O setor agrícola atravessa enormes desafios, nomeadamente no que respeita a escassez de recursos, ocorrência de fenómenos extremos associados às alterações climáticas, exigências regulamentares e, não menos importante, exigências do consumidor por produtos mais nutritivos e livres de resíduos químicos.

Deste modo, surge a necessidade da utilização de ferramentas que auxiliem na construção de sistemas agrícolas mais resilientes e sustentáveis.

Os bioestimulantes têm-se posicionado como aliados estratégicos nesta missão, uma vez que vários estudos têm demonstrado o seu papel promissor no aumento da tolerância das culturas a stresses abióticos (falta de água, temperaturas elevadas, etc.) e também a stresses bióticos (pragas e doenças). Esta capacidade dos bioestimulantes permite uma maior eficiência no uso dos recursos, nomeadamente água e nutrientes, e menor dependência de fitofármacos de síntese. No entanto, há ainda um conjunto de aspetos que importa esclarecer para maximizar a utilização e a eficácia dos mesmos. Neste artigo, um maior enfoque será dado à aplicação dos bioestimulantes para o controlo de doenças fúngicas, como estratégia complementar para a proteção integrada das culturas.

Bioestimulantes – o que são e como funcionam?

De acordo com a European Biostimulants Industry Council (EBIC), os bioestimulantes são definidos pela sua função agronómica e não pela sua composição, uma vez que podem abranger uma vasta gama de substâncias. Particularmente, um bioestimulante pode ser qualquer substância ou microorganismo que quando aplicado às culturas melhora a eficiência na absorção de nutrientes, aumenta a tolerância a diferentes tipos de stresses, aumenta a produtividade e/ou a qualidade dos produtos. Estes podem ser classificados como microbianos ou não microbianos (Regulamento (UE) 2019/1009), sendo que as principais categorias incluem extratos de algas, ácidos húmicos e fúlvicos, hormonas vegetais, hidrolisados de proteínas e microrganismos benéficos, com efeitos complementares na performance das plantas (Wang e Carvalho, 2018) (Fig. 1). Os extratos de algas estão entre os bioestimulantes que mais atenção receberam, por parte da investigação, há cerca de duas décadas atrás. Atualmente, os estudos têm-se debruçado principalmente sobre outras tipologias, nomeadamente sobre os bioestimulantes microbianos (Corsi et al., 2022). Estes últimos, podem incluir na sua composição microrganismos benéficos vivos (ex. bactérias e fungos), que visam contribuir para aumentar a biodisponibilidade de nutrientes na rizosfera, facilitando a absorção dos mesmos por parte da planta – sendo assim designados como biofertilizantes. Os bioestimulantes microbianos podem ainda ter outras aplicações, nomeadamente serem usados como agentes de biocontrolo (incluindo microrganismos vivos ou as suas formulações), conferindo uma proteção das culturas a determinadas pragas ou doenças.

Figura 1. Principais categorias de bioestimulante e os seus benefícios para as culturas

Bioestimulantes como aliados para reduzir a aplicação de fungicidas de síntese

A aplicação de bioestimulantes pode contribuir para a redução na aplicação de fungicidas químicos de síntese, uma vez que alguns destes compostos são capazes de desencadear respostas de defesa semelhantes às induzidas por patógenos, levando à ativação de mecanismos de defesa, incluindo síntese de fitoalexinas, lignificação da parede celular e ativação de enzimas do sistema antioxidante. Este fenómeno, conhecido como resistência sistémica induzida, contribui para um estado de “pré-alerta” da planta, permitindo-lhe reagir de forma mais rápida e eficaz aquando da ocorrência de uma doença (funcionando como uma espécie de vacina).

Oportunidades e desafios

O uso de bioestimulantes é uma ferramenta incontornável para fazer face aos desafios ao setor agrícola acima indicados. Apesar dos resultados promissores, a eficácia dos bioestimulantes depende da cultura, formulação, dose, modo de aplicação, condições edafoclimáticas, entre outros fatores. Deste modo, é fundamental otimizar experimentalmente protocolos de aplicação dos mesmos, tendo por base conhecimento científico para que se possam apresentar no mercado soluções transversais e eficazes. Mais ainda, a aplicação dos bioestimulantes deverá ser sempre complementada com um conjunto de boas práticas agrícolas, nomeadamente com o uso de cultivares mais tolerantes a pragas e doenças, rotação de culturas, promoção da biodiversidade, etc. Os bioestimulantes devem ser, assim, encarados como ferramentas de apoio a uma agricultura sustentável, com foco na saúde do solo, da planta e do ecossistema agrícola.

→ Leia este e outros artigos completos na Revista Voz do Campo  edição de junho 2025, disponível no formato impresso e digital.

Autoria: Susana M. P. Carvalho*, Tânia R. Fernandes

Autoria, Referências Bibliográficas e Agradecimentos

Autoria: Susana M. P. Carvalho*, Tânia R. Fernandes

GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável & Inov4Agro. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto – DGAOT.
*susana.carvalho@fc.up.pt

Referências Bibliográficas

Agradecimentos: Projeto I&D ‘Botrytis-XTalk’ cofinanciado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Ref. PTDC/ASP-PLA/4478/2021). Coordenação: Susana Carvalho (PI); Tânia Fernandes (Co-PI); Parceiros do projeto: Faculdade de Ciências da Universidade do Porto; Universidade de Birmingham (Reino Unido); Duração: janeiro 2022 – junho 2025; Financiamento Global: 240 mil euros. Unidade de I&D ‘GreenUPorto – Centro de investigação em Produção Agroalimentar Sustentável’ cofinanciada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia através do Programa Plurianual de Financiamento UID 05748.


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