A produção Resíduo Zero trata-se de um método produtivo que combina soluções químicas com soluções físicas e biológicas, num método de produção integrada das culturas, com o objetivo de obter um produto livre de resíduos e pesticidas.

E logo aqui não estamos a afirmar que não são usados quaisquer produtos agroquímicos, estamos sim a garantir que no final do ciclo produtivo os alimentos estarão isentos de resíduos.

Atualmente vivemos na pressão da intenção de reduzir o uso de pesticidas na União Europeia em 50% até 2030, e assiste-se à saída do mercado de cada vez mais substâncias ativas e com a indústria obrigada a reduzir o perfil toxicológico dos produtos fitofármacos, a capacidade de adaptação dos produtores a esta nova realidade ditará a sua capacidade de sobrevivência num mercado cada vez mais exigente e global. Paralelamente, lidamos com pragas e doenças cada vez mais resistentes, com alterações climáticas iminentes que condicionam não só a eficácia e degradação dos produtos como com ciclos de vida das pragas diferentes.

E, no âmbito deste tema e da nossa preocupação constante por trazer cada vez mais informação e conhecimento para todos os intervenientes do setor hortícola, está a decorrer desde dezembro até final de janeiro (todas as terças-feiras), na HORPOZIM, a 3ª edição “Tertúlias Resíduo Zero”, materializando-se a constante procura da segurança alimentar na fileira Hortícola. As diretivas comunitárias encaminham a produção de alimentos para a ausência de resíduos, mas como o futuro é já amanhã, desafiamos o setor a antecipar a vulgarização do resíduo zero, não por obrigação de certificação, mas como o assegurar da sustentabilidade da atividade hortícola no âmbito ambiental, social e não descurando o económico-financeiro.

Se porventura no passado, a preocupação se restringia ao cumprimento do LMR (limite máximo de resíduo) permitido por lei, numa prática de agricultura convencional, hoje as práticas evoluíram, numa luta integrada com o objetivo de combate a infestantes, pragas, doenças e tudo o que possa condicionar as culturas, utilizando luta física (armadilhas), biológica (predadores naturais), biotecnológica (bactérias e micro-organismos multiplicados em laboratório), bio estimulantes de precisão, e uma nutrição cada vez mais especializada.

O domínio de áreas de conhecimento como o funcionamento da Rizosfera, promovendo a simbiose de microrganismos com as raízes das plantas e da Filoesfera, enquanto habitat microbiano determinante na capacidade de as plantas resistirem a ataques de fatores bióticos (biológicos) ou abióticos (ambientais), é já uma prática corrente na nossa área de Influência. O nível de conhecimento destes fatores aliado à utilização de instrumentos de precisão para controlo da rega, análise do solo e da água, e em espaço confinado (estufas) o controlo ambiental de temperatura e ventilação bem como a estanquicidade à entrada de pragas e contaminações cruzadas, permitem o integral domínio das condições de produção. E este esforço tem de ser ao nível de toda a fileira, pois tudo começa na multiplicação da semente até à prateleira: se a escolha de variedades é meio caminho andado na necessidade de sanidade vegetal, se plantas bem nutridas estão menos expostas a doenças, se solos supressivos são o sonho de qualquer agricultor, se a disponibilidade/racionamento da água evita stresses de vários níveis, reunimos todos os meios para a produção de qualidade.

Se o Resíduo Zero tem futuro?

Claro que sim! Aliás, o Resíduo Zero é já o presente, desde que compreendido que será sempre a integração de várias estratégias que conciliam os diferentes meios de luta e com o objetivo de alcançar produtos agrícolas cada vez mais inócuos e nutricionalmente mais ricos.

O desafio para o agricultor é grande e estará para além da qualidade visual e quem por tradição sempre produziu produtos que o consumidor reconhece por distinção organolética, privilegiar o sabor não descurando tudo o resto é atingir a perfeição!

Autoria: Rita Fernandes – Técnica da Horpozim

→ Leia a reportagem completa sobre o Resíduo Zero na Revista Voz do Campo: edição de janeiro 2024