está inerente ao cultivo da cereja. Carlos Miguel, recordou as dificuldades enfrentadas desde o início do seu projeto, há 8 anos.
“No primeiro e segundo ano, não havia nada, aplicaram-se produtos apenas por prevenção. Só no terceiro ano, os problemas começaram-se a evidenciar (…) as árvores começaram a mostrar sinais de danos, com algumas partes das plantas secas completamente. Aqui a aplicação de produtos manteve-se via foliar e os fosfonatos na rega”, conta Carlos Miguel.
No quarto ano, os cancros bacterianos continuavam a afetar as plantas. Carlos Miguel explicou que, nesse momento, a estratégia adotada pela Asfertglobal foi ajustada com o uso do produto Cuperdem e Kiplant AllGrip, e a introdução de novos produtos, como o Century, aplicados na rega. “O problema estava muito evidente, especialmente na floração, onde as pernadas secavam e o impacto na colheita foi grande”, comenta.
Já no sétimo ano, Carlos Miguel observou uma mudança significativa: “No início da floração, houve uma diminuição de 90% dos casos afetados. As árvores começaram a parar de morrer e as pernadas secas foram muito reduzidas”. Essa melhoria refletiu-se diretamente no vigor dos novos lançamentos laterais e redução das pernadas secas. No final da colheita, as plantas “vestiram-se” novamente e a produtividade aumentou consideravelmente. A estratégia: Aplicação de Cuperdem via foliar na rega; Kiplant AllGrip na rega, fosfanatos de potássio e V/S04 na rega.
Além das ferramentas para combater os cancros bacterianos, Carlos Miguel também partilhou a sua experiência com outra estratégia importante com a Asfertglobal: o aumento da produção e calibres das cerejas, bem como a conservação pós-colheita.
No caso com a variedade “Nimba”, a estratégia incluiu o uso de produtos que melhoraram o calibre das cerejas, garantiram uma uniformidade nos calibres, árvores repletas de fruta e com Brix de 22,2.

Após a apresentação de Carlos Miguel, Nelson Matos, trouxe uma reflexão sobre o que foi discutido. “Todos nós queremos uma solução rápida para os problemas, mas em situações como os cancros bacterianos, a resolução nunca é imediata. As plantas podem aprender a viver com esses problemas (…) O que fizemos, e o que continuamos a fazer, é aprender a conviver com os problemas e encontrar formas eficazes de mitigar os seus efeitos. Mesmo no Chile, onde há mais opções de produtos, os problemas não têm soluções rápidas e imediatas”.
A última intervenção nas Jornadas Técnicas da Cereja foi realizada por Christian Gallegos, consultor agrónomo chileno, que trouxe a perspetiva sobre a estratégia de produção de cerejas.
O consultor começou por referir a grandeza da produção chilena e as particularidades que fazem da produção de cerejas no país um verdadeiro desafio, com foco em qualidade e exportação, especialmente para o mercado chinês.
“O Chile é um dos maiores produtores de cerejas do mundo, com uma área plantada que varia entre 78.000 a 80.000 hectares. A temporada passada, que terminou há apenas 15 dias, resultou numa colheita de 620 milhões de quilos de cerejas, sendo que 95% dessa produção foi destinada à exportação, principalmente para a China (…). o Chile tem uma grande vantagem, pois a produção ocorre fora da temporada de cereja no hemisfério norte, o que permite ao país fornecer o mercado durante meses”.

Durante a intervenção, Christian Gallegos fez também uma análise das variedades de cerejas mais cultivadas no Chile, explicando como a escolha da variedade está intimamente ligada à qualidade e à procura do mercado. O Chile, ao contrário de alguns mercados, concentra-se em variedades específicas que garantem um alto volume de produção e qualidade da fruta. “Quando falamos em milhões de quilos, a “Lapins”, por exemplo, representou 230 milhões de quilos na última temporada”, sustenta o especialista. Um dos maiores desafios para os produtores chilenos é garantir que as cerejas mantenham a sua qualidade durante a sua comercialização, isso implica em produzir frutos firmes, equilibrados em acidez e doçura, com a textura ideal. Como Christian Gallegos explica, “a China é o maior destino, mas exige que as cerejas cheguem em condições impecáveis, sem defeitos, sem fungos, machucados ou falhas no calibre (…). Tudo o que não cumpre os requisitos exigidos é deitado para o lixo”.
Gravação completa da sessão:
Vídeo flash: