A produção de mirtilo (Vaccinium corymbosum L.) tem vindo a aumentar nos últimos anos devido, em grande parte, aos seus atributos qualitativos amplamente apreciados, nomeadamente a nível nutricional e sensorial (Gilbert et al., 2014; Kalt et al., 2020; Brazelton et al., 2024).
De facto, este fruto constitui uma excelente fonte de compostos bioativos com elevado potencial antioxidante, estando o seu consumo associado a diversos efeitos benéficos para a saúde (Silva et al., 2020; Duan et al., 2022). Além destas características, a sua firmeza é valorizada por estar diretamente relacionada com a resistência durante o transporte, tempo de prateleira e às colheitas mecânicas (Gilbert et al., 2014; Cappai et al., 2018). A aplicação de bioestimulantes representa uma alternativa sustentável no contexto das alterações climáticas, podendo contribuir para a melhoria dos atributos produtivos e qualitativos do mirtilo. Estes compostos definem-se como “substâncias ou microrganismos aplicados às plantas com o intuito de fomentar o aumento da eficiência nutricional, tolerância ao stresse abiótico e/ou melhoramento das suas características qualitativas, independentemente do seu teor em nutrientes” (Du Jardin, 2015).
Entre os vários grupos caracterizados, podem-se encontrar bioestimulantes à base de algas marinhas e de glicina-betaína (GB), entre outros.
Os extratos de algas apresentam na sua composição diversos compostos fenólicos, vitaminas, polissacáridos, aminoácidos, pigmentos fotossintéticos e hormonas vegetais (Khan et al., 2009; Kadam et al., 2015; Aryee et al., 2018; Goñi et al., 2020; Stirk et al., 2020). Por sua vez, a GB trata-se de um composto quaternário de amónia, anfótero e eletricamente neutro, podendo ser encontrado em várias espécies vegetais (Sakamoto e Murata, 2002; Chen e Murata, 2008; Khan et al., 2009). A GB mantém a integridade das membranas celulares através da estabilização das estruturas de complexos proteicos e enzimáticos (Sakamoto e Murata, 2002). Além disso, sendo um osmorregulador, atua na proteção dos tecidos vegetais através do ajustamento osmótico, contribuindo para a eliminação de espécies reativas de oxigénio e para a proteção do aparelho fotossintético (Wani et al., 2013). As propriedades destes bioestimulantes permitem-lhes induzir diversas respostas fisiológicas nas plantas, nomeadamente o aumento da produção, da qualidade e tempo de prateleira dos frutos, assim como o aumento da resistência a stresses bióticos e abióticos (Du Jardin, 2015).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o impacto da aplicação foliar em pré-colheita de dois bioestimulantes, à base de algas castanhas da espécie Ecklonia maxima (EM) e de GB, na produtividade e qualidade (peso, firmeza e sólidos solúveis totais (SST)) de mirtilos da cultivar ‘Draper’, instalados em 2012.
Este ensaio experimental realizou-se em Vilarandelo, concelho de Valpaços, no ano de 2023. Para tal, foi efetuada a aplicação dos seguintes tratamentos (T1 a T6): 4 L ha-1 EM (T1), 2 L ha-1 EM (T2), 4 kg ha-1 GB (T3), 2 kg ha-1 GB (T4), 4 L ha-1 EM + 4 kg ha-1 GB (T5) e 2 L ha-1 EM + 2 kg ha-1 GB (T6). Foi também aplicado um tratamento controlo (T0), com água. Os tratamentos realizaram-se em diferentes estados fenológicos: plena floração, início de crescimento dos frutos e início da coloração dos frutos (Figura 1) para ambos os compostos.

A aplicação foliar de 4 L ha-1 EM (T1) contribuiu para o aumento significativo da produção de mirtilos por planta, com um aumento de 52% relativamente ao controlo (T0) (Quadro 1). A aplicação de algas, devido ao seu teor em poliaminas, pode ter favorecido a germinação do pólen e, consequentemente, o vingamento dos frutos (Ovalle et al., 2019). Além disso, os compostos fenólicos, incluindo os florotaninos, os polissacáridos e as hormonas presentes nas algas são responsáveis pelo aumento do crescimento das culturas através de uma melhor absorção de nutrientes (Stirk et al., 2020; Deolu-Ajayi et al., 2022), podendo ter contribuído para o aumento da produção por planta nesta cultura.


Médias (n=50) ± desvio-padrão
Os mirtilos tratados com a dose alta de EM (T1) e com a combinação dos dois bioestimulantes (T5 e T6) apresentaram um peso 12%, 15% e 13%, respetivamente, superior ao T0 (Figura 2). A presença de polissacáridos e hormonas, como as auxinas, citoquininas, ácido abscísico e giberelinas, presentes nos extratos de algas, que podem ativar diferentes vias biossintéticas e interagir entre elas, regulando as vias hormonais (Stirk et al., 2020; Deolu-Ajayi et al., 2022) podem ter contribuído para o aumento do peso dos frutos.
Além disso, o papel da GB no aumento do peso pode estar relacionado com uma utilização mais eficiente da água, através do ajustamento osmótico, com o aumento da atividade de enzimas envolvidas na síntese de sacarose, com o aumento da concentração de hormonas e com a regulação e expressão de genes relacionados com a expansão e divisão celular (Zhang et al., 2019; Ibrahim et al., 2023) (…).
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Autoria: Tiago Lopes, Ana Paula Silva, Carlos Ribeiro, António Vicente, Berta Gonçalves
Tiago Lopes (Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), Inov4Agro, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Centro de Engenharia Biológica (CEB), LABBELS, Universidade do Minho).
Ana Paula Silva (Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), Inov4Agro, Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro).
Carlos Ribeiro (Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), Inov4Agro, Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro).
António Vicente (Centro de Engenharia Biológica (CEB), LABBELS, Universidade do Minho).
Berta Gonçalves (Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), Inov4Agro, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro).
Agradecimentos
Tiago Lopes agradece à FCT, MCTES e FSE pela Bolsa de Doutoramento 2021.07171.BD. Este trabalho é apoiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito dos projetos UIDB/04033/2020 (CITAB), LA/P/0126/2020 (Inov4Agro), UIDB/04469/2020 (CEB) e pelo Laboratório Associado LABBELS (LA/P/0029/2020).

