Alimentar o mundo de forma sustentável é um dos nossos desafios mais urgentes nas próximas décadas. A carne desempenha um papel fundamental na concretização deste objetivo, sendo uma importante fonte de nutrientes para muitas pessoas em todo o mundo.
A procura global de carne está a crescer e em consequência nos últimos 50 anos, a produção de carne mais do que triplicou. Geralmente existe uma relação positiva entre o consumo de carne e o nível económico, o que significa que com o aumento do rendimento das populações o consumo de carne também aumenta. Esta tendência não se verifica de forma igual em todas as regiões do globo. A nível Europeu a tendência tem sido uma diminuição no consumo de carne, o que se deve essencialmente à pressão social. O consumo de carne tem sido criticado com base nos problemas ambientais e de sustentabilidade associados à sua produção. O consumo excessivo tem igualmente sido alvo de crítica. No entanto, importa referir que nos países com acesso, quase ilimitado a bens alimentares, o consumo excessivo estende-se a muitos outros alimentos.
Portugal, encontra-se em contraciclo relativamente à Europa e tem apresentado nos últimos anos um aumento do consumo de carne. Não obstante o(s) motivo(s) para este aumento, à primeira vista, não são claros. É difícil negar que existe de facto um consumo excessivo de carne, mas quão excessivo? Segundo os dados do INE (2023) o consumo de carne anual per capita é de 118,0 kg, o que significa que cada português consome diariamente 323,3 g de carne. Todos os portugueses, todos os dias sem exceção. É excessivo, mas também parece exagerado. Os dados obtidos pelo INE baseiam-se em valores de carne de animais abatidos (nacionais e importados menos os exportados) para consumo em Portugal. O valor obtido é dividido pela população portuguesa, e não contempla, por exemplo, o consumo pelos turistas. Por outro lado, também não quantifica as partes edíveis, nem considera as várias perdas ao longo da cadeia alimentar, isto é, no retalho, na distribuição e nos lares portugueses. Tendo em conta o mencionado vale a pena olhar para estes dados com mais atenção e tentar perceber melhor qual o real consumo de carne a nível nacional.
O FeedInov, laboratório colaborativo que atua no domínio da ciência animal, debruçou-se sobre este tema, e procurou algumas respostas para as questões levantadas.
Em primeiro lugar juntamos aos 10 467 366 portugueses residentes, os turistas, avaliando igualmente a duração da sua estadia em Portugal (+ 142 794 por dia todos os dias do ano; Turismo de Portugal, 2024).
Em segundo lugar, partindo dos valores disponibilizados pelo INE (2023) de carne de reses abatidas quantificamos as partes edíveis (INSA, 2023).
Por fim avaliarmos as diferentes perdas que ocorrem ao longo da cadeia alimentar, i.e., no retalho, nos serviços alimentares e nos agregados familiares, respetivamente 2%, 5% e 11% (Foodwaste, 2021), no total de carne e por espécie animal (carne de bovino, carne de aves, carne de suíno, carne de ovinos e caprinos). Excluiu-se deste estudo as outras carnes e as miudezas, por falta de informação relativamente aos desperdícios ao longo da cadeia alimentar, o que significa que o total de carne consumida per capita por ano das categorias consideradas é de 111,2 kg (retirando ao valor total 1,5 kg de outras carnes e 5,3 kg de miudezas) (…).
→ Leia este e outros artigos completos na Revista Voz do Campo – edição de maio 2025, disponível no formato impresso e digital.