O ano de 2022 tem vindo a revelar-se um dos mais desafiantes dos últimos anos, para o setor do azeite em Portugal.

Produção

A nível da produção, sendo um ano de contrassafra, o que representa sempre uma quebra na produção de azeitona, esta campanha está a ser também negativamente impactada por vários problemas climáticos e fitossanitários, com grande repercussão quer na quantidade de azeitona quer na sua qualidade. Podemos destacar as elevadas temperaturas na altura da floração na Primavera, que muito prejudicaram o vingamento dos frutos, e a seca severa durante a maior parte do ciclo produtivo, que afetou particularmente os olivais de sequeiro. Mas os problemas não se ficam por aí, pois o aumento significativo de todos os fatores de produção (energia, combustíveis, fertilizantes, etc.), decorrentes da guerra na Ucrânia, bem como a escassez de mão de obra tem lançado dificuldades suplementares aos olivicultores. Em resultado de todos estes fatores, estima-se que a quebra de produção em Portugal na presente campanha 2022/2023 seja da ordem dos 30 a 40%, sendo que em algumas regiões de olival tradicional essas quebras serão certamente superiores, ou seja, uma produção total que poderá atingir valores da ordem dos 140.000 – 150.000 toneladas.

Ao nível dos restantes países produtores europeus, como Espanha ou Itália, o cenário é semelhante. À exceção da Grécia, os restantes países estimam quebras acentuadas na sua produção, com especial relevo para Espanha, que é o maior produtor de azeite do mundo, e onde se estima uma quebra de produção que pode chegar a 50%, segundo algumas previsões.

Preços

A significativa quebra de produção de azeite, bem como o aumento dos fatores de produção, tem pressionado de forma muito expressiva os preços do azeite na origem. Em relação a Novembro de 2021, o preço do azeite na origem aumentou, em média, mais de 50%, para valores que rondam atualmente os 5,00 euros/kg.


Consumo

O consumo de azeite em Portugal tem-se apresentado estável nos últimos anos, com uma ligeira tendência para a queda. Este fenómeno não é exclusivo de Portugal, passa-se o mesmo em todos os principais países produtores europeus. Essa tendência apenas foi contrariada no ano de 2020, em que se verificou um aumento de consumo de azeite que se atribui a um maior aumento do consumo no lar, devido ao lockdown e ao facto de as pessoas se preocuparem mais com uma alimentação saudável.

Para os próximos meses prevê-se uma redução do consumo de azeite, devido ao aumento do preço do azeite na origem e ao aumento de todos os custos de operação, que mais tarde ou mais cedo terão de ser refletidos no preço final do azeite para o consumidor final. Também não podemos esquecer que devido ao aumento galopante da inflação, o real poder de compra das famílias é cada vez menor, pelo que é quase certa uma quebra de consumo de azeite, que se manterá ao longo de 2023.


Exportações

O perfil das exportações nacionais de azeite alterou-se bastante nos últimos anos. Até mais ou menos 2010, Portugal exportava essencialmente azeite embalado e o nosso principal mercado de destino era o Brasil. Atualmente, as exportações de azeite a granel com destino a Espanha e Itália representam mais de 65% do total das exportações nacionais. Em 2021, das cerca de 230.000 toneladas de azeite exportadas por Portugal, mais de 150.000 toneladas (66%) foram exportadas a granel, para Espanha (112.000 t, 49% do total) e para Itália (40.000 t, cerca de 17%).

Nas exportações de azeite embalado, com marca e maior valor acrescentado, continua a destacar-se o mercado brasileiro, que representa aproximadamente 25% das nossas exportações totais de azeite, ou seja, em 2021 cerca de 58.000 toneladas.

Apenas 3 mercados de destino – sendo que para 2 destes destinos se exporta azeite a granel, sem valor acrescentado – absorvem mais de 90% das exportações totais de azeite, sendo exatamente esta elevada concentração um dos principais desafios do sector. É preciso investir em promoção, é preciso criar valor para a origem Portugal e para as marcas de azeite nacionais, para podermos diversificar os mercados e chegar a mais consumidores.

Autor:
Mariana Vilhena de Matos
Secretário-geral da Casa do Azeite – Associação do Azeite de Portugal

→ Leia o artigo completo na edição de dezembro de 2022.