A ACOS, enquanto associação de agricultores, tem consagrado nos seus estatutos “o desenvolvimento da agricultura, da pecuária, da floresta, da agro-indústria e de todas as actividades do meio rural, nos seus aspectos científicos, técnicos e socioeconómicos e a defesa dos interesses dos seus associados.”

“É, portanto, na qualidade de Presidente da ACOS e da Comissão Organizadora da Ovibeja que aproveito esta ocasião para apresentar alguns temas que impactam a nossa actividade agrícola, uns de natureza técnica, económica ou social, e outros relacionados com o modelo organizativo dos serviços do Ministério que nos tutela.

A nossa agricultura debate-se com o fenómeno das alterações climáticas, cujas consequências se agravam a cada ano que passa, constituindo, assim, um amplificador dos riscos associados à nossa actividade.

Sem água não há vida, sem água não há biodiversidade, sem água não há produção de alimentos. A escassez de água leva ao abandono dos campos, à cessação da actividade agrícola e ao caminho para a desertificação. E, o que nos indicam os dados climáticos, é que a tendência será para uma menor pluviosidade e mais irregular, estando o nosso território cada vez mais exposto a fenómenos extremos e imprevisíveis. Os anos de seca serão mais frequentes e com períodos cada vez mais alargados.

Parece, portanto, evidente a necessidade de construção de mais reservatórios de água no Sul de Portugal. Por outro lado, a ideia da criação de transvases, trazendo água das regiões a norte, onde a pluviosidade é bastante superior, para o Sul, ganha cada vez mais consistência e defensores. Haverá certamente impactos ambientais, económicos e sociais a avaliar, mas é urgente a definição de uma política nacional e regional de recursos hídricos para Portugal.

Nesta estratégia tem todo o cabimento a criação de pequenos regadios para apoio ao sequeiro – onde a pecuária extensiva tem a sua grande expressão – o qual, nunca poderemos esquecer, ocupa aproximadamente 85% da Superfície Agrícola Utilizada do Alentejo. É fundamental manter esta actividade económica sob pena de aumentar, o já de si acentuado despovoamento, em todo este vasto território rural.

De uma vez por todas, têm que ser criadas as condições, para atrair e manter os mais jovens. Além do emprego, acresce a necessidade de termos bons serviços de saúde, boa qualidade de ensino, uma diversificada oferta cultural e acesso fácil às novas tecnologias.

Para que isto se torne realidade, é fundamental investimento público, sendo, portanto, imprescindível que a nossa administração e o Governo que Vossa Excelência lidera acreditem na sua necessidade e o incluam nos programas de financiamento futuros, a bem duma verdadeira coesão territorial.

Falando mais concretamente do regadio da nossa zona, nomeadamente a partir do EFMA, também a necessidade de mais água para a agricultura se revela fundamental, até porque a água de Alqueva não é ilimitada. De referir que a quota de água fixada para a agricultura em 590 hm3 deverá ser revista (uma vez que já é insuficiente para a actual área abrangida pelo EFMA), a fim de fazer face aos novos blocos de rega em projecto, à cedência de água a albufeiras pré-existentes da nossa região e de outras regiões adjacentes, e à inclusão dos regadios precários, problema que urge resolver”.

Parte da intervenção do Eng. Rui Garrido, Presidente da ACOS, na sessão inaugural da 40ª Ovibeja.