Odete Gonçalves Presidente da Meltagus“Este ano sem dúvida é um ano muito preocupante, temos tido quebras a nível nacional, mas aqui na nossa região podemos apontar uma redução ou uma quebra na ordem dos 60 a 80%, temos inclusive apicultores que este ano não vão fazer extração simplesmente, portanto é um ano muito complicado para o setor e com quebras muito acentuadas.

Nós por norma antes de começar a altura da extração do mel já temos a agenda cheia, mas neste momento posso dizer que temos apicultores que fizeram a marcação mas no entanto temos ainda muitas vagas infelizmente, o que é um sinal um sinal negativo.

Além disso aqueles apicultores que fizeram já a marcação para a sua extração, no ano passado marcavam 2 ou 3 dias, este ano têm uma manhã ou um dia portanto é outro sinal que a quantidade que vamos trabalhar vai ser muito inferior.

Em abril deste ano tivemos um mês completamente diferente do habitual, com uma seca e temperaturas muito elevadas e a humidade noturna não assentou e isso fez com que as plantas não tivessem néctar, portanto temos pouco mel. A nível do pólen que é outro produto da colmeia, temos uma quebra do pólen na ordem dos 60% também. A questão das temperaturas elevadas é sem dúvida a principal causa, aliado a isso temos ainda a questão da inflação de tudo o que é tratamentos apícolas de alimento, de complemento alimentar isso porque num ano em que temos pouco néctar no campo as abelhas têm que se alimentar e como tal nós temos que ajudar as abelhas.

Os apoios na apicultura simplesmente não existem, a apicultura no anterior quadro tinha uma migalha de apoio, com este PEPAC nós tínhamos esperança que houvesse aqui uma melhoria ou um trabalho feito no sentido em que houvesse apoios ao setor da apicultura, mas não se verificou, os apicultores lutaram, manifestaram-se e mostraram a preocupação que tínhamos perante este setor e quando saiu o PEPAC verificámos que efetivamente não há nada, a apicultura foi excluída. Outro exemplo, foi ainda esta semana anunciado apoios à agricultura para fazer face às dificuldades da seca e também da inflação e mais uma vez a apicultura está excluída desse apoio.

Por mais que tenhamos demonstrado a nossa voz perante quem governa o nosso país, não temos sido ouvidos.

Quando nós falamos da apicultura parece-me a mim que estamos a falar apenas de uma importância económica ao nível do mel, mas aqui a apicultura é muito mais do que isso, estamos a falar de um setor económico para a região e para o país importante para a manutenção da biodiversidade, a manutenção da vigilância da floresta que é o que nós fazemos também, e isso é esquecido.

O ideal seria efetivamente haver um apoio à semelhança daquilo que está a acontecer atualmente em Espanha, estamos a falar de uma média e um apoio na ordem dos 800 EUR por apicultor portanto como é que nós conseguimos competir com os vizinhos quando eles têm esse apoio e nós não os temos, nós precisamos de um apoio de forma imediata, não sendo possível esse apoio financeiro desta forma considerando que o PEPAC está fechado, nós consideramos que pelo menos merecemos e devemos ter o apoio ao alimento ou ao açúcar por exemplo à semelhança daquilo que aconteceu há alguns anos quando houve a seca”.

Meltagus – Associação de Apicultores do Parque Natural do Tejo Internacional
• Extrato de entrevista concedida à RTP